A caminho de completar três anos de inaugurada, a Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) da Fundação Hospital Estadual do Acre (Fundhacre), também conhecida como Hospital do Câncer, se prepara para dar mais um passo ousado: a especialização de médicos residentes em radioterapia. A abertura da residência médica em oncologia deverá ser iniciada no ano que vem, quando a faculdade de medicina da Universidade Federal do Acre (Ufac) estará chegando ao número de pelo menos 250 novos médicos e os interessados poderão fazer a residência médica na área na Uncaon.
A vantagem da assistência médica em oncologia no Estado é que os pacientes podem ser tratados ao lado de familiares e amigos, o que ajuda na recuperação, atestam os médicos. “O sofrimento de uma pessoa que, na hora em que recebe um diagnóstico desses e tem que ser afastado do convívio de sua família e dos amigos, para buscar tratamento em outras localidades fora de seu domicílio, é indescritível”, disse o médico e senador Tião Viana (PT-AC), o principal articulador político para a criação do Hospital do Câncer no Acre. “Com a residência médica, estamos dando o segundo passo do sonho de instalação do hospital no Acre”, acrescentou.
Os médicos residentes deverão fazer parte da especialização em Rio Branco e de pelo menos seis meses junto ao hospital do Inca (Instituto Nacional do Câncer), no Rio de Janeiro, segundo anunciaram ontem, na Capital, o diretor clínico do hospital, Antônio Vendete, e Miguel Guizzard, médico especialista em radioterapia que está deixando o Rio e a medicina privada para se dedicar exclusivamente ao serviço público de saúde do Acre.
“Trabalhei minha vida toda na medicina privada e acho que chegou o momento de dar minha parcela de contribuição ao serviço público e escolhi o Acre para fazer isso”, disse Guizzard. “Vou fixar residência aqui”, anunciou o médico ao colega Tião Viana. A residência médica representa o segundo passo da ampliação e melhoria pelas quais o hospital vai passar a partir do mês de abril. “São obras orçadas em pelo menos R$ 4 milhões, que vão permitir uma ampliação prevista de pelo menos 4.500 metros quadrados, com a construção de dois blocos de três andares”, disse o diretor Antônio Vandette. “Isso permitirá melhores condições de trabalho no atendimento de detecção, internação e de diagnósticos”, disse o senador Tião Viana, ao anunciar que os recursos para a obra já estão assegurados.
Obras físicas e equipamentos do hospital já consumiram investimentos superiores a R$ 30 milhões. O hospital dispõe, por exemplo, de instalações de emergência que custaram R$ 360 mil em recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Tesouro Estadual. O serviço conta com sala de consulta e quatro leitos. Além disso, dispõe de equipamento de última geração, como um tomógrafo de valor estimado em mais de R$ 800 mil, que foi doado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) do Rio de Janeiro. Com o equipamento é possível obter o diagnóstico em alguns minutos.
Um dos serviços prestados é de braquiterapia, que consiste numa forma especial de tratamento com radiação ionizante, utilizada para tratar pequenos volumes de tumor no corpo. Este tipo de tratamento permite que uma maior dose de radiação seja usada para tratar o tumor e que baixas doses de radiação atinjam os tecidos sadios próximos a ele. A braquiterapia pode ser utilizada para o tratamento de tumores do cérebro, pulmão, esôfago, próstata, além daqueles que podem se desenvolver no aparelho reprodutor feminino.
O Hospital do Câncer já atende com mais de 21 espe-cialidades, o que reduziu drasticamente o Tratamento Fora do Domícilio (TFD), programa pelo qual o Governo do Estado gastava cerca de R$ 600 mil em passagens ao mês para levar pacientes em tratamento para outros estados. Os próximos desafios do HC são am-pliar a assistência na detecção precoce; aumentar o índice de cura (hoje em 60% para adultos e 80% para crianças); dotar de todas as especialidades oncológicas; criar a Agência de Combate ao Câncer; promover a descentralização com postos do HC no interior; construir modelo para o Brasil em assistência, detecção e prevenção.
As estatísticas indicam que uma média de 50% dos casos de câncer no Estado são de mama ou de colo de útero. Além destes, os que têm maior incidência são o de pulmão, próstata e pele. Ao contrário do que o imaginário popular pensa, a doença não significa a certeza de morte e a maioria dos casos podem ser curados através de tratamento, desde que o diagnóstico seja feito no início.
O Hospital do Câncer evoluiu muito em apenas um ano. “Entre os oito módulos do Projeto Expande, é o único que atingiu a meta e superou as expectativas rapidamente”, disse Antônio Carlos Ven-dette. O Projeto de Expansão da Assistência Oncológica (Expande) é uma estratégia criada pelo Ministério da Saúde visando à ampliação da assistência oncológica no Brasil pela implantação de serviços que integram os diversos tipos de recursos necessários a esse serviço, que é de alta complexidade, em hospitais gerais.
O Acre tem uma estimativa de mais de 600 casos de câncer por ano. Desse total, média de 440 são registrados em Rio Branco, onde vivem mais de 50% da população. Os tipos de câncer de comportamento mais agressivo entre os homens são o de próstata, estômago e pulmão. Entre as mulheres, os de colo de útero, mama e pulmão.
“Não resta dúvida de que estamos escrevendo um novo capítulo na história da medicina do Acre”, disse o senador Tião Viana, ao receber a notícia da criação do serviço de residência médica. “Trata-se de mais um passo avançado na formação médica em nosso Estado e eu não posso deixar de dizer que estou muito feliz com esta iniciativa, a qual devemos muito ao esforço do governador Binho Marques e de profissionais como os médicos, enfermeiros e outros técnicos que se dedicam ao Hospital do Câncer”, disse o senador. (Assessoria)