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Passado mais de um século, confraria mantêm vivo o valor da Revolução Acreana


Poucos são os acreanos que dão o devido valor e importância ao dia 24 de janeiro, assim como é prestada ao 15 de junho (criação do Acre Estado), o 17 de novembro (assinatura do Tratado de Petrópolis) e 6 de agosto – o início da Revolução Acreana. Ora, o que começa tem um fim. Assim não poderia deixar de ser diferente com esse marcante momento da História do Acre.

Depois de cinco meses de uma sangrenta batalha no meio da selva amazônica, em 24 de janeiro de 1903 um exército formado por seringueiros, liderado por um gaúcho, tomava Puerto Alonso das mãos dos bolivianos; era o fim da Revolução Acreana, e o começo do direito de um povo que queria sair do jugo de La Paz e tornar este pedaço de terra brasileiro, ou mesmo formar uma nova pátria. Se o Brasil queria ou não o Acre, o próprio passado dá a resposta.

Passados 107 anos desde o fim desta passagem histórica, um grupo de historiadores e intelectuais tenta manter vivo o significado do 24 de janeiro e da revolução como um todo. Há pouco mais de dois anos foi fundada a Confraria das Revoluções Acreanas. Hoje duas solenidades serão realizadas para celebrar o fim dessa luta armada. Às 10h no 4º BIS (Batalhão de Infantaria de Selva), o Exército promove uma palestra para seu corpo de oficiais.

A proposta é fazer com que os militares conheçam um pouco mais da Revolução Acreana e de seu comandante, o sargento dissidente do Exército, José Plácido de Castro. A palestra será ministrada pelo historiador Adalberto Queiroz. Em Rio Branco, o batalhão de comando da Força Terrestre leva o nome do herói da Revolução. A homenagem é mais do que justa. Logo à noite, uma missa na Catedral Nossa Senhora de Nazaré lembrará os combatentes da guerra.

Um dos momentos que promete emocionar será quando a banda de música da Polícia Militar tocará a operata italiana “La Siciliana”, a mesma canção que soava da flauta do soldado acreano Abílio, quando o exército boliviano e dos seringueiros davam uma pausa para tratar seus feridos e enterrar os mortos. “Os próprios bolivianos pediam para ele [Abílio] tocá-la”, diz Abrahim Farhat, membro da confraria.

Ainda hoje será lançado o livro que conta a vida de Plácido de Castro em literatura de cordel. Uma das iniciativas da confraria é resgatar e recuperar as principais edificações e monumentos que marcaram a guerra. Cidade berço do levante, Porto Acre (a outrora Puerto Alonso) está abandonada. As correntes usadas pelas tropas bolivianas de uma margem à outra do Rio Acre para impedir a passagem de armamento e alimento para os rebeldes seringueiros foi destruída ao longo dos anos. As trincheiras, idem.

“Queremos recuperar essa corrente. Muitos soldados morreram tentando serrá-la”, afirma Farhat. Com a ajuda de emendas parlamentares, a confraria conseguiu R$ 2 milhões para a construção do quartel usado por Plácido de Castro, e o palácio do presidente da República Independente do Acre, Luiz Gálvez Rodríguez de Arias, o Imperador Gálvez.  

Antes da atitude ousada deste gaúcho que se transformou no símbolo da valentia do homem amazônida, o Acre já tinha passado por outras revoluções. Entre vitórias e derrotas, sempre com o apoio do governo amazonense, o Acre ensaiava seus primeiros passos para ser um Estado independente e, logo depois, brasileiro.

 

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