Apagão deixa Rondônia e Acre por mais de cinco horas sem energia
Além de Rio Branco, dez cidades do interior também foram afetadas
Neste oito de janeiro, acrea-nos e rondonienses viveram mais de cinco horas de caos, decorrentes de um apagão que atingiu todo o estado de Rondônia, a Capital Rio Branco e outros dez municípios do interior do Acre. A pane teria sido provocada pelo desligamento de uma linha de transmissão de energia da Eletronorte – popular linhão – que liga as cidades rondonienses de Ji-Paraná e Vilhena. O trecho onde ocorreu o problema faz parte da interligação Acre, Rondônia e Mato Grosso – linha inaugurada pela subsidiária do grupo Eletrobrás em outubro do ano passado.
No Acre, o fornecimento de energia foi interrompido por volta de 9h20 da manhã de ontem, refletindo diretamente no trânsito. Guardas da Companhia de Trânsito da Capital (Ciatran) tiveram que recorrer aos educadores do Departamento Estadual de Trânsito para poder controlar o grande fluxo de veículos no Centro da cidade.
Um congestionamento chegou a se formar no semáforo do cruzamento da Avenida Ceará com a Rua Floriano. O tráfego de veículos só foi restabelecido cerca de meia hora depois, a partir da intervenção de um guarda da Ciatran. A situação só não se complicou mais em decorrência do período de férias escolares, que reduz sensivelmente a movimentação de veículos nos horários de picos.
Os postos de distribuição de combustíveis também foram afetados. Sem energia, as bombas eletrônicas ficaram fora de operação, aumentando ainda mais o sufoco dos motoristas. O gerente do Auto Posto Ale 5 Ltda., Vanderlei Elcio Cidral, disse que mesmo com a ajuda de um gerador não foi possível evitar os prejuízos. Ele reclama ainda do desencontro de informações acerca do assunto.
“Inicialmente fomos informados que seriam 10 horas sem energia, mas a versão mudava a todo instante”, disse. Segundo ele, a loja de conveniência que funciona no posto teve grande prejuízo. Sem refrigeração, o estoque de gelo se reduziu a água.
O caos atingiu todos os setores. Salões de beleza, açougues, pequenos, médios e grandes comerciantes foram afetados. No Instituto Médico Legal (IML), a ausência de corpos no frezze deixou os servidores aliviados. Por lá, a energia também é essencial para manter a conservação dos cadáveres. “Agora, a ordem da direção é liberar os corpos o mais rápido possível, mas hoje não tem nenhum no frezze”, informou um funcionário.
Agências bancárias e hospitais de emergências funcionaram com a ajuda de geradores de energia. Pacientes que dependem de balões de oxigênio para se manterem vivos recorreram ao Pronto- Socorro e ao posto de atendimento da Unimed. Nas repartições públicas, alguns servidores foram dispensados mais cedo por conta da falta de luz.
Promoção de picolés ameniza prejuízos
Os proprietários da Sorveteria Acre Bom tiveram que improvisar para não ter perda total de sorvetes e picolés produzidos na manhã de ontem. A partir do início do restabelecimento da energia, a partir das 14h20, foi iniciada uma promoção relâmpago.
O preço do picolé de fruta, tabelado em R$ 1,50, caiu para R$ 1,00 e logo depois para R$ 0,50. “Essa é a forma que encontramos de não perde tudo”, informou Manuele Vasconcelos, funcionária da sorveteria.
De acordo com ela, a produção normal é de uma média de 1,3 a 1,5 mil picolés por dia, sem contar os baldes de sorvete. Até o final da tarde de ontem, ainda não era possível precisar o prejuízo gerado pelo apagão.
“Só sei que não foram poucos os baldes de sorvete que tivemos que jogar fora. Depois de três horas sem energia começou a derreter tudo”, reclamou.
Distribuidoras de frios acumulam prejuízos
O proprietário da Distribuidora Floresta, Adair José, estava indignado com o fato de ter mantido a câmara fria do seu estabelecimento desligada, mesmo após o início do restabelecimento de energia. “Este é o momento mais critico. É durante a oscilação da energia que ocorre a queima de equipamentos”, observou.
A preocupação do empresário não é por acaso. No Atacadão Rio Branco, segundo a direção, dois nobrecks de grande potencial, queimaram logo após as primeiras oscilações de energia. Após esta ocorrência, a ordem do pro-prietário, foi para desligar todos os equipamentos.
Falta de energia gera boataria na cidade
Diante a ausência de informações oficiais por parte da Eletroacre e da Eletronorte, uma onda de boatos tomou conta da cidade. Numa das primeiras versões repassadas à imprensa pelo representante da Companhia de Eletricidade do Acre (Eletroacre), Celso Mateus, uma seqüência de acontecimentos inesperados teriam provocado o problema na cidade de Vilhena (RO) e que o mesmo teria refletido em todo o estado de Rondônia e em parte do Acre. Entre os tais acontecimentos foi ventilada até a ação de um grupo de araras.
Por volta de meio-dia, por telefone, Celso Mateus, disse que o problema já tinha sido identificado e que o fornecimento de energia seria restabelecido em meia hora, oportunidade em que justificou que os esclarecimentos acerca do assunto deveriam ser buscados junto à direção da Eletronorte.
