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Lula pede que Jorge Viana seja candidato em 2010


Mais de uma centena de petistas estiveram ontem no Tea-tro Hélio Melo, para abrir uma série de comemorações dos 30 anos da fundação do partido. O governador Binho Marques destacou que o PT no Acre é um modelo para o Brasil. “O PT foi formado e já começou a mobilização de massa e conseguiu se legalizar a partir do Acre. Foi aqui ainda que pela primeira vez um candidato petista ao governo foi para o segundo turno. O PT não é um partido de palavras, mas que faz acontecer e vai continuar atuando para promover a justiça social no Brasil”, disse Binho.

O ponto alto da abertura das comemorações foi à palestra do ex-governador Jorge Viana e as filiações do secretário estadual de Meio Ambiente, Eufram Amaral e, da filha do sindicalista Chico Mendes, Angela Mendes. A mestre de cerimônia se referiu ao toque verde dos dois novos filiados. Também foi aberta uma campanha de arrecadação entre os filiados para saudar uma dívida de R$ 70 mil. “Mas nós temos que conseguir pelo menos o dobro para ajudar na campanha dos companheiros e companheiras”, disse Jorge Viana.

O presidente do PT acreano, Leonardo Brito, afirmou que os 30 anos é uma oportunidade para os militantes refletirem os erros e acertos. “Assim vamos continuar uma caminhada que está dando certo”, ressaltou. Binho Marques contou que tem reunido os secretários de Governo para uma avaliação das realizações nos mais recentes anos de governos petistas. “O nosso propósito foi realizado e com projetos que podem ser aproveitados em outros lugares. No próximo ano teremos outro governador e iniciará uma nova fase”, revelou. Binho também frisou que o modelo econômico do Estado de baixa geração de carbônico deverá ser uma garantia às gerações futuras de acrea-nos para uma maior inserção social. “O que fizemos até agora foi apenas o começo. Melhoramos os resultados sociais em todas as áreas”, garantiu.

Comemoração no ano eleitoral
Na sua palestra, Jorge Viana, fez uma avaliação da trajetória do partido nos cenários nacional e acreano. “O PT tem uma história bonita que mudou a história e o Brasil e isso ninguém pode negar. Uma história que nasceu das pessoas mais simples e de lugares mais distantes como o Acre, que é uma referência na existência do PT com o seu projeto de gestão. É um lugar onde, talvez, poderemos ter um quarto mandato que é um recorde no PT. Mas o bom do PT é que nesses 30 anos a gente tem renovado os nossos compromissos com a história e os princí-pios que nos levaram até aqui. O partido só vai continuar novo e grande se renovarmos cotidianamente o nosso compromisso com o povo mais pobre  que sofre injustiça. E se nós nos poli-ciarmos, inclusive, para que a gente possa fazer o que é o certo. O PT representa a possibilidade de uma política feita com grandeza”, comemorou.

Pedido do Lula
Jorge destacou que o próprio presidente Lula pediu para que pensasse em ser candidato ao Senado, em 2010. “Somos crias do presidente Lula, desde os anos 80. Ele sempre esteve conosco nas horas da tristeza e do sofrimento e também na hora que pôde ajudar como tem feito. É óbvio que ele está preocupado e quer a continuidade desse projeto no Acre que o Binho tem conduzido tão bem, mas que precisa de continuidade. O Lula me pediu para ser candidato porque quer uma representação diferenciada no Congresso e, principalmente, no Senado. Ele me perguntou se eu não apreciava a possibilidade de por o meu nome e ser candidato para ajudar nesse processo de renovação do Congresso”, finalizou.


Trinta anos e um país mudado

 Jorge Viana*

O Partido dos Trabalhadores faz 30 anos tendo uma história extraordinária para contar. Entre acertos e erros, sua trajetória foi animada pela coragem, pelo trabalho e até pelo sacrifício de milhares de militantes em todo o país. Isso ninguém lhe tira, nem o mérito de ter mudado o Brasil para melhor. Mas o sonho não acaba e é preciso seguir mudando este Brasil mudado. Para tanto, o PT deve valorizar os princípios que o levaram a se tornar o maior partido do país, especialmente a ética e a participação política como qualidade da cidadania.

