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O judeu e o carrapato

Nem quero lembrar as atrocidades cometidas pelos alemães contra os judeus pobres durante a segunda grande guerra. É claro que a perseguição aos ricos restringiu-se àqueles pouquíssimos que preferiram ser apanhados pela polícia secreta nazista, com as ventas enfiadas nos seus montes de dinheiro, a fugir para a América com o intuito premeditado de fazer daquela a nação mais poderosa da modernidade.

Sim, desde épocas muito remotas, os descendentes de Abrahão e Jacó foram os grandes financistas da história dos povos, com algum exagero. Ademais, é oportuno levar em consideração que os seguidores do Torá, o livro sagrado que guarda os dogmas da religião judaica, vieram, sim, para os Estados Unidos, com o objetivo único de financiar o seu desenvolvimento a juros altíssimos que tornaram multimilionárias famílias como as de Edourd Stern, David Rosemberg, Irving Moskovitz, Nelson Rockfeller, dentre muitas outras. Só para ilustrar os fatos aqui apostos, pesquisa de 2005 dá conta de que um terço dos milionários americanos são judeus.

Ora, senhores, nem poderia ser diferente. Com quantos trilhões de dólares foram financiadas guerras como a do Vietnã, como a do Golfo, como a do Afeganistão, dentre outras? Perfilaram-se os judeus criadores dos grandes conglomerados financeiros. Juntaram-se, de um lado, a simplicidade, a tradição e a sagacidade dos judeus loucos varridos por dinheiro e, do outro, a arrogância, a intolerância e o pedantismo dos americanos que querem o mundo, as armas e a glória só para si.

É claro que não tenho sequer o direito ou o dever de ser preconceituoso. E não o sou por origem. Sou, sim, caboclo, cafuzo, letrado, asteróide com luz própria e formador de opinião, segundo muitos o dizem.

E a roda da história continuou girando. E continua! Incrível!…

Fizeram tanto que findaram por nomear secretário de educação da cidade de Nova York, agora por último, o senhor Joel Klein, neto de judeus. É claro que as providências logo se fizeram drásticas, segundo artigo da Profa. Dra. Camila Guimarães, da revista Sociedade & Educação.

Pesquisa bem elaborada apontou para o fato de que há uma acentuada defasagem na qualidade do ensino daquela cidade. E viu mais: tal estado de coisas teria que ser prontamente debitado a professores preguiçosos, despreparados e disseminadores de pessimismos que infestam um sistema composto por mais de oitenta mil componentes.

Bem ao estilo judaico-cristão ultrapassado, os maus professores foram colocados de castigo. Há, hoje, setecentos deles que estão sendo pagos para não dar aulas. “Eles passam o dia de trabalho confinados em salas vazias, dentro de complexos chamados Centros de Recolocação Temporária, cujo objetivo maior, há anos, é afastar professores suspeitos de alcoolismo, agressão física contra alunos e assédio moral ou sexual”. A informação última é a de que, desde 2002, o governo municipal usa o mesmo expediente para afastar também os incompetentes.

Depois de momentos graves de discussão, o secretário apontou nova pesquisa dando conta de que resultados positivos começam agora a ser colhidos.
Os locais onde os carrapatos da nova ordem ficam confinados não são exatamente aconchegantes. Tirando as carteiras típicas, nada lembra uma sala de aula. Não há livros, mapas pendurados na parede nem computadores. Algumas sequer têm janelas. Os professores, como num pequeno campo de concentração neo-nazista, são vigiados por dois seguranças e dois supervisores da secretaria de educação, não podem acessar a internet ou usar celular, têm horário para chegar e ir embora, sempre obedecendo ao período que corresponde ao dia de trabalho normal, das oito às quinze horas.

O processo, bem semelhante ao de Nuremberg, começa quando o professor é denunciado pelo diretor da escola, que pode muito bem ser um desafeto seu, como no Brasil. O mané preguiça é, então, afastado imediatamente para as averiguações que podem, inclusive, levá-lo à perda do emprego, caso a acusação tenha procedência, é claro.

Estes procedimentos arcaicos estão longe de ser a grande saída para o problema porque se tornam muito caros. “Enquanto estão no limbo, os professores continuam a receber os seus salários e a contar tempo de serviço para garantir benefícios futuros, como a aposentadoria”. Hoje, a cidade de Nova York gasta cerca de cinco milhões de dólares por ano com os integrantes dos centros de confinamento intelectual carrapato.

