Numa entrevista exclusiva À GAZETA, o ex-governador Jorge Viana (PT), analisou os principais temas sociais e políticos do momento no Acre e no Brasil. Jorge falou sobre as articulações da Frente Popular visando às eleições de 2010. Como deve ser a escolha da chapa majoritária e a sua relação com a oposição. O ex-governador também afirmou ser contra a maneira como querem mexer no Código Florestal e mostrou as saídas energéticas para o Estado. Jorge frisou que num eventual quarto governo da FPA o foco principal será a industrialização do Acre. O ex-governador comentou ainda sobre os escândalos do governo do Distrito Federal e a postura que os políticos acreanos devem ter no próximo pleito eleitoral.
Relação com a Oposição
Recentemente uma declaração do ex-governador que chamou os oposicionistas de “balaio de gatos” desencadeou uma forte reação. Houve uma artilharia de acusações contra Jorge Viana. Ele analisa essa difícil relação. “Isso não é saudável para a política acreana. O Acre está vivendo um momento importante de crescimento e investimento na sua infra-estrutura graças à ação do presidente Lula (PT) e a bela condução do governador Binho Marques (PT). Acho um absurdo tudo isso. A gente é acreano e se conhece. Sabemos o linguajar que usamos aqui. Temos respeito por boa parte dos que fazem oposição porque são acreanos que tem uma história como nós. Lamentavelmente tem uns dois ou três que são pessoas desqualificadas. Jamais vou responder a essas pessoas porque são desonestas e têm uma vida mais parecida com um prontuário do que com uma vida pública. Mas o importante é que a gente tem pessoas que disputam conosco em pé de igualdade os mandatos e é isso que vai prevalecer. Da nossa parte só temos uma preocupação: que o Acre continue mudando e a vida do nosso povo melhorando e, se possível, acelerar esse processo. O foco tem que ser ajudar a melhorar o mundo a partir do lugar onde a gente vive. Isso é o que me motiva a fazer política”, falou.
Aliança PT-PMDB no Acre
O assunto foi cogitado durante algum tempo na imprensa acreana. Depois de declarações dos dois lados, Jorge, acha que a união está difícil. “Para o PMDB só falta formalizar, no plano na-cional, a candidatura presiden-cial da ministra Dilma (PT). A aliança com PMDB já é realidade. Mas tem alguns estados que não vai dar para fazer essa aliança. Já vi recentemente o deputado federal Flaviano Melo (PMDB-AC), assim como outras lideranças peemedebistas, dizendo que aqui tem um desencontro histórico do PT com PMDB. Acho que isso deverá se manter nessa eleição. Mas também acho que teremos uma relação mais tranqüila e civilizada entre o PT e o PMDB. Isso porque a gente vai estar defendendo a mesma candidatura a presidente, no caso a ministra Dilma. É um processo de amadurecimento que estaremos vivendo nessa eleição”, garantiu.
Segunda vaga ao Senado da FPA
No centro da formação da chapa majoritária da FPA está o debate sobre a segunda vaga ao Senado. Jorge Viana explica como ficou o processo com a disponibilização de um nome do PV. “O PV como os outros partidos está junto conosco e isso nos orgulha muito. Ele vai fazer parte também da discussão da montagem da chapa majoritária. Nós tivemos uma primeira reunião histórica da FPA com 15 partidos. Organizamos dois encaminhamentos. A criação do Conselho Político da FPA que vai deliberar sobre os problemas que a gente possa ter. Mas acredito que vamos ter sucesso na montagem da chapa majoritária e das coligações proporcionais.
Trabalhamos aqui para garantirmos tanto a sucessão do presidente Lula quanto do governador Binho e para ampliar os mandatos parlamentares. Nas discussões sobre as candidaturas ao Senado é normal que um parlamentar importante como o Henrique Afonso (PV-AC) esteja colocando o nome dele. O Fernando Melo (PT-AC) teve um gesto de grandeza e retirou o seu nome para o Senado e vai reforçar a nossa chapa para federal que, aliás, requer uma atenção especial. Temos o nome do Edvaldo Magalhães (PCdoB)que é uma importante liderança da FPA. Agora, o debate, inclusive, sobre o meu nome vai se dar dentro da FPA. Na próxima sexta vai ter uma reunião de instalação do Conselho e a gente está dando uma demonstração de unidade e respeito. Se fica um saco de gatos, uma brigalhada danada, isso não é bom.
O bom é brigar para fazer o melhor pelo povo. Mas essa situação da chapa do Senado e do governo estará bem resolvida. O nome do Tião Viana é muitíssimo bem aceito. Acho que para o Senado e os seus suplentes não vai haver maiores problemas. O espaço de debate é dentro da FPA com todos os partidos podendo dar a sua opinião e nos ajudando a encontrar o melhor caminho para vencermos as eleições desse ano”, salientou.
Mudança no Código Florestal
Teve uma audiência pública recentemente, em Rio Branco, com parlamentares federais para estudar uma possível mudança do Código Florestal. O governador Binho se posicionou contra algumas alterações. Jorge Viana concorda. “Estou inteiramente afinado com a posição do governador Binho. Não é que ele seja contra mexer no Código florestal. Mas contra alterar para piorar. Nós não podemos permitir que uma lei importante seja alterada para flexibilizar o desrespeito ao meio ambiente, a biodiversidade e as populações tradicionais. O que defendemos é que haja uma atualização e um aperfeiçoamento do Código porque o mundo já é outro. O código foi formulado nos anos 60 e nós já estamos vivendo a primeira década do Novo Milênio. Essas alterações têm que vir com as garantias para que nós possamos conservar o nosso patrimônio da biodiversidade, respeito ao meio ambiente e que dê suporte às populações tradicionais. Mas essencialmente queremos facilidades para aqueles que querem fazer o manejo dos recursos naturais e o aproveitamento inteligente da nossa biodiversidade. Essa é a mudança que precisamos experimentar. O Brasil tem compromissos assumidos de redução de emissões de carbono que causam mudanças climáticas e para cumprir isso a gente não pode relaxar com a legislação ambiental”, explicou.
