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DDT faz sua 58ª vítima no Acre em nove anos


O ex-guarda da extinta Sucam, órgão do Governo Federal responsável pelo às doenças epidemiológicas, Sebastião Granjeiro de Melo, 59, morreu na madrugada de ontem na UTI da Fundação Hospitalar. Ele estava internado desde o último dia 15, quando seu estado de saúde começou a se agravar. Segundo os familiares, a morte foi provocada por múltiplas complicações, como insuficiência renal e parada cardíaca, além de ter o fígado afetado pela hepatite.

“Ele já não estava suportando fazer hemodiálise, a pressão dele baixava drasticamente quando se submetia ao procedimento. Os médicos acharam melhor interrompê-lo para não agravar ainda mais”, diz Maria Elia-ne, 33, filha de Granjeiro. O ex-guarda deixou órfão, ainda, Maria Leidiane, 27, e Wisley Marques de Melo, 17. Há pouco mais de duas semanas, A GAZETA visitou Granjeiro em sua casa, na cidade de Senador Guiomard (24 km de Rio Branco).

A reportagem de então falava sobre a Fila da Morte do DDT, o inseticida usado sem os mínimos cuidados até 1997 no combate ao mosquito transmissor da malária. O uso indiscriminado acabou por afetar a saúde destes homens. À época, Granjeiro já se encontrava bastante debilitado. Falava com dificuldades e passava o dia deitado no sofá da sala. Qualquer movimento e ele sentia dores por todo o corpo.
Em 1999, Sebastião precisou passar por uma intervenção cirúrgica para retirar tumores em sua cabeça. A anomalia afetou o osso craniano, e desde então esta região do corpo é protegida por uma superfície artificial. “A medicação forte que usava diariamente também o debilitou”, diz a filha Maira Leidiane. 

Quando ainda trabalhava, chegava a ficar mais de três meses dentro da floresta borrifando as casas dos seringueiros. O contato com o veneno era direto. O DDT em pó misturava-se com a farda molhada pela chuva. Por sua força e valentia, Granjeiro era chamado por seus colegas de “Tratorzão”. Cinco dias depois da entrevista, ele foi internado no Hospital Santa Juliana.

O estado de saúde piorou e foi encaminhado para a UTI da mesma unidade. No dia de Natal precisou ser transferido para a UTI da Fundação Hospitalar. As múltiplas complicações foram mais fortes que o tratamento. Em nove anos, o DDT já matou no Acre 58 ex-guardas da Sucam. “Não é possível tantas pessoas morrendo em tão pouco tempo, com os mesmos sintomas e as nossas autoridades fazerem vista grossa”, revolta-se Aldo Moura, presidente da Comissão DDT e Luta pela Vida.

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