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MP liberta idosas mantidas em cárcere privado em asilo

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“A gente detectou um depósito de lixo humano”. Com essa frase, o promotor de Cidadania e Saúde do Ministério Público Estadual (MPE), Rogério Voltolini Munôz, definiu a inspeção surpresa realizada por ele no Lar dos Vicentinos, no último dia 13. Na ocasião, duas idosas que estavam em situação de cárcere privado foram libertadas.
Pedaços de lençóis foram utilizados para amarrar e isolar a sala onde elas eram mantidas reclusas. Segundo o promotor, uma delas demonstrava estar com muita fome, tendo como primeira reação pegar um pedaço de pão que estava jogado ao chão e levá-lo até a boca.

A visita ao local foi motivada por Procedimento Investigatório Preliminar instaurado pelo MPE no intuito de averiguar denúncias de maus-tratos e desvio de doações. Uma socióloga, um assistente jurídico e representantes das Secretarias de Cidadania e Assistência Social do Estado e do município foram convidados pelo promotor para acompanhar a inspeção.

Atualmente, cerca de 56 idosos vivem em sistema de internação no Lar dos Vicentinos, sendo 41 homens e 15 mulheres. Muitos deles foram encontrados sujos e descalços. Outros estavam deitados sobre colchões velhos sem qualquer tipo de proteção. Pedaços de algodão com restos de sangue podiam ser facilmente vistos pelo chão.
Na cozinha, panelas velhas e pouca comida, enquanto numa sala secreta, eram guardadas as muitas doações feitas aos velinhos. “Na sala encontramos calçados, lençóis, panelas, roupas, tudo novo, mas também alimentos com data de validade vencido”, diz o promotor.

Todos os produtos foram inventariados para futura prestação de contas por parte da direção do abrigo. Além das doações externas, os idosos deixam 70% de suas aposentadorias à disposição da direção.

Primeiras providências
O relatório da vistoria está em fase de conclusão. Tudo foi documentado através de fotografias pelo departamento de Comunicação Social do MPE. O promotor também colheu alguns depoimentos. Em um deles, um idoso reclama que a sopa servida a eles é à base de pé e pescoço de galinha.

Com o relatório em mãos, o promotor vai chamar os representantes das Secretarias de Cidadania e Assistência Social para uma conversa. “Vamos tentar encontrar uma solução conjunta para o problema, se não der certo, depois vem à Justiça”, disse.
A administração do Lar dos Vicentinos também será chamada para prestar esclarecimentos, que vão desde prestação de contas aos motivos que levaram duas idosas a serem mantidas presas.

O OUTRO LADO – O atual administrador do Lar dos Vicentinos, Raimundo Borges de Melo, disse que assumiu a direção a pouco menos de quatro meses e que já tem conhecimento de várias irregularidades que eram praticadas. Garantiu ainda que está concluindo a prestação de contas solicitadas pelo MPE e que as doações encontradas numa sala fechada deveriam ser distribuídas aos idosos em breve. Quanto ao cárcere privado das duas idosas, ele justificou que elas têm problemas mentais e necessitam ficar trancadas para segurança própria e dos demais internos. Raimundo Borges anunciou ainda que vai convocar a imprensa para mostrar como funciona a sua administração.

 

 

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