É natural a preocupação de professores em relação à linguagem da internet. Muitos questionam sobre a banalização do idioma. Outros defendem a tese de enriquecimento lin-güístico, isso porque novas palavras, a cada dia, entram no léxico do idioma pátrio. A verdade é que a internet vem revolucionando a comunicação humana de uma forma como nenhuma outra invenção foi capaz de fazer até hoje. E, ao tempo em que dissemina informação e divulgação mun-dial, também é veículo de interação entre indivíduos, independentemente de suas localizações geográficas. Assim, a internet trouxe numerosas mudanças no vocabulário empregado nas conversas dentro e fora do ambiente virtual.
Nesse novo contexto é importante observar que cada época possui uma forma própria de comunicar-se: os sons de tambor, o fogo, os sinais com panos ou bandeiras, o bilhetinho, o telégrafo e agora o telefone fixo-móvel, a internet e os telemóveis. O fato é que esse fenômeno internet, em pleno vigor neste século XXI, não foge à regra de qualquer outra época. As necessidades de comunicação têm sido muitas, o ritmo de vida é muito rápido, e o ser humano continua a inventar sempre o material que faz avançar os seus sonhos e sempre aperfeiçoando e indo mais além, de descoberta em descoberta. E, dessa forma, o homo sapiens está a converter-se em homo digitalis com a introdução, na vida diária, dos computadores, da internet e dos telemóveis.
A linguagem, como espelho da vida social, ajusta-se ao momento, aos meios, à tecnologia. Não há mais espaço, nas conversas online ou por telemóveis, para frases longas, textos em padrão culto. Por isso mesmo a linguagem integra-se às necessidades da vida moderna. Palavras são abreviadas até o ponto de se converterem em uma, duas ou no máximo três letras. São exemplos disso: não = n, sim = s, de = d, que = q, também = tb, cadê = kd, tc = teclar, porque = pq, aqui = aki, acho = axo, qualquer = qq, mais ou mas = +, blz = beleza, abç = abraços, fds = fim de semana, tb = também, vc = você, pq =porque, etc.
Percebe-se, nos poucos exemplos, que a pontuação e a acentuação foram abolidas (é = eh, não = naum), isso porque a escrita dos ambientes virtuais prende-se à fonética das palavras e não à ortografia fixada pela norma padrão, motivada por questões relativas à economia de espaço e à rapidez de transmissão de dados da comunicação. Essa é uma demonstração de como a linguagem está a serviço do usuário que a manipula segundo o tempo, a situação, o contexto.
Da mesma forma, a telefonia celular também difunde o envio de mensagens SMS – conhecidas por “torpedos” – com grandes vantagens aos usuários: não se perde tempo ao falar, mandam-se mensagens de qualquer lugar e a qualquer hora. Mais uma vez, as limitações tecnológicas – neste caso, o tamanho da tela do aparelho telefônico – influenciam a estrutura da linguagem utilizada: quanto menos caracteres usados, mais espaço para a mensagem. Daí decorre a necessidade de economia da linguagem em forma de abreviaturas. Tudo isso representa um momento da vida atual, não há nenhum perigo. Isso porque a linguagem retrata a vida humana no curso do tempo. E esse tempo de hoje é veloz, tecnológico, com linguagem virtual.
Têm-se, assim, breves comentários para dizer que a Internet não oferece nenhum perigo ao idioma português ou a qualquer outro. Vive-se o imperativo do tempo, da globalização, da tecnologia, da velocidade nos meios de comunicação. E a linguagem vir-tual passa a ser mais uma faceta da linguagem humana, em atenção ao tempo, ao meio, ao contexto, às necessidades, aos veículos. Importante é saber quando utilizar uma ou outra forma. Um ou outro padrão. O que está em jogo é a comunicação e se esta se realiza com eficiência acontece uma maravilha, nada a temer. É a linguagem cumprindo seu papel: ajustando-se ao meio e às necessidades de seus usuários.
Finalmente, dadas as dimensões, a internet – no que diz respeito ao uso da língua em ambientes virtuais — não pode ser ignorada, pois a linguagem da internet também está sujeita a regras, convencionalizadas pelo uso, nos novos gêneros discursivos que surgem no ambiente virtual, como o chat, fórum, lista de discussão, messenger, blog, etc. Cabe ao professor integrar a linguagem da internet ao rol das variedades sócio-estilísticas da língua, fazendo as correlações entre a norma e o uso.
DICAS DE GRAMÁTICA
QUANDO USAR QUE E QUÊ?
– Que é pronome, conjunção, advérbio ou partícula expletiva.
– Quê é um substantivo (com o sentido de “alguma coisa”), interjeição (indicando
surpresa, espanto) ou pronome em final de frase (imediatamente antes de ponto
final, de interrogação ou de exclamação)
Que você pretende, tratando-me dessa maneira? (Pronome interrogativo)
Você pretende o quê? (Pronome interrogativo em final de frase)
Quê? Quase me esqueço do nosso passeio. (Interjeição)
MAS E MAIS?
– Mas é uma conjunção adversativa, de mesmo valor que porém, contudo, todavia, no
entanto, entretanto.
– Mais é um advérbio de intensidade, mas também pode dar ideia de adição, acréscimo; tem sentido oposto a menos: Exemplos: Eu iria ao carnaval, mas (porém) não tenho dinheiro.Ela é a jovem mais (oposto a menos) bonita da escola.
Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Mestra em Letras pela Universidade Federal Fluminense; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras.