Hermínio Dutra e esposa em foto de arquivo pessoal
Morreu na madrugada de ontem, no Pronto-Socorro de Rio Branco, Hermínio da Silva Dutra, 58 anos. Ele é o 59º ex-guarda da Sucam a falecer no Acre, desde 2000, vítima de complicações decorrentes da manipulação do pesticida Dicloro-Difenil-Tricoloroetano, conhecido através da sigla DDT. Dutra deixa viúva e três filhos.
Na residência da família, localizada na Rua 7 de Setembro, nº 57, bairro Tancredo Neves, o clima era de revolta e desolação. Maria do Carmo da Silva confidenciou que o marido vivia triste e deprimido e que não acreditava mais que conseguiria vencer a luta contra o DDT.
Até a morte ontem, foram três internações e inúmeras crises. Em algumas delas, vomitou o próprio sangue. Na última segunda-feira, deu entrada no Pronto-Socorro, e lá permaneceu inconsciente até a oficialização do óbito. Ele tinha graves problemas pulmonares, o que acabou resultando numa parada cardiorespiratória.
A situação dos ex-guardas da Sucam beira o desespero. O intervalo de mortes dos contaminados pelo DDT está cada vez menor. Só no mês de dezembro do ano passado, foram registradas duas mortes. A última ocorreu dia 29. O falecimento de Dutra, já em 2010, ocorre 15 dias depois. A lista de contaminados é extensa e a qualquer momento podem ser registradas novas vítimas.
Drama dos ex-guardas da Sucam será exposto na Suíça
O DDT foi largamente utilizado no Estado e no restante do país, durante as décadas de sessenta e noventa, para combater o mosquito transmissor da Malária. O que não se esperava é que ele também seria responsável pela aniquilação daqueles que dedicaram os melhores anos das suas vidas salvando os habitantes da Amazônia da doença.
“Estou com medo. Sinto as minhas forças indo embora”, desabafa Aldo Moura, presidente da Comissão DDT e Luta Pela Vida. Abalado com a partida de mais um companheiro, ele se prepara para expor o drama dos ex-guardas da Sucam, no mês de abril, em Genebra, na Suíça.
O convite partiu da presidência do Conselho de Direitos Humanos do Reino Unido, que como membro ativo da Organização das Nações Unidas (ONU) pretende discutir os efeitos devastadores do DDT em âmbito internacional. A idéia é inserir o tema na pauta da conferência mundial dos Direitos Humanos.
Na mala, Aldo promete levar munição suficiente para sensibilizar os presentes. Ví-deos, pronunciamentos feitos por parlamentares, ações do Ministério Público Federal, recortes de jornais, a lista de mortos e de contaminados. De acordo com os últimos levantamentos, pelo menos 580 pessoas podem estar com o veneno no organismo.
“Será um pedido de socorro. O nosso objetivo é que o nosso problema seja tratado com carinho e respeito. Não entendo porque o governo brasileiro ainda não se sensibilizou com o nosso drama”, questiona.
Ameaçado e com problemas cardíacos
O presidente da Comissão DDT e Luta Pela Vida, Aldo Moura, confidenciou A GAZETA, ontem, que vem sendo alvo de ameaças desde que iniciou o movimento em prol dos ex-guardas da Sucam. Partindo de um número restrito, uma voz masculina alerta que já está na hora de parar com o movimento e que está história já foi longe demais.
“Em virtude disso tive que mudar de endereço e passei a monitorar mais as ligações que recebo”, informa Aldo. Nem por isso, as intimidações cessaram. Essa situação acabou gerando uma situação de pânico entre os familiares de Aldo, que também sofre de problemas cardíacos.
Ontem, quando conversou com A GAZETA, ele se demonstrava bastante abatido com a notícia da morte de mais um companheiro e anunciava mais uma visita ao médico. “A gente luta para continuar vivo, mas não tem sido fácil”, revela.