Ontem era a última sessão deliberativa da Aleac. A maioria dos deputados usava a tribuna para fazer elo-gios aos resultados da Comitiva da Integração que foi ao Peru. Surpreendentemente, o deputado Luiz Calixto (PSL), que é membro substituto da CPI da Pedofilia, proferiu um discurso acusando o presidente Luiz Tchê (PDT) de fazer o jogo do Governo por não ter trazido o assessor especial de povos indígenas, Francisco Pianko, para depor. O parlamentar pedetista foi tirar satisfação com o oposicionista de maneira agressiva. Os seguranças tiveram que interferir imediatamente. Depois Tchê chamou, diante de toda imprensa, Calixto de “palhaço”.
Ainda nervoso, Luiz Tchê justificou a sua irritação: “é uma irresponsabilidade do Calixto que participou de todas as sessões da CPI como meu convidado. Não sei o que aconteceu hoje. A questão de trazer o Pianko já foi deliberada. Rasgo o meu diploma de deputado se não vier. Quem ouviu a fala do Calixto vai pensar que não. Sou um homem digno e estou fazendo a CPI com muita responsabilidade. A CPI não foi feita por causa do Pianko ou da Joana D´Arc, mas pela situação social que estamos vivendo com casos toda semana. A CPI não foi criada politicamente.
Avançamos muito. Está aí a delegacia e a Vara de Justiça especializadas. Conseguimos também colocar uma emenda para as crianças e os adolescentes que será administrado pelo Conselho Tutelar”, desabafou.
O parlamentar garantiu ainda que haverá tempo para que a CPI apresente mais resultados. “Pedimos uma prorrogação até dia 23 de fevereiro. Como o recesso não conta prazo teremos até o final de abril para concluir os trabalhos. E poderemos ir até o final do nosso mandato se quisermos. A CPI é uma coisa delicada que mexe com a dignidade das pessoas, por isso é preciso paciência. Mas me preocupo com o desequilíbrio do Calixto. Por que foi fazer esse depoimento ao público quando poderia ter feito internamente? Foi para aparecer? Só pode”, ironizou Tchê.
Uma CPI inócua
O parlamentar, que encarna a liderança da oposição, Luiz Calixto, não poupou críticas a atuação da CPI. A CPI não apurou um caso novo. Todos os casos que apuraram já tramitam na Justiça. A CPI terminou de forma vergonhosa e melancólica porque não convocou, para atender os interesses do Governo, o principal ator dessa CPI, que era o Pianko. Ninguém pode negar que a CPI foi criada após as denúncias contra o líder indígena de abusar sexualmente de índias. Hoje é o ultimo dia de sessões e nós deliberamos sobre a convocação do Pianko, da Letícia Yawanawa e da Joana D´Arc desde a primeira reunião da CPI. Portanto, não cabe ao presidente dizer que não estavam convocados. Não podemos esquecer que é o presidente que assina a convocação. É uma mancha que a Aleac terá que levar”, acusou.
Para Calixto, o fato da CPI ser prorrogada até abril não justifica o seu resultado. “A CPI foi criada com prazo determinado e já foi prorrogada. O Tchê não convocou o Pianko porque não quis. Teve todo tempo. Não adianta nervosismo e dizer que o deputado Calixto é palhaço. Isso é fruto do desespero. O nariz do palhaço cabe a quem não convocou, que foi o presidente da CPI”, ironizou.
Nem tanto ao céu, nem tanto à terra
O relator da CPI, deputado Donald Fernandes (PSDB), preferiu fazer uma análise mais equilibrada da situação. “Não quero lamentar o que não fiz, mas comemorar o que fiz. O que nós fizemos foi bom. Não estou olhando a CPI pelo retrovisor como a maioria das pessoas querem. Só punir e matar. Não tenho essa formação. Quero analisar de que maneira posso melhorar as pes-soas e proteger as suas crianças. Criamos uma delegacia que vai dar celeridade aos processos e uma Vara especializada. Criamos um local para depoimentos sem dano às crianças e no Ministério Público um local para o amparo das vítimas. Tudo isso tira os gargalos que emperravam os processos contra os pedófilos. Não estou a lamentar que não tenha vindo o Pianko, mas a comemorar o que conseguimos”, resumiu.