Pior é que a medida gera descontentamento entre os professores que se sentem injustiçados. O senhor Klein está sendo acusado de querer acabar com a estabilidade no emprego. Ao fazer do seu cotidiano profissional algo insuportável e degradante, os professores condenados estão sendo forçados a pedir demissão. Ao que o secretário apela para a tradição ao admitir que é preciso evitar que professores incompetentes dêem aulas, no que é apoiado pelo poderoso sindicato da categoria.

Segundo a tradição cultural americana colocada em prática pela civilização judaico-cristã desde o tempo das treze colônias, ao cidadão dos Estados Unidos deve ser dada uma formação esmerada de modo a que seja preservado o elevado status da grande nação. Assim, o prejuízo dos centros é considerado menor perto da alternativa que seria deixar professores ruins influenciar centenas de milhares de crianças. Para o secretário, “é o único jeito de mantê-los afastados das responsabilidades de educar crianças e jovens”.

No Brasil como nos Estados Unidos, soluções linha dura como estas são explicadas pela dificuldade em mexer com direitos adquiridos dos professores.
Conforme anotei em artigo denominado A competência enfim premiada, de 22 de fevereiro de 2010, o Estado de São Paulo decidiu implantar um sistema baseado na meritocracia, mas enfrenta ações judiciais do sindicato dos professores. O plano é mais brando que as salas de confinamento. Em vez de punir maus professores, trata-se de premiar os melhores. A cada ano, a Secretaria paulista aplicará uma prova para diretores, professores, coordenadores e supervisores. Os vinte por cento melhor avaliados receberão aumentos de vinte e cinco por cento sobre os salários.

Apesar das rusgas com os sindicatos e considerando o que há de intempestivo na forma de ação do senhor Klein  –  um imponderado judeu contra uma turma de desajustados sociais  –  é preciso observar o quanto de racionalismo há no seu plano. É tido e havido entre muitos educadores que os pilares de qualquer ensino público (estabilidade de emprego, promoção por tempo de serviço e um sistema de remuneração hierárquico) beneficiam muito mais os funcionários e políticos de plantão do que os alunos. Com isto, ele bateu de frente com uma classe de profissionais que não está acostumada a ser avaliada e cobrada. Em verdade, no geral, professores não admitem que precisam de ajuda.

O que deu visibilidade à medida de Klein foi emprestar mais autonomia aos diretores de escolas. Antes, eles não podiam contratar ou demitir sua própria equipe. Os professores é que escolhiam onde lecionar, de acordo com o tempo de serviço. “Hoje, os diretores têm liberdade de contratação, gerência sobre o orçamento da escola e autonomia para decidir, por exemplo, pagar um salário maior para um professor que tenha melhor desempenho”. Eles só não podem, ainda, demitir professores estáveis.

E o processo fluiu como deveria. Junto com a autonomia, veio a cobrança. Hoje, assim que assume uma escola, o diretor assina um contrato dizendo quais são suas metas pedagógicas e orçamentárias. “Se não cumpri-las no prazo determinado, é demitido, e a escola fecha”. Desde 2002, noventa escolas desapareceram. A maioria dos diretores não agüentou. Cerca de setenta por cento se aposentaram ou pediram demissão, de acordo com dados oficiais.

Se de um lado as medidas foram radicais, do outro os sindicatos não pensam na melhoria real da qualidade do ensino, aquele em que um professor consegue botar no papel um texto de dez linhas sem dez erros mórbidos. É preciso, certamente, extirpar os maus professores. Da mesma forma, não vejo outra maneira de emprestar algum valor aos melhores a não ser através do julgamento do mérito e da competência real, em sala de aula.

Assim, se volto à história que gira feito moi-nho, percebo algo de vingativo nas atitudes do senhor Klein. Medidas radicais demais podem ser apenas paliativas e o efeito poderá revelar-se inócuo. O algoz teatral nestes tempos pós-modernos receita a mesma poção mágica e trágica, o mesmo veneno amargo do confinamento, de que foram vítimas os ancestrais judeus pelas mãos dos verdugos e bandoleiros alemães da SS e da Gestapo.

* José Cláudio Mota Porfiro é escritor.

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