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Família de Wilson Pinheiro reabre processo contra Warner

Assassinado em 21 de julho de 1980, o líder sindical Wilson Pinheiro teve papel fundamental no fortalecimento da luta dos seringueiros contra a invasão dos fazendeiros chegados do Sul do país. A partir desse embate surgiram vários outros líderes dentro da floresta, entre eles Chico Mendes. Os dois, aliás, tiveram mortes parecidas – alvejados por seus algozes em tocaia.

Ao contrário de Chico, a causa de Wilson Pinheiro logo foi esquecida, e hoje poucos são os que conhecem a história do homem que fundou o primeiro sindicato dos trabalhadores rurais de Brasiléia. Já Chico Mendes ganhou fama internacional, com sua biografia virando livro e indo para as telas do cinema. A produção mais famosa é o filme “Amazônia em Chamas”, de 1994, que teve a direção de John Frankenheimer.

Em um dos trechos do longa aparece a história de Wilson Pinheiro. Aí está todo o imbróglio. Segundo a família, a Warner Bros, produtora do filme, usou da imagem e biografia dele sem autorização. Desde 2001 os herdeiros do ex-líder sindical lutam para que a Warner reconheça o erro e os recompense. Na instância da Justiça estadual, a família teve uma vitória e uma derrota.

No primeiro julgamento, o juiz reconheceu que realmente a Warner era culpada e devia repor o prejuízo. A produtora recorreu, e na decisão do Pleno os desembargadores cancelaram a primeira decisão e declararam a Warner inocente. Há quase dois anos o processo está parado. Agora, a família quer ressuscitá-lo e levá-lo para os tribunais em Brasília.

De acordo com o advogado dos Pinheiros, Paulo Dinelli, a estratégia dessa vez será fazer com que os filhos que não ingressaram na ação anterior façam parte dessa nova. Ao todo, Wilson Pinheiro deixou oito filhos. A maioria mora no Acre, mas outra parte vive em outros estados. “Ao contrário da família do Wilson, houve contato com a do Chico e foi paga a indenização pelo direito do uso de imagem”, diz Dinelli.

Segundo o advogado, a ação não tem fins financeiros, mas de a Warner reconhecer que agiu de forma desrespeitosa com a família. “Até o final de março vamos entrar com processo no Superior Tribunal de Justiça para cancelar a decisão do Tribunal de Justiça do Acre”.

Hiamar Pinheiro, 45, é uma das filhas do líder sindicalista. Quando seu pai foi assassinado, tinha apenas 15 anos. O sentimento dos herdeiros de Wilson é de revolta com o espectro em que se transformou toda a história de embates e mobilizações realizadas pelo patriarca.

“Eu nunca deixei que a memória de meu pai fosse apagada, que a luta dele morresse”, afirma Hiamar. Na internet, a única referência sobre a vida de Wilson Pinheiro está em inglês. Poucos sãos os estudos e artigos em português.

 Para jornalista, ‘Amazônia em Chamas’ é uma lástima
Jornalista veterano e que acompanhou toda a efervescência política do Acre durante os anos 1970 e 1980, Elson Martins afirma que o filme “Amazônia em Chamas” é uma lástima. “Como se tratava da Warner Bros, famosa pela produção de obras-primas do cinema, que tem tradição, eu acho que aquilo [o filme] foi um equívoco”, critica ele. De acordo com Martins, ocorreram muitas distorções. “Não reconheço o filme como uma referência daquele momento da história do Acre”.

 

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