Aos 79 anos de uma vida cheia de histórias, José Feliciano da Rocha, soldado da borracha na década de 40 e aposentado desde 94, pai de 4 filhos, não esperava que após 50 anos cortando seringa para sustentar um sistema econômico tão vital à história acreana viveria o drama de mais uma árdua luta. Uma luta mortal que o mata lentamente a cada dia. Trata-se de uma doença inflamatória na próstata, que aflige o idoso há cerca de 5 anos e há mais de 3 vem deixando-o altamente debilitado para gozar do sossego da aposentadoria. Contudo, o mais preocupante é que há mais de 2 anos o ‘seu’ José necessita de cirurgia, mas não consegue devido aos obstáculos existentes entre ele e a Fundação Hospitalar.
De acordo com o ex-soldado da borracha, desde janeiro de 2005 ele começou a se consultar na Fundhacre para fazer tratamento. Porém, conta ele, a mudança de urologistas (5 pelas suas contas), a falta de consenso entre eles, viagens repentinas, aparelhos cirúrgicos que estão para chegar, dificuldades de acesso ao atendimento e aos retornos, somadas com a quantidade de exames pedidos, fizeram com que a sua situação só piorasse a cada ano.
“Hoje, estou sofrendo muito. Há 3 anos não consigo urinar direito. É sempre urina com muito sangue. Toda vez que vou na Fundhacre é uma luta para chegar até os médicos e eles não se decidem o que fazer. Faz quase 3 anos que estou tentando fazer a cirurgia, mas sempre que está quase tudo pronto fica faltando algum exame que venceu por causa da demora em ser atendido, médico que viaja ou outra coisa. Várias vezes já tava tudo certo e na última hora eles cancelam e passam a cirurgia para o mês seguinte. E nesse empurra empurra quem vai morrendo sou eu! Por isso eu me pergunto, será que o estatuto do idoso não serve mais para nada? Cadê o respeito aos idosos?”, desabafou José Feliciano.
Outro entrave à cirurgia, diz o seringueiro, é a condição de sua próstata. Segundo ele, sempre que se consulta os médicos alegam que não podem operar devido ao inchaço no órgão. No momento, o último PSA (exame que mede o tamanho da glândula em questão) apontam que é possível submeter José à cirurgia. Porém, sabe-se lá qual será a situação da sua próstata quando chegar o dia do retorno do idoso no atendimento.
Aliás, sabe-se lá qual será o futuro desse bravo homem, especialmente agora que a sua filha, Maria Ivanilde Nascimento, uma das pessoas que mais se empenhou para ver o pai recuperado e teve a maior frustração por tanta demora, está de mudança ainda neste mês para Porto Velho! Sem a persistência dela, é difícil prever qual será o fim desse simpático idoso. Feliz com sua amada esposa Adelmar, ou triste com uma morte cheia de dores!
Presidenta pede que José Feliciano compareça à Fundhacre
Sobre o caso de José Feliciano da Rocha, a presidenta da Fundhacre, Lúcia Carlos, esclareceu que realmente ocorreram problemas na ala de urologia nos últimos anos e por isso a demanda no setor ficou sobrecarregada. “Tivemos problemas com alguns médicos desta área, que se recusaram a operar. Como também atendemos o pes-soal do PS e há um alto número de cirurgias por mês na fundação (560 no total), a fila de espera ficou ainda mais lotada. Porém, para reverter esse quadro, contratamos há alguns meses um urologista, dr. Alonso, e ele está fazendo um ótimo trabalho para reduzir estes transtornos”, explicou.
Segundo a presidenta, responsável pela Fundhacre desde julho deste ano, resolver casos como o do ex-seringueiro é uma das novas prioridades da instituição, já que uma das metas de sua gestão é organizar a Central de Agendamento de Cirurgias (CAC) e fazer com que o paciente garanta o seu tratamento, incluindo cirurgia, no prazo de 60 dias desde a consulta. Assim, ela pede que José Feliciano compareça à fundação até o dia 11 deste mês para explicar a sua situação, a fim de resolvê-la da melhor forma possível.
“Pode ter certeza de que eu vou investigar sobre o caso do seu José Feliciano, porque mais de 2 anos esperando por uma cirurgia é algo realmente inaceitável. Isso não deve acontecer, especialmente se o estado dele for grave. É lógico que as cirurgias ficam a critério da avaliação dos médicos, mas os casos emergenciais têm prioridade. Portanto, se esse for o estado desse senhor certamente ele será colocado na frente da fila. Agora, ele ou qualquer outro idoso que passa por uma situação semelhante deve nos procurar para que possamos avaliar melhor cada ocorrência”, ponderou Lúcia Carlos.