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Aberta temporada de caça aos vices


Semana fraca na política. Todo mundo recolhido esperando para mexer as peças no tabuleiro eleitoral. Tempo de prudência. No entanto, as especulações de bastidores continuam. No plano nacional, o assunto é uma possível aliança entre o PSDB, de Serra, com o PV, da Marina Silva. Um dos líderes mais forte do PV nacional, o ex-guerrilheiro e vereador carioca, Alfredo Sirkis, reagiu ontem às informações especulativas da imprensa nacional. Em seu blog, o vereador – um dos fundadores do partido – afirmou que não existe a mais remota hipótese de qualquer cenário de primeiro turno onde Marina não esteja como candidata à presidência.

“Detectamos claramente uma ‘plantação’ proveniente de áreas petistas que, curiosamente, coincide com outra, anterior, de seus homólogos tucanos, tentando criar vínculos entre a candidatura de Marina e Serra. Bobagem”, afirmou o Sirkis. Entretanto, ele não descartou uma possível aliança entre os dois partidos num eventual segundo turno.

O fato é que se a boataria da aliança se confirmar Serra teria novos eleitores. O PV é muito forte no Rio de Janeiro. O deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) há mais de vinte anos trabalha o partido na cidade, o segundo colégio eleitoral do Brasil, entre os municípios. Foi candidato a prefeito duas vezes, a governador, a presidente da República e ganhou duas eleições à Câmara. Gabeira tem um capital político considerável em terras fluminenses que colocará disponível à senadora acreana para definir o seu rumo político.  

As recentes declarações do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), de que disputará o Senado colaboram para abrir as possibilidades da aliança PSDB-PV. Tudo indica que o mineiro deverá almejar a presidência do Senado. Aécio transita bem tanto nas hostes tucanas quanto petistas. Conseguiu unir, inclusive, os dois partidos para ganhar a prefeitura de Belo Horizonte, em 2008. Portanto, seria um candidato forte com qualquer quadro político pós-eleitoral em 2011.

Outro elemento importante para a definição desse quadro nacional é a posição que adotará o deputado Ciro Gomes (PSB-CE). A pré-candidatura do socialista poderia se transformar numa composição para vice em qualquer das chapas fortes à presidência. Ciro tem eleitorado fiel tanto no Nordeste quanto no Centro Sul do país. A sua postura moderada é de fácil adaptação ideológica para qualquer cenário.        

O vice de Dilma
Por outro lado, crescem as possibilidades do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), ser o vice de Dilma Rousseff (PT). A indicação do parlamentar seria um grande passo para pacificar peemedebistas em várias regiões do Brasil que não aprovam a aliança com o PT. Todos conhecem a capacidade de articulação política de Temer. Em São Paulo, a si-tuação se apaziguou, embora, ainda haja muito questionamento. É claro, o estado é governado por José Serra que ainda sonha com a adesão dos peemedebistas à sua candidatura. Isso sempre dá margem a avanços e recuos.

O fato é que Temer chegou à presidência da Câmara através da unidade com o PT. É um homem de confiança do presidente Lula (PT) para manter a governabilidade do país e tem a simpatia de Dilma Rousseff. O parlamentar paulista tem tudo para ser o fator de unidade capaz de mudar a opinião de importantes quadros do PMDB. Mesmo aqui no Acre a indicação de Temer como vice de Dilma seria um fator preponderante para concretizar uma possível aproximação entre petistas e peemedebistas. Temer representa o tradicional espírito do PMDB. A consignação da chapa com Dilma manteria até o final do governo os seis ministros peemedebistas e as centenas de cargos de segundo e terceiro escalão do seu partido. Em tempos de eleição é um capital considerável.

Reflexos regionais
Evidentemente que as mexidas no tabuleiro nacional irão se refletir nos estados. No Acre, a Frente Popular que congrega o maior número de partidos poderia se beneficiar ainda mais com a vinda do PMDB. Teria uma campanha aos cargos majoritários com o apoio de mais quatro prefeituras acreanas. Principalmente a da segunda maior cidade do Estado, Cruzeiro do Sul. Mas o importante é saber qual o papel que o PMDB teria nessa aliança. No mínimo os peemedebistas vão querer uma das candidaturas majoritárias. Uma vaga ao Senado ou o cargo de vice, que me parece mais provável.

Nesse caso, ficaria uma situação delicada em relação ao atual vice-governador, César Messias (PP). No entanto, a própria experiência parlamentar de Messias poderia ser a resposta a questão. Ele já presidiu a Aleac e teria uma eleição relativamente fácil a deputado estadual. Talvez como o mais votado do Estado. Com uma possível candidatura de Edvaldo Magalhães (PCdoB) ao Senado, César poderia comandar a Casa Legislativa acreana. Seria uma forma de mantê-lo leal ao projeto da FPA. Nessa posição, ele poderia ajudar diretamente o seu amigo pessoal e pré-candidato ao Governo, Tião Viana. Assim também os principais partidos da FPA esta-riam contemplados na escalação do time principal que disputará a eleição. Mas sem o PMDB na FPA dificilmente haverá outro candidato a vice que não seja César Messias.

Na oposição a esperança é que ainda haja alguma reviravolta em relação à aliança nacional entre PT e PMDB. Isso tornaria praticamente impossível qualquer aproximação entre os dois partidos no Acre. Os atores oposicionistas acrea-nos apostam numa disparada rumo à presidência de Serra. Todos se lembram do fator Lula que levou muitos políticos a governar estados onde as eleições pendiam para o lado de candidaturas tradicionais favoritas. O mesmo fenômeno poderia acontecer com a candidatura presidencial tucana arrastando candidatos aliados atualmente em desvantagem nas pesquisas eleitorais. A escolha dos vices da oposição dependerá da definição dos quadros nacionais e regionais.

Também o desgaste natural de 12 anos de poder da FPA poderá ser um fator de alento à oposição. O próprio ex-governador Jorge Viana (PT) admite que o seu grupo político precisará justificar aos acreanos as razões para lutarem por um quarto mandato. Mas por outro lado, a oposição terá que convencer os eleitores que tem quadros confiáveis para governar o Estado com segurança. Isso só será possível com um projeto de governo claro. Ataques pessoais e críticas ao atual modelo econômico não seriam suficientes para mudar a tendência registrada em algumas pesquisas internas feitas por partidos tanto da situação quanto da oposição.

Portanto, as coisas parecem andar a passo de tartaruga em relação às eleições de 2010. Mas na realidade as articulações estão muito mais aquecidas do que os eleitores possam imaginar. É tempo de muita conversa. Até julho muita água passará por debaixo das pontes do Rio Acre e, certamente, grandes surpresas virão.         
 

 

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