A esta altura, várias versões para o fato já circulavam na cidade. Muitos moradores de Rio Branco já estavam se preparando para ficar cinco dias as escuras; outros afirmavam que a energia só seria restabelecida na manhã deste sábado e outros que o problema teria sido provocado por ocorrências de chuvas em Rondônia.
Na Eletronorte, a informação era de que o gerente Regional, José Lima Loureiro Neves, havia se deslocado até a Subestação de Energia Elétrica de Rio Branco, localizada no km 7, da BR-364, onde tentava restabelecer o problema.
Sem energia restaurantes ficam vazios
Mesmo com a falta de energia, a cozinha do Restaurante Pão de Queijo não parou ontem. No horário de sempre, o almoço estava servido, mas a ausência de energia espantou a clientela. “O nosso balcão é aquecido a banho-maria, sem luz a comida esfriou mais cedo”, justificou a proprietária Denise Borges.
Segundo ela, pelo menos 50% da produção foi perdida. Além de problemas com a conservação dos alimentos, o apagão também tirou de operação a máquina de cartão de crédito, a balança digital e os telefones. “Também ficamos sem água já que o nosso abastecimento é feito mediante a ativação de uma bomba”, diz.
No período da tarde, nova queda de energia
Depois de uma manhã de caos, o acreano viveu uma tarde de incertezas a partir do restabelecimento da distribuição de energia elétrica. Com constantes oscilações, muitos comerciantes optaram por fechar as portas de suas lojas, ao invés de arriscar terem um prejuízo maior. No Segundo Distrito da cidade, a maioria das lojas permaneceu fechada.
Por volta de 16h30, quando se acreditava que a situação tinha sido resolvida de fato, uma nova queda de energia foi registrada em Rio Branco, se prolongando por pelo menos mais meia hora.
Binho se pronuncia através de nota oficial
No final da tarde, o governador Binho Marques (PT), se pronunciou sobre o apagão através de nota oficial. No documento, o governo credita à Eletrobrás, através da Eletronorte, a responsabilidade sobre a distribuição de energia elétrica no Estado.
Lembra ainda que desde a implantação do linhão entre Porto Velho e Rio Branco, o Governo do Acre manifestou formalmente ao Ministério de Minas e Energia e aos presidentes da Eletrobrás e da Eletronorte a preocupação de que o sistema operasse com segurança, eficiência e qualidade.
Ao final, Binho Marques se solidariza com a população acreana. “[…] nos solidarizamos com a população sobre os transtornos e prejuízos causados pelas freqüentes interrupções de energia. Reafirmando nosso total empenho em monitorar a situação e nosso compromisso de continuar cobrando qualidade e confiabilidade dos serviços de geração e distribuição de energia elétrica”.
Nota oficial
O Governo do Estado do Acre acompanha com extrema preocupação as inúmeras interrupções no fornecimento de energia elétrica em todos os municípios do Estado, situação que se tornou ainda mais grave nesta sexta-feira, 08.01, quando ficamos por mais de 5 horas sem luz, acarretando prejuízos incalculáveis à população.
Esclarecemos que a geração e distribuição de energia elétrica são de responsabilidade direta da ELETROBRÁS através da ELETRONORTE, da ELETROACRE e Operadora Nacional do Sistema Elétrico, ONS, com regulamentação e fiscalização pela ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica.
Desde a implantação do “linhão” entre Porto Velho e Rio Branco e o início de sua operação interligando o Acre ao Sistema Nacional, em 23 de outubro de 2009, o Governo do Estado manifestou formalmente ao Ministério de Minas e Energia, aos presidentes da ELETROBRÁS, ELETRONORTE e ANEEL, a preocupação de que o sistema operasse com segurança, eficiência e qualidade, tendo em vista o atual estágio de desenvolvimento do Acre e suas perspectivas de crescimento.
Em julho de 2009 alertamos através de ofícios à ELETRONORTE e à ANEEL sobre a necessidade de garantir unidades geradoras reservas no parque de geração de Rio Branco sob a responsabilidade da ELETRONORTE, tendo em vista a possilibidade de haver qualquer transtorno no fornecimento de energia através do “linhão” e garantir a confiabilidade de que o sistema elétrico funcionasse nesta fase de interligação definitiva ao Sistema Nacional.
A preocupação do governo foi além, solicitando ainda que a ELETRONORTE iniciasse imediatamente a construção do segundo “linhão” interligando o Acre com maior segurança ao Sistema Nacional, tendo em vista ser a referida empresa a vencedora da licitação de mais essa obra de infra-estrutura garantida pelo governo do presidente Lula.
Visando a colaboração com o Sistema Elétrico Nacional, o Governo do Estado formalizou à ANEEL, em 23 de julho de 2009, a solicitação de delegação de competência para fiscalizar a prestação dos serviços de geração e distribuição de energia elétrica oferecidos no Acre. O assunto encontra-se em tramitação.
Nesse sentido, nos solidarizamos com a população sobre os transtornos e prejuízos causados pelas freqüentes interrupções de energia. Reafirmando nosso total empenho em monitorar a situação e nosso compromisso de continuar cobrando qualidade e confiabilidade dos serviços de geração e distribuição de energia elétrica.
Estamos aguardando Relatório Consubstanciado da ELETROBRÁS/ELETRONORTE, ONS E ANEEL, para compreendermos as ocorrências e apoiarmos nas soluções que estiverem ao alcance do governo do Estado.
Binho Marques
Governador do Estado do Acre