Os amigos do deputado Moisés Diniz (PCdoB) costumam chamá-lo carinhosamente de ‘poeta’. O apelido não é sem razão. Moisés empresta um tom poético aos seus discursos no plenário da Aleac. Não é à toa que foi o líder governista durante a gestão do ex-governador Binho Marques (PT) e continua na árdua função no atual governo de Tião Viana (PT). Talvez porque os executivos acreanos confiem no poder de convencimento das suas palavras. Mesmo os opositores mais renhidos do governo, depois de calorosos e, às vezes, radicais debates, respeitam a capacidade de oratória do líder.
Moisés Diniz fez da palavra o seu ofício. Começou a vida adulta como irmão marista pregando o Evangelho de Jesus Cristo. Inconformado com os resultados práticos da pregação mística partiu para o movimento sindical, apesar de manter a sua fé intacta nas coisas transcendentais. Quis emprestar aos trabalhadores o seu dom de construir com as palavras o diálogo e o entendimento. Expandiu a sua atuação para a política se tornando vice-prefeito de Tarauacá e, posteriormente, deputado estadual e líder do governo.
Mas apesar da sua dedicação à política, Moisés jamais abandonou a literatura. Além da alquimia que faz entre as duas artes no plenário da Casa Legislativa acreana, publicou quatro livros, Exclamações Populares, Bandeira Gêmea, Palestina e O Santo de Deus. Escreve diariamente no seu blog e prepara a publicação de uma obra sobre Maria Madalena. Para Diniz a escrita é tão essencial quanto o ar que respira ou o fluxo do sangue que corre nas suas veias. Agora, Moisés Diniz recebeu a justa indicação para ser mais um imortal da Academia Acreana de Letras. Afinal poucos acadêmicos vivem tão intensamente das palavras como ele.
Indicação da Academia
Moisés Diniz fala da importância do reconhecimento do seu trabalho literário. “O meu pai faleceu aos 74 anos sem saber assinar o nome. Para retirar a sua aposentadoria de soldado da borracha em Cruzeiro do Sul usava a digital. Então um filho de seringueiro chegar a Academia tem tanta importância quanto um mandato eletivo. A única diferença é que o mandato é uma conquista de muitas pessoas e a Academia é um esforço pessoal. A instituição que mais agradeço é a Congregação dos Irmãos Maristas que me despertou o gosto pela leitura”, comemorou.
Política, religião e literatura
Os três temas sempre estiveram presentes na vida do parlamentar. “Para escrever o livro O Santo de Deus voltei às páginas da Bíblia. Quando me tornei marxista tive que abandonar a espiritualidade. Concentrei-me mais em literatura materialista. Mas depois percebi que se a gente não tiver algo além do palpável, continuamos vazios. A experiência de escrever esse livro foi como se tivesse arrancando um anjo de dentro de mim. Passei 15 anos na Igreja Católica acreditando na sua exegese e temendo o inferno. De repente, larguei tudo isso e fui para o outro lado da vida materialista. Escrever o livro me proporcionou o reencontro com o meu ser religioso. Isso me ajudou a ser mais equilibrado no jogo da vida. E perceber que é necessário respeitar o contraditório”, salientou.
Marxismo versus misticismo
Indagado sobre a contradição de ser um comunista preocupado com assuntos transcendentais, Moisés Diniz ponderou: “Quando entrei no PCdoB há 26 anos uma das condições para ser comunista era não acreditar em Deus. Pensei que isso era um problema porque eu acreditava em Deus. Com o passar do tempo fui me distanciando da religião e de Deus. Mas com a maturidade comecei a pensar filosoficamente na existência de uma Força que ninguém viu. E que mesmo assim tem tanta força na humanidade a milhares de anos. Mesmo antes das religiões tradicionais como o judaísmo, o islamismo, o hinduísmo os povos indígenas já adoravam o Espírito Transcendente. Isso é muito forte na humanidade. Como vou negar algo tão forte?”, indagou.
Para o novo acadêmico a fé ajuda aos seres humanos. “Acho que a idéia de Deus encanta a humanidade. Se colocarmos na balança os crimes hediondos e os assassinatos em massa da Inquisição e das Cruzadas de um lado e, no outro prato, a esperança das pessoas que acreditam que se não matarem, se não roubarem, não estuprarem e se forem bons terão o paraíso, constatamos que isso tem protegido milhões de homens da barbárie e do sofrimento. Acho extremamente positiva a idéia de Deus como um fator de proteção da própria vida material”, deduziu.
Inspiração acadêmica
A chegada à Academia Acreana de Letras deverá provocar mudanças na vida do parlamentar. “Vou me preocupar mais com a minha escrita. Isso me levará a ir me desligando lentamente da política parlamentar porque quero me preparar para a militância literária. Preciso de mais tempo para escrever. Vou trabalhar para no dia 12 de dezembro de 2012, que é o dia que o mundo se acaba de acordo com a mitologia maia, lançar o meu novo livro”, destacou.
Moisés fala com entusiasmo sobre a nova obra literária que está elaborando. “É uma espécie de mistura entre a vida de Maria Madalena no Oriente Médio com a nossa grande América do povo maia. A obra entrelaça as culturas amazônicas com a da Palestina. É um romance, mas tenho que me dedicar muito porque estou estudando todos os Evangelhos Apócrifos de Madalena, de Tomé e de Judas. Na verdade são mais de cem Evangelhos que a Igreja retirou da lista para manter apenas os Evangelhos canônicos. Também estou estudando a história do povo maia. Portanto, não é uma ficção em que sento e a minha imaginação voa. Mas uma obra que tem dados da história real de dois povos”, revelou.
Política e literatura
Questionado sobre o que acha mais difícil entre fazer política e literatura, Moisés responde: “É mais difícil a política porque a gente passa uma idéia para o povo que não é a verdadeira. Aceitamos situações pragmáticas que angustiam o coração. Somos parte de um grupo político e, às vezes, temos que nos calar pela coletividade. A política é um lugar de destruir seres humanos. O rosto dos políticos em geral não é de pessoas felizes. Apesar de muitos terem patrimônio e enriquecerem, mas se olharmos mais de perto é uma vida muito carregada. É como se tivesse que ter uma pele de aço. É duro ver sem-tetos ocupando uma área e ter que estar ao lado do Estado para desalojá-los senão cria uma onda de ocupação. Na verdade, sabemos que se tem ocupação é porque existe necessidade. Esses são momentos que me angustiam muito na política. Nessas horas vejo que me distancio do homem que eu quis ser no sentido verdadeiro. Quero dizer que vivo situações que não condizem com o que pede o meu coração”, lamentou.
Novos projetos de vida
Moisés se prepara para percorrer novos caminhos. “Talvez mais um mandato ou encerrando o atual e vou me distanciar. Estou me organizando financeiramente porque tenho uma família para sustentar e não serei hipócrita de não dizer que tenho um padrão de vida. Quero fazer um doutorado. Acho que dá para trabalhar só na literatura. Dentro de 120 dias terei um site para vender os meus livros e já contratei a tradução para inglês e espanhol do Santo de Deus para que as pessoas possam comprar na internet. Também vou transformar a obra em ebook. Vou incluir livros regionais de outros autores, biojóias, artesanato indígena e música no site”, contou.
Quanto à possibilidade de se tornar presidente da Aleac, Moisés resume: “não é algo que me encante. Mas se lá na frente houver um entendimento das forças política e se eu for convidado pelo conjunto da Frente Popular e a anuência da oposição é claro que vou exercer a função. Mas não farei nenhum esforço por isso”, finalizou.