É bom lembrar, sobretudo aos jovens, que a participação faz a política transparente e transformadora, enquanto a corrupção prospera na sombra e a desqualificação da atividade pública é uma espécie de reserva de mercado dos aproveitadores. Recentemente, até os mercados mais refratários às intervenções de Estado fizeram um reconhecimento global à política, pedindo aos políticos solução para a crise mundial criada pelos próprios mercados.
Da política tudo depende, desde decisões para economias mais justas até a concretização de ajuda humanitária nas horas mais dolorosas, como estas vividas agora no Haiti ou aqui no Rio de Janeiro, em São Paulo, em Minas Gerais.

A política deve ser exercida, quando não por todos, pelo menos por muitos.

E o PT, sendo o maior exemplo de mobilização popular no Brasil, deve construir seu futuro a partir desse legado. O 4º Congresso do Partido dos Trabalhadores é o momento certo para iniciar esse esforço, decidindo que a comemoração dos seus 30 anos não se resumirá a um evento, mas ganhará as ruas e se desdobrará por todo o ano.

É nas ruas que o PT pode despertar o entusiasmo da sua militância e trazer gente nova para renovar e inovar sua luta de 30 anos. Sendo 2010 um ano eleitoral, é óbvio que isso tem que ser feito em campanha, com presença forte no debate nacional e sem perder de vista que as questões regionais estão mais próximas das pessoas, inflando interesses e paixões mais ime-diatas. Isso significa, sim, que a prioridade do projeto nacional é indiscutível, mas deve ser trabalhada com inteligência e atentar para o risco do enfraquecimento do PT na base da sociedade. É preocupante que este risco se agrave justamente nos estados mais populosos, ricos e influentes do país, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Não faz sentido o PT não postular o governo em pelo menos um destes estados, pois tal ausência contradiz o próprio caráter nacional do partido.

Na extensão desse problema, nem a forte expressão do PT na região Nordeste impede o PMDB de cobiçar a Bahia, com a força de um ministério de grande importância projetando uma candidatura de enfrentamento à reeleição do governador petista Jacques Vagner. Sabidamente, nosso velho aliado desconversa sobre a Bahia e insiste em Minas, onde também não é governo, mas quer chegar lá ao custo da abdicação da candidatura petista.

A política de alianças também é indiscutível, mas o malabarismo do seu encaminhamento deve incluir a possibilidade do endurecimento pontual de algumas negociações, como não pode aceitar o “subfaturamento” de espaços políticos importantíssimos, a exemplo do comando da Câmara e do Senado, de ministérios estratégicos e até da candidatura à vice-Presidência da República.

A aliança com o PMDB é fundamental, mas não se pode negar que seja um casamento de conveniência. O que a faz honesta e politicamente recomendável, é justamente o fato de essa aliança ser celebrada às claras, diante do testemunho público e remetida à aprovação de milhões de eleitores.
Não sendo ideológica, a coligação nacional entre PT e PMDB deve buscar afinidades programáticas em favor da governabilidade federal, sem desconhecer as tensões regionais. Aliás, o PMDB foi um dos partidos que mais trabalharam para suprimir o princípio da verticalização das coligações partidárias, imposto pelo TSE em 2002.

A necessidade de fortalecer o projeto nacional pelo equilíbrio das alianças regionais tem a ver com a própria sustentabilidade do PT, como partido político e como condutor de um projeto de desenvolvimento sustentável para o país. O que não podemos é repetir o PSDB, que esgotou seu projeto nos 8 anos que permaneceu no Governo e agora, à falta de um discurso construtivo, apequena o debate e desce a um nível inimaginável para um partido de príncipes.

O PT tem obrigação de ser contemporâneo e capaz de acompanhar as transformações da sociedade moderna, para sua perspectiva de desenvolvimento sócio-ambiental não envelhecer.

Isso me lembra um texto de Affonso Romano de Sant’Anna sobre fazer 30 anos. Dizia que “chegar aos 30 é hora de se abismar. Por isto é preciso ter asas e sobre o abismo voar”. Então é tempo de o PT mostrar a cara, sair às ruas e revelar os sonhos desse Brasil mudado.
Não se pode negar que a aliança com o PMDB seja um casamento de conveniência

* Jorge Viana é engenheiro florestal. Foi prefeito de Rio Branco (1993/96) e governador do Acre (1999/2006) pelo PT. Email: jorgeviana.acre@gmail.com.

 

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