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Índios se entregam ao álcool, às drogas e à prostituição em Sena Madureira


Sena Madureira
– No município de Sena Madureira, a 144 quilômetros de Rio Branco, eles estão em toda parte. Nos mercados, praças, calçadas, nas caixas de lixo, nos bares e até mesmo nos pontos de exploração sexual e tráfico de drogas.

Os índios das tribos kulina, kaxinawa e jaminawa desceram o Rio Caeté e Purus, onde ficam suas aldeias, e instalaram-se às margens do Rio Iaco, no Centro da cidade há cerca de 7 anos, sob barracas construídas com sacos de lixo, lonas e palhas. Hoje, eles são mais de 400 que perambulam pelas ruas do município.

De lá para cá, pausadamente, toda rotina dos cerca de 40 mil habitantes do município e dos indígenas foi transformada, gerando transtornos que vitimam não apenas brancos, mas crianças índias com idade entre 8 a 12 anos, que tornaram-se alvos de traficantes e praticantes da exploração sexual infantil.

Além da desocupação e da miséria, uma relação viciosa é notória hoje numa comunidade mista, na qual as leis e os costumes se confundem e o desrespeito à cidadania de cada classe deixa de ser uma realidade.

“Hoje, uma grande parte das crianças indígenas que vivem no município estão fora da escola, perambulando pelas ruas e sendo vítimas do vício em álcool, drogas, da prostituição e da violência”, disse a comandante da Polícia Militar de Sena Madureira, Marilena Chaves.

Alcoolismo, prostituição, miséria e violência são as principais conseqüências do êxodo indígena em Sena Madureira, um fato que foi denunciado em reportagem exclusiva pelo jornal A GAZETA há 5 anos, mobilizando inclusive uma Força-Tarefa do Governo do Estado.

Passado o tempo, não houve medidas para solucionar o caso, e os agravantes da permissividade e da omissão começam a mostrar resultados.

Na Delegacia Geral de Polícia é possível encontrar vários registros de ocorrências policiais envolvendo índios, ora como vítimas, ora como agressores.

Nesta madrugada, mais um caso de tentativa de homicídio envolveu índios da tribo jami-nawa, desta vez entre parentes.

Todos esses fatos fazem parte de um relatório que está sendo montado pelo Comando da Polícia Militar de Sena Madureira e será encaminhado para o Comando Geral em Rio Branco, para o Governo do Estado e a Fundação Nacional do Índio (Funai) em Brasília para as devidas providências.

“Na maioria dos casos, eles são flagrados furtando pequenos objetos dos comércios, roupas dos varais de casas, e por último começam a mostrar interesses por bicicletas”, disse Marilena Chaves, que teve inclusive o sorvete de sua filha menor tomado por uma índia em plena praça principal do município.


Índia carrega o marido bêbado às margens do Rio Iaco

Funai admite problemas e alega falta de estrutura
O chefe interino da Funai no Acre, João Figueiredo, conversou com a reportagem na manhã de ontem, 4, e afirmou que a instituição está ciente da situação dos indígenas em Sena Madureira.

Segundo ele, uma reunião com as lideranças indígenas e o Comando da PM certamente vai garantir a segurança de índios e brancos dentro do município. “De acordo com o nosso chefe de posto em Sena, o policial foi transferido e todas as medidas estão sendo adotadas para evitar novos conflitos, haja vistas que a PM justificou o caso como uma fatalidade, ou seja, o policial não tinha a intenção de matar a vítima”, disse.

João justifica o trabalho da Funai afirmando que a instituição sempre trabalhou para levar os indígenas de volta para suas aldeias, mas eles são velozes em retornar para a cidade. “Para se ter idéia, uma vez eu sai de Sena Madureira com dois caminhões lotados para Assis Brasil. Quando eu retornei para Rio Branco, muitos deles já estavam aqui”, lembra.

Quanto a limitação do trabalho da Funai, ele atribui à falta de agilidade à falta de pessoal e estrutura. “Temos uma grande carência de funcionários, mas o presidente Lula já autorizou a realização de um concurso público para contratação de 3.500 pessoas. Isso é uma grande vitória para todos nós e para os povos indígenas”, frisa.

João Figueiredo admite ainda para reportagem que o problema do álcool e da prostituição tem preocupado a Funai, principalmente quando o dependente químico é o marido, que acaba prostituindo a esposa e as filhas em troca de uma garrafa de álcool.

Quando a opinião do vigário Paolino Baldassari que afirmou ser a Funai a “funerária” dos índios, ele diz: “é fácil jogar pedras quando o problema é administrado pelos outros”.

A Funai estuda a possibilidade de firmar um contrato com a Caixa Econômica Federal (CEF) para que um posto bancário seja construído próximo às aldeias, evitando assim a permanência das tribos na cidade. No entanto, essa idéia depende não somente da Funai, mas de várias outras autoridades estaduais e federais.

A instituição tirou de sua responsabilidade a área de saúde e educação indígena e atualmente responde pela parte jurídica, proteção de terras dos índios aldeiados e arredios, além da demarcação de território.
“Como somos responsáveis pelo Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondônia, 20 funcionários e quatro carros são insuficientes para solucionar todos os problemas ocorridos com os povos indígenas dessas regiões”, lamenta o administrador.


