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Moradores reclamam da violência e do descaso no Conjunto Manoel Julião


Construído na década de oitenta, no mandato do governador Flaviano Melo (PMDB), o conjunto habitacional Manoel Julião, caso viesse recebendo a devida atenção por parte do poder público, deveria ser uma referência de moradia popular no Acre. As evidências, entretanto, demonstram o contrário. Abandonado, o local se tornou alvo fácil de bandidos de toda espécie.

O conjunto é formado por casas e prédios residenciais, mas são os apartamentos os alvos preferidos dos marginais, em virtude da facilidade de acesso. São 16 unidades por cada bloco e são raros os casos onde todos os moradores se conhecem mais de perto. Se já é difícil identificar todos os moradores, impossível fazer o controle dos visitantes.

Na hora da invasão, os bandidos utilizam várias artimanhas e existem registros de que já conseguiram entrar até mesmo em prédios onde a vigilância foi reforçada. Disfarçados de entregadores de água, cobradores e agentes de saúde, eles induzem a própria vítima a abrir a porta.

Só no mês de dezembro, quatro assaltos foram registrados no conjunto. Em um deles, a entrada do assaltante foi facilitada pelo uso de um crachá de uma empresa de cobrança. Inocentemente, a moradora do apartamento abriu a porta, momento em que foi comunicada do assalto.

Armado, o assaltante obrigou a moradora e seus dois filhos menores a permanecerem num dos quartos do apartamento, enquanto com a ajuda de dois comparsas, ele retirava do imóvel um notebook, dinheiro e dois aparelhos celulares. A polícia foi acionada, mas os assaltantes ainda tiveram tempo de fugir sem serem identificados.

Na última ocorrência registrada, o bandido se aproveitou do momento em que um pai se ausentou por meia hora para buscar o boletim escolar de um dos filhos, para fazer a invasão. O bandido bateu na porta, e a mesma foi aberta por uma adolescente de 14 anos, que achava ser o pai. Ela e o irmão de 9 anos foram ameaçados com uma arma. Em menos de cinco minutos, o assaltante deixou o local levando um computador e um aparelho de DVD.

Apesar de várias denún-cias de furtos e assaltos chegarem ao conhecimento da polícia através da Central de Operações da PM, na maioria dos casos, as vítimas não chegam a registrar a queixa por não acreditar na captura dos bandidos. “Faz muito tempo que isso vem acontecendo por aqui e ninguém faz nada para nos proteger”, reclama uma vítima de assalto que não quis se identificar.

Na ausência da polícia, os moradores reforçam a segurança através de grades e portões de ferros. Em alguns prédios também foram instalados sistema de comunicação direta com cada apartamento. Dessa forma, a entrada só é liberada mediante a autorização expressa do morador. A orientação da polícia é que os moradores fiquem atentos e não abram suas portas para desconhecidos, mesmo que os mesmos estejam usando crachás.

O RETRATO DO DESCASO
Além da constante ação dos bandidos, os moradores do Conjunto Manoel Julião também estão relegados a conviver com esgotos a céu aberto e lixo acumulado. No ponto conhecido como “Sapolândia”, um esgoto localizado bem à margem da rua, chama a atenção de quem passa não só pelo odor insuportável, mas pelo barulho que a água faz. “Parece barulho de cachoeira”, comenta o fotográfo Diego Gurgel após fazer o registro.

Segundo a moradora, Francisca Lima Soares, várias reclamações já foram feitas ao Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (Saerb), mas nenhuma solução definitiva para o problema foi apresentado. “A situação se complica nos dias de chuva, como agora estamos no inverno, passamos dia e noite com esse cheiro insuportável”, reclama.
O inverno também facilita o crescimento de mato em vários pontos do conjunto. As poucas calçadas existentes são verdadeiros cartões portais do descaso. A Rua João Câncio, que dá acesso ao conjunto, através da Rua Isaura Parente, também é motivo de revolta na comunidade. É que o Saerb retirou o asfalto para a realização de uma obra e até hoje a recuperação não foi concluída.

Durante a visita de A GAZETA, homens e máquinas do Departamento de Estradas e Rodagens do Acre (Deracre), realizavam uma espécie de operação tapa buracos na principal onde passam os ônibus. “Esperamos que outras ações também sejam realizadas”, disse o morador Antônio Felício dos Santos. Os moradores prometem uma grande manifestação, caso providências urgentes não sejam tomadas.

 

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