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Marina defende entendimento entre ricos e emergentes em favor dos pobres


De Copenhague, onde participa da cúpula mundial sobre o aquecimento do planeta, a senadora Marina Silva (PV-AC) se disse preocupada com a posição assumida pelo Brasil no fórum, mais inclinada ao tensionamento que ao entendimento, na opinião da parlamentar. Em entrevista por telefone à Agência Senado, ela disse que este é exatamente o momento em que países ricos e países emergentes devem se unir para ajudar os pobres a enfrentar as conseqüências do aquecimento.

Como a senhora vê as disputas hoje em Copenhague?
Em vez de se criar um tensionamento, deveria prevalecer a posição de que estamos aqui para um esforço de todos numa negociação multilateral em favor do planeta. Temos que sair daqui com um compromisso consensual que nos leve a uma arquitetura na qual a contribuição dos ricos e dos emergentes seja efetiva para que os países pobres não tenham que sofrer as conseqüências da mudança do clima.

Sua expectativa então não é otimista?
Estava prevista a vinda de 15 mil pessoas para a convenção de Copenhague. Há 30 mil pessoas aqui. Mas o principal resultado que se espera disso tudo ainda está difícil de concretizar-se. O que se espera é que se tenha um compromisso com uma meta global de redução dos gases poluentes, que se consigam os meios para a criação do fundo e a viabilização dos programas de mitigação e adaptação. E que se tenha uma postura de respeito, solidariedade e compromisso ético com os países mais pobres e com as ilhas. Porque essas serão as primeiras atingidas e com grande chance de virem a desaparecer.

O aquecimento põe em risco todas as ilhas hoje habitadas?
Não todas. Quem levantou esse problema foi o líder de Tuvalu, que integra um grupo de ilhas do oceano Pacífico, ameaçadas pela elevação do nível dos oceanos, em conseqüência do aquecimento do planeta. Essas ilhas podem submergir. Existe aqui uma pressão desse segmento, com legítima razão, para que se busquem alternativas urgentíssimas. As ilhas podem desaparecer, caso a temperatura do planeta continue a subir no ritmo atual.

E quanto à posição brasileira?
Acho que o Brasil veio de forma proativa quando trouxe uma meta, ainda que uma meta de redução sobre as emissões projetadas, sem que tenhamos um alvo fixo – nosso alvo ainda é móvel – mas isso já criou uma ação bem proativa dentro da convenção. No entanto, será muito negativo se o Brasil não avançar em relação a algumas questões, se ficar na posição de se contrapor aos países desenvolvidos, como se só eles tivessem que aportar os recursos e que, se não aportarem os recursos, não se tem como fazer nada.

O que a senhora recomenda?
É preciso ir, aos poucos, revisitando essas posições e, ao mesmo tempo, ter uma expectativa também com relação à presença dos chefes de estado. Que eles possam chegar aqui para que se avance além do patamar em que se está. Porque esse patamar está muito aquém das necessidades do planeta, ainda está muito aquém daquilo que cada país pode oferecer como contribuição.

Isso em razão da posição dos ricos?
Não apenas. Os países ricos têm uma responsabilidade muito grande. Porque quando eles ainda não põem na mesa metas mais ousadas, quando não querem se comprometer com fundo de longo prazo, apenas com fundo de curto prazo, e a União Européia coloca só US$ 10 bilhões para esse fundo, isso cria dificuldade. E os países em desenvolvimento, por sua vez, como China e Índia, também ficam com posições muito refratárias. Eu acho que o Brasil tem aí um papel importante a desempenhar, reduzindo o tensionamento e trabalhando pelo entendimento.
(Agência Senado)

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