Por Cesar Garcia Lima* – Especial para A Gazeta
Como conheci o caminho espiritual trazido da Índia por Paramahansa Yogananda
Há um trecho da oração final dos serviços de meditação da Self-Realization Fellowship que me chamou atenção desde a primeira vez em que o ouvi, em São Paulo, em setembro de 1994. Depois de saudar os mestres desse caminho espiritual, a oração reverencia também “os santos de todas as religiões”, e isso despertou em mim de imediato um sentimento de inclusão e respeito nunca antes experimentado. Como cresci em uma família católica, estudei em um internato adventista do sétimo dia e convivi com várias pessoas de outras religiões e filoso-fias de vida, estava acostumado a cerimô-nias voltadas apenas para seus próprios méritos e dogmas. A Self-Realization Fellowship (conhecida no Brasil como Associação de Autorrealização) me surpreendeu desde essa cerimônia, por sua abordagem respeitosa em relação a outros credos.
Muitos anos depois, agora devoto dessa organização mundial que propaga a união entre a ioga e o cristianismo, posso chamar essa percepção por outro nome: bem-aventurança. Ao difundir a meditação como um meio para que cada um desperte sua consciência para si, para os outros e para a Deus, a SRF é uma instituição baseada nos princípios da ioga (ciência da união da alma individual com o Espírito Cósmico), acessível para todos que queiram conhecê-la, sem distinção de nenhuma espécie.
Eu tinha chegado até a Self ainda desconfiado das vantagens da meditação apregoadas por minha amiga Beatriz Vieira, jornalista como eu, que tinha feito contato com a instituição por conta de uma temporada de estudos em Nova York. Quando ela me convidou para conhecer a Self, minha reação foi dizer que tivesse cuidado com “essas seitas que aparecem por aí”. Ao constatar pes-soalmente, entendi que a Self não tem nada a ver com seita, porque não é levada pela fé cega em nenhum preceito, ao contrário, a perspectiva é sempre a consciência e o livre-arbítrio de cada um. A palavra guru (aquele que dissipa as trevas) também me assustava, mas aos poucos entendi o caráter de guia espiritual que cerca essa palavra, da mesma maneira que os santos católicos, de quem cada um escolhe ser devoto. O mais irônico é que, quando pequeno, mesmo sendo um dos alunos mais dedicados do catecismo de Irmã Regina, eu relutava em aceitar o papel de guia conferido aos santos. Na Self, percebi em Paramahansa Yogananda a liderança espiritual de que tanto sentia falta desde criança, sem que por isso tenha tido de abdicar das minhas próprias idéias.
Ao despertar para a meditação e a vastidão dos ensinamentos de Paramahansa Yogananda, fundador da SRF, me dei conta de que ali estava um modo gentil e profundo de buscar o autoconhecimento, baseado nos textos sagrados da Índia, bem além das formulações úteis – mas às vezes muito distanciadas – das sessões de psicanálise ou do estudo da astrologia, que eu tinha procurado até então. Paramahansa (pronuncia-se Paramarranssa) designa “aquele que atingiu o estado mais elevado da comunhão ininterrupta com Deus”. Yogananda (a pronúncia segue a grafia) é o nome religioso que significa “bem-aventurança por meio da união divina”. O principal livro para entender esse caminho que saiu do Oriente e chegou a várias partes do planeta, inclusive o Brasil, é Autobiografia de um iogue, do próprio Yogananda, cuja primeira edição foi lançada em 1946. Publicado em vários países e conhecido como um clássico da vida espiritual, o livro conta a trajetória de Paramahansa Yogananda desde seu nascimento em 1893, em Gorakhpur, na Índia, até os Estados Unidos, para onde foi em 1920, sob a orientação de seu guru Sri Yukteswar – com o objetivo de participar de um congresso – e onde fixou residência e fundou a SRF, com sede mundial em Los Angeles, na Califórnia. Depois de seu falecimento, em 1952, seus ensinamentos se expandiram ainda mais e hoje estão presentes em todo o mundo, conforme ele mesmo tinha previsto. Desde 1955, a Self é presidida por Sri Daya Mata, discípula direta de Paramahansa Yogananda, cuja presença de beatitude tive o privilégio de compartilhar em uma palestra, em 1997, durante uma convocação mundial com monges e devotos, em Los Angeles.
A narração dos eventos que cercam a vida de Paramahansa Yogananda (nascido Mukunda Lal Gosh) em Autobiografia de um iogue é fascinante por vários aspectos. A vida de Yogananda na Índia no final do século XIX e primeiros anos do século XX aparece junto a ensinamentos espirituais que vão sendo explicados pela perspectiva afetuosa do mestre, nos familiarizando com termos da ioga como pranayama (técnica para o controle da força vital), além de várias histórias sobre santos indianos.
