Desde a fundação da Frente Popular, sempre tem um partido que acaba se tornando estratégico para manter a unidade da coligação. No pleito anterior, o PP acabou cumprindo um papel fundamental na vitória do atual governador Binho Marques (PT), indicando o vice, César Messias (PP), depois de muita polêmica. Agora, as dúvidas gravitam em torno da indicação do segundo candidato ao Senado da FPA. A saída da senadora Marina Silva (PV-AC) do PT esquentou o debate em torno do assunto e colocou o próprio PV no centro da discussão.
O prestígio nacional e internacional da senadora, que deverá concorrer ao Planalto, abriu a perspectiva de uma indicação dos verdes à vaga. O nome escolhido foi o do deputado federal, Henrique Afonso (PV-AC). No entanto, a própria direção regional não acredita no sucesso da empreitada. Durante entrevista À GAZETA, a presidente do PV, no Acre, Shirley Torres, revelou que o nome de Henrique vai para o debate dentro da FPA, mas que o partido levará na manga a indicação do Doutor Julinho como suplente da provável candidatura do deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB). Shirley avaliou ainda o crescimento do PV depois da chegada de Marina Silva, descartou a possibilidade do PV se tornar uma terceira via fora da FPA nas eleições de 2010 e as coligações que estão sendo costuradas nas candidaturas proporcionais.
PV a Terceira Via?
Um importante representante da legenda do Acre fomentou que o PV poderia bancar a candidatura de Henrique Afonso ao Senado, mesmo fora da FPA. A presidente Shirley Torres retrucou: “a fonte está completamente enganada. Não existe a mínima possibilidade da gente sair da FPA, pelo menos até a eleição de 2010. Depois não sabemos o que acontecerá. O PV faz parte da FPA desde o início da sua história e é um dos poucos partidos que nunca se afastou. Conhecemos bem o projeto de desenvolvimento do Acre. A própria senadora Marina quando saiu do PT afirmou que no Acre as coisas são diferentes, a gente muda de casa, mas não muda de bairro. O projeto da FPA tem a nossa assinatura embaixo”, garantiu.
Candidatura independente ao Senado
Shirley vetou ainda a possibilidade de uma candidatura independente do seu partido. “O Henrique tendo vindo para o PV não haveria possibilidade de sair como candidato independente. O nome dele foi colocado pelo PV para enriquecer o debate. Nada mais legítimo que o nome do Edvaldo, a gente entende que houve conversa, muita dedicação e abnegação por parte dele. Mas o fato do Henrique ter vindo e ter legitimidade para almejar a vaga do Senado, com as suas bases do Juruá, é para enriquecer. Vamos começar a nos reunir no dia 26 de fevereiro com a FPA e o nome do Henrique é para que as coisas não fiquem tão direcionadas. O PV está num momento de crescimento, mas a questão de sair sozinho não existe. Já conversamos internamente sobre isso. Se nós estamos na FPA apoiando o candidato a governo o mesmo serve para toda a chapa majoritária. Estamos com os majoritários coligados ao Senado e aos partidos da FPA para deputado estadual e federal”, explicou.
Edvaldo é o candidato por direito
Apesar do nome do Henrique, a direção do PV admite que a prioridade à segunda vaga ao Senado da FPA é mesmo do Edvaldo Magalhães. “Antes da vinda da senadora Marina e do Henrique não existia esse tipo de debate dentro do PV. O próprio Henrique quando era do PT não tratava desse assunto enquanto o Fernando Melo (PT-AC) já vislumbrava essa possibilidade. A vinda do Henrique é que suscitou essa discussão. Esse tipo de conversa dentro da FPA é muito mais antiga com o Edvaldo. É tipo acordo antigo. A gente imagina que a bola da vez é o Edvaldo. Isso não quer dizer que o debate não possa ser acrescentado com o nome do Henrique, que tem legitimidade”, destacou.
Plano B
Como os próprios dirigentes verdes parecem não acreditar muito na possibilidade de indicarem o candidato ao Senado já deixaram um plano B pronto. “Nós já temos um acordo inicial com a FPA de que colocaremos o nome do Doutor Julinho na suplência da segunda vaga se for o Edvaldo. Mas se for o Henrique a gente retira o nome do Julinho e apóia o nome do Doutor Beirute (PTB) que é um dos representantes de um dos partidos que iremos nos coligar nas proporcionais. Inclusive já existe uma conversa do Beirute com a gente. O PTB entregou um documento ao coordenador da FPA que é o senador Tião Viana (PT-AC) para colocarmos o nome dele caso o Henrique seja o candidato”, salientou.
Descontentamento de filiados
A mesma fonte que aventou a possibilidade do PV se tornar uma terceira via também informou que existe descontentamento de filiados pela ligação do partido com FPA. Mais uma vez a presidente do PV negou a informação. “Não existe descontentamento expresso nas reuniões do partido. Estou indo agora fazer uma viagem e marcando reuniões com as executivas municipais do interior. Sinceramente esse filiado que está fazendo essas reuniões sequer me comunicou. Nós temos 12 executivas e ainda faltam criar mais dez que serão formadas até o dia 30 de abril quando haverá eleição para a próxima diretoria estadual. As pessoas confundem a FPA com o PT. O Carioca deu uma entrevista recentemente que criou um certo incomodo no PV. Mas ele não é a FPA. Ele declarou que nem sabia que Henrique era candidato e, se era, não teria legitimidade. Isso criou uma desconfiança com alguns dirigentes do PT, mas as declarações do Carioca podem ter sido um repente”, avaliou.
Shirley admite que Henrique Afonso também possa ter deixado petistas insatisfeitos com a sua saída do PT. “A saída do Henrique do PT foi traumática. Não é segredo que o Henrique conversou com outros partidos que não são da FPA. Existe uma ala da Igreja Evangélica que desejava que ele não permanecesse nos partidos ligados a FPA. Mas depois de uma conversa carinhosa com o Tião Viana é que foi firmada a vinda dele ao PV”, lembrou.
O vice-presidente regional do PV, Dot, também argumentou nesse momento da entrevista. “O Henrique Afonso quando se apresentou já havia uma candidatura sendo construída ao Senado na FPA. Ele pegou o barco andando. E a Marina Silva que seria a nossa liderança maior não poderia forçar a barra. Ela não vai fazer isso. Porque já estava sendo construída a espinha dorsal das candidaturas da FPA com o Jorge Viana (PT) e o Edvaldo. Para mudar isso seria muito complicado. Teria que se arranjar um outro lugar para o Edvaldo. Não tem como. Mas não vamos como derrotados. Afinal pode jogar um time pequeno com um grande e pode dar uma zebra. Isso é a mesma coisa que o Juventus entrar para jogar contra o Atlético Mineiro e o Juventus já entrar derrotado”, explicou o vice.
Marina X Dilma
Uma das preocupações de Shirley Torres é em relação ao grande número de candidatos à presidência dos partidos da FPA. “Tenho colocado com muita tranqüilidade que nós da FPA temos um problema para resolver que é o palanque para candidatos a Presidência da República. A Dilma é a candidata do PT e a FPA tem 15 partidos e entre eles cinco têm candidatos à presidência. O palanque da FPA, no Acre, vai ter que ter esses cinco candidatos, sim. Mas Isso será resolvido dentro das reuniões”, afirmou.
Novos caminhos para o PV
Depois da chegada da senadora Marina Silva, o PV, que tinha cerca de 700 filiados, aumentou para perto de mil. A meta, segundo os seus dirigentes, é terminar o ano com 1500 filiados. O crescimento do partido no Acre, depois do fator Marina, faz com que seus militantes sonhem com um futuro melhor. “O nosso partido tende a se fortalecer. Existe um pensamento em discussão interna que, nas eleições de 2012, a gente deverá sair com chapas puras majoritárias em vários municípios, inclusive, em Rio Branco”, confessou. Mas enquanto 2012 não chega o PV vai apresentar nas próximas eleições três candidatos a deputado federal e nove para estadual em coligações diversas. E, possivelmente, um suplente à vaga do Senado.