Não sei por que me deu vontade de revelar esse meu lado de mãe má, neste espaço.
Talvez alguém, em algum lugar, precise saber disso. É como diz o ditado, Deus escreve certo por linhas tortas. Vá saber?!
O fato, a verdade, é que eu sou muito má. Não me orgulho de ser má, mas prefiro ser má a encontrar o corpo de um filho, que estava desaparecido por mais de 10 dias, já em estado de decomposição.
Isso acontece gente. Acontece muito. Um exemplo são as amigas Tarcila Gusmão e Maria Eduarda, ambas com 16 anos, que desapareceram em 3 de maio de 2003 e somente depois de 10 dias seus corpos foram encontrados num canavial.
As meninas saíram de casa dizendo que iam passar o final de semana numa casa de amigos, numa praia do litoral sul de Pernambuco. Os pais não sabiam nem o nome do dono da casa em que elas ficariam. Eram pais bem legais, liberais, eticéteras e tais. Os assassinos não foram descobertos até hoje.
É por essa e outras que eu sou uma mãe má!
Segundo o médico psiquiatra Carlos Hecktheuer, está faltando mães e pais maus no nosso mundo.
Só uma mãe má pode perguntar ao filho aonde ele vai, com quem vai, o que vai fazer, qual caminho vai percorrer.Vai andando? Vai de ônibus? Vai de carona? Com quem? A que horas vai voltar? Está levando o celular??? E a sua carteirinha de identificação estudantil? Está no bolso?
Só um pai e uma mãe muito má podem fazer o filho ou a filha pagar os chicletes que pegaram “por engano” na venda da esquina dizendo ao dono: peguei uns chicletes ontem e gostaria de pagar.
É preciso ser muito má para não ficar calada e dizer que aquele novo amigo não era boa companhia para o filho (isso toda mãe má sente de longe!).
Mãe má tortura o filho ao exigir que ele limpe seu próprio quarto, lave suas próprias cuecas, faça as tarefas para só depois ir brincar.
Mãe má, que é mãe má, deixa transparecer seu desapontamento, sua frustração, quando o filho não cumpre com o que foi combinado. Ela deixa o filho assumir a responsabilidade por suas ações, mesmo quando as penalidades são duras e partem um coração de mãe.
Uma mãe má, ama muito. Ama tanto que é capaz de dizer não mesmo sabendo que o filho vai lhe odiar por isso (e em vários momentos odeiam mesmo!)
Não quero nem saber. Prefiro ser má e chata. Eu os pari e os quero vivos até que eu morra. E se depender de minhas atitudes más, certamente eles viverão um bom tempo respeitando o próximo, pagando suas contas em dia, sendo corretos e dignos, cidadãos de bom caráter.
Eliane Sinhasique e jornalista, radialista e publicitária