Jorge criticou aqueles que querem um aumento da taxa de desmate na Amazônia. “Acho que quem faz esse discurso são pessoas atrasadas que estão fora do tempo. Tenho conversado, inclusive, com empresários ligados a Confederação da Agricultura, no Acre, e eles defendem o desmatamento zero. O que precisamos no Acre é usar melhor as áreas que já temos desmatadas e dar incentivo aos pequenos produtores para que possam produzir mais. Precisamos desburocratizar o licenciamento e facilitar o crédito e a vida daqueles que querem produzir a partir de atividades sustentáveis seja de produtos madeireiros ou não-madeireiros. Temos que defender uma economia florestal que gere emprego e renda e que melhore o padrão de vida das populações tradicionais. Temos visto seringueiros que estão manejando a floresta com manejo comunitário e nós temos que multiplicar isso por cem para que todos produtores do Acre possam ganhar algum dinheiro com a floresta. Com uma economia forte de base florestal a gente poderá, inclusive, comprar outros bens de consumo que precisamos”, analisou.
Prioridades de um eventual quarto mandato da FPA
Com a possibilidade do Acre ter mais um governo da FPA, Jorge Viana, fala das prioridades, no caso de uma vitória eleitoral. “Nós estamos no caminho certo. Uma das grandes tragédias no Acre é que nada tinha continuidade. Aliás, a gente falava que o Acre era a terra do já teve. Um começava uma coisa, vinha o outro e já fazia outra e a gente não tinha nada. Uma das grandes marcas da FPA é dar seqüência ao trabalho. Não tem mais o desperdício de abandonar tudo e começar de novo. O Binho está fazendo aquilo que não pude fazer, está melhorando o que não pude melhorar, está fazendo a manutenção daquilo que a gente tinha feito e está conseguindo intensificar os investimentos no Acre. O foco maior será mudar para melhor os indicadores sociais. Temos que dar uma fortalecida na área da Segurança, da Saúde, fazendo com que o Acre seja um exemplo nos indicadores de educação e, paralelamente, possa fortalecer a economia acreana em todos os municípios com indústrias sustentáveis para termos geração de emprego para toda a população e, principalmente, para a juventude”, garantiu.
Problema energético
Quando se fala em industrialização do Acre logo se pensa nos problemas energéticos. Jorge tem esperança de mudanças para melhor, em breve. “Acho que já estamos caminhando para a solução do problema energético. Daqui a dois anos já teremos algumas turbinas das hidrelétricas de Girau e Santo Antonio sendo acionadas. Dois anos não são nada para quem vive há cem anos esse problema. É óbvio que a gente precisa ter energia de mais qualidade e mais barata. A nossa energia é muito cara e de péssima qualidade. Por isso, que defendi a construção das hidrelétricas utilizando o potencial do Rio Madeira. Continuo defendendo que o Acre seja sócio desses empreendimentos, junto com Rondônia, para que a gente estimule o uso dos recursos naturais para melhorar a qualidade de vida do nosso povo. Esse é um assunto que está sendo bem encaminhado. Nós estamos vivendo uma verdadeira revolução na área de energia e logo teremos consolidada a energia da biomassa. Aqui no Acre nós temos uma indústria de um fogão que é capaz de gerar energia às populações isoladas na floresta. Não devemos sossegar enquanto essa revolução que o nosso Governo está fazendo com a Luz Para Todos não chegar à casa de todos os cidadãos. Nós estamos consolidando as nossas ligações rodoviárias, a energia e a ligação com o Pacífico. Isso é parte do nosso plano. Mas o nosso foco vai consolidar a industrialização. Em todos os municípios. Ter o máximo de valor agregado com empregos e impostos a serem gerados. O Acre era o final do Brasil, um lugar onde nada dava certo. Agora nós estamos com a estrada do Pacífico que abre o horizonte da Costa Oeste norte-americana e os mercados dos países asiáticos. O Acre será o portão de entrada do Brasil com uma zona de exportação e como uma ZPE que o senador Tião está batalhando tanto junto com os empresários. Temos que montar uma base industrial sólida com uma economia de baixo carbono e inclusão social”, finalizou.
Ética na política
Jorge Viana comenta os escândalos de Brasília e faz uma advertência aos políticos que participarão das próximas eleições. “O Acre é um exemplo. Nós podemos nos orgulhar de boa parte de nossos políticos. A gente fica com o coração apertado de ver uma sucessão de escândalos. E não tenho dúvidas que ainda têm muitos outros para vir do Centro -Sul do Brasil. Nós temos que estar vigilantes para nos diferenciarmos. O que me motiva a por meu nome a disposição da FPA é de ser um exemplo. Não só cumprindo o que a lei estabelece, mas para ser um exemplo de comportamento ético fazendo uma campanha sem esquemas e com absoluta honestidade. Esse é um dos temas que me motiva na política. Vamos fazer uma campanha com humildade conversando e visitando o Estado inteiro dialogando com as pessoas mais pobres. Ouvindo os que não têm voz. O importante é estar com a consciência tranqüila do que se fez, do se está fazendo e ainda se vai fazer. Quem quiser montar seus esquemas para enganar a população que encontre outro guarda-chuva que não o da FPA. Não faço questão de ser um dos mais votados do Brasil. Mas quero fazer uma campanha com dignidade e ética”, concluiu.