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O que é a linguagem?

O interesse pela linguagem data da antigüidade clássica. Tal interesse se apresenta, na Grécia, no inte-rior da Filosofia, que se viu levada a estudar a estrutura do enunciado para poder tratar do juízo. Isto levou Platão a estabelecer a primeira classificação das palavras de que se tem conhecimento. Para ele as palavras podem ser nomes e verbos. Depois dele, Aristóteles considerou outra classificação das palavras: nomes, verbos e partículas.

Desde logo os estudiosos perceberam que a linguagem necessita, sobretudo, de palavras. A linguagem permite ao homem estruturar seu pensamento, traduzir o que sente, registrar o que conhece e comunicar-se com outros homens. Ela marca o ingresso do homem na cultura, construindo-o como sujeito capaz de produzir transformações nunca antes imaginadas.

Apesar da evidente importância do raciocínio lógico-matemático e dos sistemas de símbolos, a linguagem, tanto na forma verbal, como em outras maneiras de comunicação, permanece como meio ideal para transmitir conceitos e sentimentos, além de fornecer elementos para lançar, explicar e expandir novas aquisições de conhecimento.

Mas o que é a linguagem? A linguagem é um sistema de signos ou sinais usados para indicar coisas, para a comunicação entre pessoas e para a expressão de idéias, valores e sentimentos. Embora tão simples, a definição de linguagem diz muitas coisas. A definição afirma que:

1. A linguagem é um sistema, isto é, uma totalidade estruturada, com princípios e leis próprios, sistema esse que pode ser conhecido;

2. A linguagem é um sistema de sinais ou de signos, isto é, os elementos que formam a totalidade lingüística são um tipo especial de objetos, os signos, ou objetos que indicam outros, designam outros ou representam outros. Por exemplo, a fumaça é um signo ou sinal de fogo, a cicatriz é signo ou sinal de uma ferida, manchas na pele de um determinado formato, tamanho e cor são signos de sarampo ou de catapora, etc. No caso da linguagem, os signos são palavras e os componentes das palavras (sons ou letras);

3. A linguagem indica coisas, isto é, os signos lingüísticos (as palavras) possuem uma função indicativa ou denotativa, pois como que apontam para as coisas que significam;

4. A linguagem tem uma função comunicativa, isto é, por meio das palavras entramos em relação com os outros, dialogamos, argumentamos, persuadimos, relatamos, discutimos, amamos, odiamos, ensinamos, aprendemos, refletimos, oramos;

5. A linguagem exprime pensamentos, sentimentos e valores, isto é, possui uma função de conhecimento e de expressão, sendo neste caso conotativa, ou seja, uma mesma palavra pode exprimir sentidos ou significados diferentes, dependendo do sujeito que a emprega, do sujeito que a ouve e lê, das condições ou circunstâncias em que foi empregada ou do contexto em que é usada. Assim, por exemplo, a palavra água, se for usada por um professor numa aula de química, conotará o elemento químico que corresponde à fórmula H2O; se for empregada por um poeta, pode conotar rios, chuvas, lágrimas, mar, líquido, pureza, etc.; se for empregada por uma criança que chora pode estar indicando uma carência ou necessidade como a sede. A definição nos diz, portanto, que a linguagem é um sistema de sinais com função indicativa, comunicativa, expressiva e conotativa.

Reduzir o papel da linguagem às funções externas da comunicação é ter uma visão muito limitada, insuficiente e incorreta. É na linguagem, ou melhor, na articulação das palavras/conceitos em proposições/juízos, coerentemente conduzidos, que tem lugar o pensar. O pensamento é o discorrer da razão na própria linguagem verbal articulada.
Tanto a linguagem, quanto a escrita, tornaram-se primordiais para o ser humano. São recursos capazes de identificá-lo diacronicamente e sincronicamente e dizer quanto a sua cultura, conhecimentos, sensibilidade, inteligência, perspicácia, sentimentos, sonhos, esperanças. É a linguagem a roupagem, a vestimenta dos pensamentos que traduzem a nossa essência enquanto ser. Assim, é essencial cuidar bem da linguagem.

DICAS DE GRAMÁTICA

CONTAGIANTE OU CONTAGIOSO?
– Contagiante não é exatamente a mesma coisa que contagioso. Um entusiasmo contagiante é aquele que se transmite a todos. Uma doença contagiosa é aquela que muitos podem pegar. Em ambos os casos, trata-se de algo que se espalha com facilidade. Contudo, convencionou-se assim: contagiante para as coisas boas e contagioso para as coisas ruins.

LIMPO OU LIMPADO?
– A regra é clara. Usa-se limpo com os verbos ser e estar: estava limpo, será limpo. Usa-se limpado com os verbos ter e haver: havia limpado, terei limpado.

ALGUÉM PRECISA DE ENORMES EXPLICAÇÕES?
– A expressão “para maiores informações…” popularizou-se em anúncios de todos os tipos, mas basta pensar um pouco para perceber que é totalmente inadequada. Uma informação não pode ser maior, nem enorme. Nós precisamos é de mais informações. E se você quiser mais informações gramaticais, continue a ler Letras & Letras.  

Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Mestra em Letras pela Universidade Federal Fluminense; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras.

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