Apesar do seu extenso currículo político, o ex-deputado Márcio Bittar (PSDB) reclama da censura que tem sofrido das oposições. O motivo são as conversações que tem mantido com a direção nacional e regional do PMDB com a intenção de unir os partidos que enfrentarão a Frente Popular, em 2010. Ele também foi sondado pelos tucanos da executiva nacional a ser candidato ao Senado. Bittar, que preferiu manter-se em silêncio desde que se filiou ao PSDB, considera um absurdo estar sendo criticado por setores oposicionistas por querer uma chapa única.
Silêncio quebrado
Com a fervura levantada com as especulações em torno da candidatura de Bittar para o Senado, ele mesmo resolveu dar a sua versão dos fatos.
“Já faz muito meses de forma disciplinada tenho me mantido em silêncio. Quando reparei que as direções do PMDB e do PSDB defendiam uma proposta antagônica a minha, por resignação democrática, me calei. Naquele momento, entendi que a minha posição era minoritária. Eu sempre achei que o PMDB e o PSDB deveriam se juntar sem excluir os outros partidos da oposição. Mas no momento que o PMDB anuncia a sua posição a favor da união com o PSDB acredito que os democratas que fazem parte da oposição deveriam receber essa notícia com muita alegria. Se o PMDB evoluiu da posição anterior para fazer a unidade acontecer isso é motivo de satisfação.
Censura interna
Márcio Bittar destaca que tem 46 anos de idade e 30 anos de militância política, por isso, acha inadmissível qualquer tipo de censura.
“A minha relação com o PMDB é antiga. Então, é impossível eu não conversar com as pessoas, inclusive, lutei contra a censura durante a ditadura militar. Se eu me encontro com um peemedebista já vem alguém da oposição achar que isso é uma atitude indisciplinada. Só me falta essa agora. Depois ter ido para a rua defender a democracia alguém imaginar que devo pedir autorização a algum partido ou liderança para conversar com membros do PMDB”, ressaltou.
Diálogo aberto com o PMDB
O ex-deputado se coloca claramente favorável ao diálogo com o PMDB. Ele tem, inclusive, mantido encontros com as principais lideranças peemedebistas.
“Na realidade me encontrei com o deputado federal, Flavia-no Melo (PMDB), o Armando Dantas e o Mauri Sérgio, na minha residência. Se o PMDB tem uma posição que coincide com a minha tenho mais é que dialogar. Qualquer tentativa de ver nessas conversas uma conspiração é uma tentativa de gente que não é democrata e que quer cercear a democracia. Os fóruns adequados decidirão as alianças e lá eu não tenho nenhum voto. Isso é apenas uma posição pessoal minha. Na minha avaliação de dois palanques com várias candidaturas ao Senado é de que se trata de uma situação temerária com uma pitada de aventura. Isso poderá facilitar a vitória da FPA até mesmo fazendo dois senadores. Acho dificílimo a oposição dividida eleger um senador. Se o PMDB procura o PSDB para fazer uma aliança e os tucanos dizem não está na realidade rompendo inclusive a possibilidade da tese anterior de se unir no segundo turno. Assim o acordo acabou”, salientou.
Quem censura?
Indagado, Márcio Bittar, responde:
“O que posso dizer é que são pessoas de partidos da oposição que em comentários, em reuniões, em bate-papos comentam minhas posições. Eles têm direito de se reunir menos eu. Eu não tenho direito de falar com as pessoas. Tive uma trajetória política importante sem me vender e nem trair os meus princípios. Quando converso com o PMDB há uma tentativa de me criticar e me retaliar por isso. Não vou ligar para ninguém para conversar com membros do PMDB. O Serra (candidato a presidente) que é o voto mais importante que vou dar no ano que vem procura a aliança com o PMDB. O governador já abriu a vaga no Senado, em São Paulo, para o Quércia (PMDB). O Aécio Neves (PSDB) quer o PMDB, o PT quer o PMDB. No Acre, o PMDB quer a aliança e isso não está sendo possível. Algumas pessoas vão achar que vou ficar até junho do ano que vem sem externar o que penso? Eu me calei esses meses todos porque havia um entendimento. Mas isso mudou com a nova posição do PMDB. Sou a favor que o PSDB e o PMDB se entendam e montem um único palanque junto com os outros partidos”, destacou.
Obstáculos à união
Bittar fala sobre os problemas e obstáculos que impedem a oposição de se unir.
“Acho que tem uma dose de amadorismo e sendo amadorismo acaba se dando chutes e viajando na maionese. A oposição precisa se profissionalizar. Não dá para discutir alianças e estratégias sem números, sem ciência e sem gente trabalhando nisso. Como se vai enfrentar um governo que tem um projeto, o qual tenho críticas, mas que têm um projeto que o Brasil e o mundo reconhecem? Não adianta eu não reconhecer. A oposição trabalhou um projeto que eu liderei . Nesse momento o projeto que nós começamos juntos em 2006 deveria ser aprofundado principalmente porque temos a pré-candidatura do Serra liderando todas as pesquisas. Existe uma possibilidade real de que a gente volte a ser governado pelo PSDB. Daqui para junho os partidos de oposição precisam aprofundar o que já escreveram e colar esse projeto ao nacional para oferecer à população um plano de ação com a chancela da candidatura nacional”, disse.
A candidatura ao Senado
As articulações para colocar o nome de Márcio na disputa ao Senado foram do diretório nacional do PSDB.
“A conversa em torno do meu nome nasceu de membros da direção nacional do PSDB que me provocaram para ser candidato. Eles partem da intuição que alguém que participou de vários pleitos importantes no Estado teria uma memória eleitoral importante para essa disputa. E eu acho que tenho mesmo, sem falsa modéstia. Mas eu mesmo disse a eles que não é impossível que eu aceite a provocação. É lógico que existem uma série de questões. É muito difícil em função de tudo que passei nesses anos. Tem a questão regional e da desunião. Uma série de questões pessoais e políticas. Mas não posso impedir que pessoas da Capital e do interior falem no meu nome para o Senado. Tem um universo grande que quer experimentar novas pessoas e idéias que se lembram de mim. Além disso, pesquisas que o governo faz e o PMDB dão conta que o meu nome seria o favorito entre os partidos de oposição”, afirmou.
Relação com os outros pretendentes
Apesar de ser indicado pela direção do seu partido para o Senado, Bittar, tranqüiliza os outros concorrentes da oposição.
“O Fernando Lage (DEM), o Normando Sales (PSDB), o Sérgio Barros (PSDB) e o Geraldinho Mesquita (PMDB), que são os pré-candidatos, não têm motivos para se preocuparem comigo. Eu não coloquei o meu nome na disputa interna e não autorizei ninguém e nem vou disputar a indicação com outros nomes. Portanto, não sou problema. Eu só poderia pensar em ser candidato ao Senado na hipótese de que meu nome viesse de forma natural. Será uma eleição difícil. Tenho certeza que qualquer pesquisa séria vai mostrar que o Jorge Viana (PT) está com muita vantagem. Isso abre a perspectiva da transferência de votos para fazer a outra candidatura da FPA ser muito forte. Então, para nós da oposição a possibilidade de fazer o senador não é fácil se não for um consenso. O partido que quer vetar o meu nome não tem com que se preocupar porque se alguém tem essa posição não serei candidato. Não vou forçar a barra. Por isso que não coloquei o meu nome na disputa”, explicou.
Candidato a federal
Apesar das especulações e ofertas, Márcio, prefere garantir a sua candidatura à Câmara Federal.
“Sei que todo recomeço é difícil. Todo mundo sabe que para mim o parlamento não é o fim, mas o meio de conquistar força para uma disputa majoritária. Não posso esconder o que penso. Não é segredo. Se voltar a ter um mandato parlamentar vou trabalhar na próxima eleição, em 2012, para ser candidato a prefeito da Capital. Mas falando sobre isso pode parecer que estou achando fácil a eleição para federal no ano que vem. Vou completar oito anos sem mandato e não tive a sustentação do gabinete de ninguém que ganhou a eleição. Então, é um recomeço difícil. Mas vou trabalhar para tentar construir a candidatura para federal sabendo das dificuldades porque ninguém facilita o meu caminho. Tenho que romper outra vez, mas tenho disposição para isso”, concluiu.
A chapa dos sonhos
Inquirido sobre os melhores nomes para compor uma chapa única das oposições, Bittar, acha que é ainda cedo para definição dos nomes.
“O Rodrigo Pinto (PMDB) na cabeça da chapa acho uma precipitação. O Flaviano é a liderança maior do PMDB e é natural que ele queira colocar o seu partido na cabeça da chapa. Mas nós também queremos que na aliança o candidato a governador seja o Bocalom (PSDB) por ser mais preparado e experiente. No entanto, acho que a unidade é mais importante do que saber quem é candidato a governador, a vice ou a senador. Se a oposição sair dividida vamos para o abraço dos afogados. Nesse momento ninguém deveria achar um espanto o Flaviano falar em aliança com o candidato dele a governador. Portanto, pregar uma unidade com nomes à frente não agrega. O mais importante é que os partidos entendam que é preciso unir. O momento é de reflexão para construirmos um projeto político e programático para o Acre”, finalizou.