Autobiografia de um iogue faz parte da coleção Self-Realization Fellowship, distribuída no Brasil pela Ominisciência (www.omnisciencia.com.br), e que inclui vários títulos importantes escritos por Paramahansa Yogananda, como Onde Existe Luz, no qual há uma série de textos selecionados de outras obras do Mestre, tornando-se fácil leitura para os que pretendem conhecer o universo dos ensinamentos orientais. Em A Eterna Busca do Homem, uma série de palestras feitas por Yogananda, é possível entender mais profundamente seus ensinamentos, que explicam aos ocidentais a tradição da ioga. Além disso, em seus textos, Yogananda também aborda o cotidiano e dá informações simples e úteis sobre alimentação vegetariana, comportamento e modos de lidar com os maus hábitos, entre centenas de outros assuntos importantes. Como mais recentes lançamentos, já chegaram às livrarias Assim Falava Paramahansa Yogananda, com várias citações famosas do fundador da SRF, e A Yoga do Bhagavad Gita, livro com a interpretação de Yogananda sobre o sagrado texto indiano que constitui a base dos ensinamentos da Self.
EM BUSCA DE AUTOCONHECIMENTO
Mas, afinal, o que é meditação? Em primeiro lugar é preciso esclarecer que são vá-rios os tipos de meditação praticados hoje no Brasil, muitos deles desvinculados de um propósito espiritual. No caso da SRF, conforme as instruções deixadas por Para-mahansa Yogananda, o principal objetivo da meditação é promover a busca de cada um por Deus. Para isso, Yogananda instruiu os devotos a se sentarem em uma cadeira de espaldar reto, com as costas alinhadas, pés paralelos no chão e palmas das mãos voltadas para cima na junção entre o dorso e as pernas. Os olhos fechados devem se voltar para o espaço entre as sobrancelhas, conhecido como centro da consciência crística. Isso é só o começo de uma série de lições que podem ser recebidas para qualquer pessoa que as solicitar para a Sede Central da Self (ver box de contatos úteis).
Várias técnicas são transmitidas individualmente por essa espécie de curso espiritual por correspondência, cujo principal objetivo é levar o devoto a se aprofundar na seara da meditação e do autoconhecimento, se aproximando da consciência cósmica. A técnica mais importante de todas é a kriya yoga, transmitida diretamente por monges da Self em viagens periódicas ao redor do mundo. Para se ter noção da importância da kriya, o próprio Mahatma Gandhi a solicitou diretamente a Yogananda, em 1935. A mais recente visita dos monges ao Brasil foi no início deste mês, no Rio de Janeiro (Veja detalhes no site do Centro do Rio de Janeiro da Self-Realization Fellowship: http://www.rio-srf.org).
Segundo Brother Devananda, um dos monges que participou do encontro, o Brasil, depois dos Estados Unidos, é o país onde a Self mais cresce em número de devotos.
Depois de 15 anos meditando na Self e estudando os ensinamentos de Para-mahansa Yogananda, tenho a certeza de ter encontrado uma filosofia coerente com minhas escolhas como cidadão e também com os anseios da minha alma: paz e união num mundo com menos egoísmo e desigualdade. Em um cotidiano tão desgastado pela violência física e psicológica, esses ideais chegam a soar como ingenuidade. Mas não é mesmo um pouco de ingenuidade que faz falta atualmente? Para começar a descobrir esse mundo, basta abrir as páginas de Autobiografia de um iogue. Como disse Paramahansa Yogananda, a meditação é um “paraíso portátil” que está ao alcance de todos.
CONTATOS ÚTEIS
Internet: site da Self-Realization Fellowship: http://www.yogananda-srf.org/index.html, que inclui contatos da Self em várias cidades brasileiras.
Por carta (em qualquer língua): Self-Realization Fellowship – 3880 San Rafael Avenue, Los Angeles, CA 90065-3298 USA.
Pelo telefone (em inglês): 00 + cód. da operadora + 1 + 310 + 323-225-2471
PRINCIPAIS OBRAS DA SELF EM PORTUGUÊS
A Eterna Busca do Homem, Afirmações científicas de cura, Assim Falava Para-mahansa Yogananda, Autobiografia de um iogue, A Yoga do Bhagavad Gita, Meditações Metafísicas, No Santuário da Alma, Onde Existe Luz, A Lei do Sucesso e No Silêncio do Coração.
Todos os livros são traduzidos para o português pela própria Self-Realization Fellowship e distribuídos no Brasil pela Omnisciência (www.omnisciencia.com.br), rua Natingui, 508, Vila Madalena, 05443-001, São Paulo, SP. Fone: (11) 3676-1997. Email: info@omnisciencia.com.br.
* Cesar Garcia Lima, jornalista e poeta, nasceu em Rio Branco em 1964 e mora no Rio de Janeiro. – cegali@terra.com.br