João Figueiredo, administrador interino da Funai no Acre

Prefeitura quer intervenção federal no município
O secretário de Administração de Sena Madureira, Cirleudo Alencar, disse à reportagem que a problemática indígena em Sena Madureira é grave, cujas conseqüências podem resultar em prejuízos incalculáveis para a sociedade e para os próprios povos indígenas.

“A prefeitura não tem poder para retirar os índios de dentro da cidade, e por isso mesmo nós vamos solicitar o apoio dos deputados federais para realizar uma intervenção do Ministério da Justiça e da Funai em Brasília no nosso município”, disse Cirleudo, lembrando que esta é uma medida que deve ser adotada imediatamente pelo prefeito Vanderlei Zaire.

De acordo com Alencar, a prefeitura está empenhada na solução do problema, e vários diálogos já aconteceram entre a Funai, lideranças indígenas e a Secretaria de Ação Social, sendo inclusive proposto uma remoção das barracas para o Igarapé Cafezal. Mas, nada de concreto foi executado ainda.

“Alguns representantes do Governo do Estado já estiveram aqui garantindo que construiriam uma casa de assistência para os índios que vêm para a cidade em busca de receber seus benefícios, mas até hoje a idéia não saiu do papel. O problema é que os índios que estão nas ruas de Sena estão perdendo sua tradição e estabeleceram uma relação de desrespeito à sociedade. Da mesma forma como nós brancos não podemos invadir as terras indígenas, os cidadãos senamadureirenses merecem respeito e o cumprimento das regras sociais. Isso quer dizer que os índios podem sim vir à cidade, mas não têm o direito de causar transtornos à população local com furtos, violência, alcoolismo, prostituição e mendicância”, finalizou Cirleudo Alencar.

“A Funai é a funerária dos índios”, diz padre Paolino

Vigário alerta para derramamento de sangue entre PMs e indígenas

Profundo conhecedor das causas indígenas, o padre Paolino Baldassari tem uma opinião formada sobre a atual situação dos povos indígenas no Acre, e especificamente em Sena Madureira.
Segundo ele, o êxodo indígena e suas conseqüências tornaram-se um problema insolúvel, já que as autoridades praticamente fecharam os olhos para a situação, tendo como principal responsável a Fundação Nacional do Índio (Funai).

“A Funai é a funerária dos índios. Foi ela quem trouxe eles para a cidade, incentivou eles a deixarem suas terras e seus costumes, entregando-os ao álcool, às drogas e à prostituição. Eles não têm noção do mal, simplesmente bebem álcool como tomam a ayuasca na floresta e se apossam das coisas alheias como é natural em suas aldeias dividirem o que têm entre si”, afirma o vigário.

Padre Paolino acusa a Funai ainda de tê-lo afastado dos povos indígenas, expulsando ele e vários missionários italianos das terras dos kulinas e jaminawas. “Fiquei mais de 3 meses nas aldeias com eles. Lá, eu ia para os roçados, construí-mos escolas, casas. Esse foi o momento que me senti mais realizado e eu sabia que eles eram felizes, apesar de terem um medo profundo da morte e das doenças, que eles chamam de “duri”, o feitiço que traz morte e enfermidades entre eles”, lembra Paolino.

Mesmo após sua saída da convivência nas aldeias, o padre visita as tribos anualmente e atende os kulinas, jaminawas, kaxinawas e alguns manchineris diariamente em seu consultório na catedral católica de Sena Madureira.

No entanto, as condições em que os povos indígenas estão entregues são motivo de tristeza para Baldassari, que destaca: “se antes eles eram oprimidos, passaram a ser opressores. O grande erro foi eles terem vindo para cidade, onde são usados por brancos para fazer o que há de errado, misturando ainda a sua cultura. Os índios (kulinas) não compreendem que o álcool e as drogas viciam. Eles não sabem distinguir o certo e o errado e não se preocupam com isso. E, hoje, o que vemos são homens, mulheres e crianças entregue ao vício do álcool e da prostituição em plena luz do dia”.

Padre Paolino relembra um episódio onde várias crianças índias entraram na igreja e levaram várias batinas dos padres. “Mas, em seguida, eles devolveram e eu não me preocupo com isso porque sei que para eles não existe roubo. Não existe posse entre eles. Não existe ganância. Se algum deles tem macaxeira ou banana em sua aldeia, é normal um outro chegar e pegar aquele alimento para ele. Eu dei gado para eles e eles trocaram tudo por álcool. Inclusive, a Funai me acusa de ter ensinado eles a roubar”, diz padre Paolino.

Apesar da falta de discernimento, os índios não são considerados santos por padre Pao-lino, que admite os excessos por parte das tribos em vários atos praticados em sociedade.

Algo que preocupa com intensidade Baldassari são as ameaças de derramamento de sangue dentro de Sena Madureira. “Os jaminawas já me disseram que precisam derramar sangue para vingar a morte do índio morto pela polícia. Eu conheço eles e sei que eles estão decididos a matar. E não adianta colocar o pelotão da PM porque eles querem vingança. Infelizmente, o Evangelho não ficou plantado dentro deles e nem do nosso povo”.

