A construção de estradas na Amazônia, aliada ao crescimento da pecuária e da produção de grãos, é apontada como um dos principais fatores que contribuem para o aumento do desmatamento. Mas, para o setor produtivo da região, a interligação rodoviária é um dos caminhos mais rápidos e eficientes para desenvolvê-la. É o que defende o Projeto Norte Competitivo, capitaneado pelas federações das indústrias da região.
Em um mapa esboçado pelos idealizadores do projeto, há o desenho de rodovias onde atualmente existe uma imensa área de cobertura florestal, e que, em meio a tantos apelos de conservação da Amazônia, seria quase impossível pensar uma estrada bem ali. Um exemplo disso é a BR-319, a polêmica rodovia que liga Manaus a Porto Velho. Construída na década de 1970 pelo governo militar, hoje ela não oferece condições de tráfego e grande parte do trecho está fechado.
Sua reabertura é descartada pelos conservacionistas da floresta e criticada pelo próprio ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc. Em seu estudo sobre os impactos da repavimentação de BR-319, o pesquisador Philip Fearnside, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), afirma que a volta do fluxo de veículos na rodovia migraria o “arco do desmatamento” do sul da Amazônia para o Norte, a área menos afetada pela ação humana.
Conscientes dos resultados que um projeto logístico de transporte sem a preocupação ambiental pode causar na maior floresta tropical do mundo, os idealizadores do Norte Competitivo dizem ser necessário, sim, a conciliação de uma interligação entre os estados com a preservação da Amazônia.
Diz João Francisco Salomão, presidente da Fieac (Federação das Indústrias do Acre): “um dos grandes desafios da Amazônia é a implantação de eficaz e moderno sistema de transporte e logística, harmonioso com a preservação de suas reservas hídricas, cobertura vegetal e biodiversidade, fundamentais à sustentabilidade da região, do Brasil e do mundo”.
Para Salomão, a reabertura da BR-319 é de fundamental importância para incrementar o desenvolvimento da região. “Não é admissível que uma metrópole como Manaus fique isolada do resto do país”, critica. Além de tirar a capital do Amazonas do isolamento rodoviário, a estrada aumentaria as chances de exportação da produção dos demais estados do Norte para o mercado do Caribe.
Na avaliação do presidente da Fieac, os impactos da reabertura da BR-319 seriam mínimos, pois ela já existe e está aberta. A recuperação da rodovia está incluída dentro do pacote de obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Prevista para serem concluídas em 2012, as obras vão custar mais de R$ 600 milhões. O valor é maior do que a pavimentação da BR-364, interligando Rio Branco a Cruzeiro do Sul.
O objetivo do governo acreano era entregar a estrada completamente asfaltada no final de 2010. Por conta do período de chuvas que se alongou mais do que o normal no ano passado, o cronograma teve que ser alterado, adiando o ano de finalização dos trabalhos. A interligação entre os dois extremos do Estado também é apontado de grande importância para o desenvolvimento do Acre.
Com a BR-364, os dois maiores mercados do Estado vão estar conectados, aumentando as possibilidades de crescimento. Além disso, o empresariado local aposta na conclusão das obras da Rodovia do Pacífico, que encurtará a distância entre o comércio brasileiro e a Ásia, mais a costa oeste dos Estados Unidos.
O Norte Competitivo defende não só as rodovias. O projeto também estimulará a adoção de políticas que explorem de forma mais eficazes e modernas o transporte fluvial, muito menos caro que o terrestre e aéreo. Para os ambientalistas, muito mais do que o viés econômico, o transporte pelos rios ameniza os impactos da construção de uma estrada.