“Não sei o que será dessa situação. A base dos jaminawas é a vingança. Isso é cultural. Infelizmente, eles aprenderam o lado ruim da cidade e o Estado e nem ninguém resolve isso. Mas não podemos condenar os ín-dios. Eles devem apenas serem reconduzidos para as aldeias, onde é o seu verdadeiro lugar”, finalizou.

 
Padre Paolino atribui problemas à Funai

 
A GAZETA denunciou a prostituição indígena em 2005

 


Na época, autoridades garantiram solucionar o problema

Índio assassina outro, após bebedeira

A dependência do álcool  entre os índios continua a fazer vítimas. A prova disto é que por volta das 4 horas de ontem o índio Jonatan Kulina assassinou a golpes de lima, ferramenta utilizada para amolar facas, outro índio de mesma etnia, Ahuana Kulina, em Sena Madureira. O crime aconteceu às margens do Rio Iaco, após uma bebedeira.
O corpo do índio foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) de Rio Branco e será transferido para a aldeia em Manuel Urbano. 

 Ameaças de morte e agressões
O comandante geral da Polícia Militar no Acre, coronel Romário Célio, esteve em Sena Madureira há alguns dias. Além de fazer a entrega de vários equipamentos para o comando municipal, fez uma reunião com o chefe da Funai em Sena, José Correia e mais três lideranças indígena no 8º Batalhão.

O objetivo era esclarecer supostas ameaças de morte feitas por índios a policiais militares do município. As ameaças estariam ocorrendo devido a morte do índio Jordão Paulino Jaminawa, alvejado com um tiro de um PM quando tentava retalhar um açougueiro no Mercado dos Colonos, e em seguida tentou acertar o militar com golpes de terçado, desobedecendo a ordem de prisão policial.

O policial foi obrigado a deixar a cidade com a família para não ser morto. E, na mesma situação encontram-se outros PMs, algo que não é negado pelas autoridades policiais do município.

“O que ouvimos de alguns policiais é que há ameaças veladas e concretas da parte de alguns indígenas contra PMs. No entanto, essas informações foram negadas pelas lideranças indígenas. De qualquer forma, há um estado de alerta da parte dois policiais”, disse o tenente Agleyson Alexandrino Correia, um dos responsáveis pelo comando em Sena Madureira.

Além da falta de atitudes concretas, os abusos cometidos por indígenas em Sena vão mais além. Constantemente a polícia é acionada para atender ocorrências onde vários deles pulam muros das residências, furtam roupas, alimentos, promovem desordem pública com embriaguez e violência.

A comandante Marilena Chaves disse a reportagem da Agência Contilnet que não há discriminação de brancos contra índios em Sena Madureira e que um bom diá-logo sempre foi estabelecido entre as autoridades e seus povos.

“O que deve ser colocado aqui é que os costumes e leis estão confundindo as pessoas e estão sendo usados para abusar dos direitos e deveres de cada um. Os índios têm todo direito de até morarem na cidade, mas é preciso que mantenhamos a ordem social, que é ao mesmo tempo um direito e um dever de todos que convivem em sociedade”, disse ela.


Grupo de crianças índias buscam alimentos nas caixas de lixo em Sena Madureira

Comerciantes tornam-se reféns de abusos

Álcool é o principal produto consumido por índios no município

De acordo com o presidente da Associação Comercial no município, José Roberto, diariamente indígenas famintos invadem os comércios rasgando produtos e pedindo comida, abordando clientes e funcionários.
“Mas, o problema maior que enfrentamos é quando eles querem comprar bebida al-coólica e não queremos vender. Alguns nos ameaçam e dizem que só quem pode prender eles é a Funai ou a Federal, nos deixando refém de suas defesas”, diz a comerciante Anne Marcele, proprietária do Mercantil Madureira.

Se há os que se incomodam com a invasão, há também os que se aproveitam da situação como é o caso de comerciantes que não pretendem tomar atitudes quanto aos desmandos promovidos por grupos indígenas.

“Há muitos comerciantes aqui que vendem bebida al-coólica para índios, além de alimentos e outros itens, e por isso não têm interesse em denunciar certos abusos”, afirma outro comerciante senamadureirense.
Entre todos os problemas registrados com os povos indígenas que habitam em Sena Madureira, o alcoolismo é o mais freqüente e escancarado.

Em plena luz do dia é possível encontrar índios embriagados em praça pública, geralmente acompanhado de bebês de colo e de suas esposas, que pacientemente catam piolhos em si mesmo ou nos filhos debaixo das árvores.

Nos comércios onde não há venda de bebida alcoólica é possível observar que as reclamações de problemas com indígenas é quase zero. “Vendo para muitos índios aqui. Muitos chegam de forma civilizada, compram suas mercadorias e vão embora, e os que perguntam por bebida alcoólica eu informo que não vendo nada que contenha álcool”, diz José Airton, dono do Supermercado Central.

 

A Gazeta do Acre: