Conviver com pessoas no mundo do trabalho, e mesmo fora dele, não é tarefa das mais simples, levando-se em consideração as constantes mutações do mundo moderno e as pressões emocionais que cada pessoa enfrenta no dia-a-dia. A vida no trabalho, a convivência familiar, o trânsito, tudo requer compreensão, doação, tolerância e, particularmente, respeito pela forma de ser de cada um. Não se pode moldar o mundo para agradar a uns poucos.
Pelo contrário, deve-se ter sabedoria para conviver em harmonia com todas as pessoas, numa relação de respeito e sociabilidade. Por isso tudo é importante resgatar a dimensão humana de cada pessoa, no sentido de proporcionar-lhe bem-estar, nas múltiplas situações de vida.
Entendo que o processo de comunicação – que hoje está cada dia mais mecânico, impessoal, indiferente, difícil – é fator da mais alta relevância na qualidade de vida e nas relações interpessoais. Não raras vezes somos surpreendidos por notícias – em jornais, rádio, telejornais, internet – que expõem situações corriqueiras a atingir um grau de violência tamanha, ao cúmulo do absurdo tolerável em vida social. Nesses instantes a gente indaga o que faz o ser humano com o seu semelhante?! Porque age de modo tão desumano, em situações tão banais, como nas relações de trabalho, no trânsito, restaurantes, clubes, bancos, estacionamentos, comércio etc. São conflitos que se resolveriam, apenas, com boas palavras, boa educação. Isso porque é muito mais nobre estender a mão do que esticar o dedo para alguém que, por vezes, não se sabe quem seja. A ira social é tamanha que não se respeitam mais as pessoas, nem pela idade, sexo, religião, cor, etnia. Parece que o mundo perdeu a dimensão das regras de boa conduta e as pessoas chegam ao cúmulo de extrapolar todos os códigos de ética, educação, sociabilidade, respeito de uns pelos outros. Há uma vio-lência absurda e injustificável.
E, nesse cenário, a individualidade, a violência urbana, a falta de amor, o pouco respeito ao próximo, tudo isso está a delinear um formato social preocupante. Aquilo que mais se avista, nas pessoas, é o egoísmo, uma intolerância exacerbada em relação aos outros, uma total falta de respeito e uma ausência à boa conduta social. Esse conjunto de exemplos de má conduta vem assumindo uma tonalidade predominante, posto que as pessoas precisam conviver em harmonia, guardar boas maneiras, exercitar o código de ética, respeitar uns aos outros. Afinal, viver em sociedade implica saber as regras de convívio social e exercitar a capacidade de dividir e ocupar espaços e papéis.
Diante de quadro tão frio, indiferente, violento, a gente fica a se perguntar o que aconteceu com a dádiva da fala? Em quais momentos deixamos de utilizar recursos, que nos são próprios, para nos comportarmos de modo irracional? Quando foi que a conversa, velha e boa conversa, saiu da pauta de nosso dia-a-dia deixando um espaço, sem regras, dentro da dinâmica social? Ninguém mais se cumprimenta, pelo contrário, a conduta da vio-lência verbal ou mesmo corporal está a ocupar momentos onde as pessoas deveriam estar sorrindo ao invés de proferirem palavrões e xingamentos.
O quê está acontecendo de fato? O que cada pessoa pode fazer para melhorar o convívio social? Pois será extremamente simplista apontar o dedo para a sociedade, tratando-a como “sórdida, falida, hipócrita”, classificando-a, severamente, como a vilã da história. Isso em nada ajudará, considerando que a sociedade é a reunião de pessoas, e portanto, nos inclui, definitivamente, tornando-nos elementos integrantes e participativos dentro dela. A sociedade, portanto, não é uma “entidade”, um “ser”, mas a reunião das pessoas, e estas sim determinam as características que a sociedade terá. Significa dizer que cada ser humano deve demonstrar o melhor de si, para bem contribuir ao bom convívio social, para a harmonia no trânsito, a paz no trabalho, nos lares, nas escolas, faculdades etc.
E, nesse contexto, sem dúvida a linguagem é a principal forma de comunicação e transmissão do conhecimento, idéias, crenças e até emoções. Sua expressão, no processo do relacionamento social, é determinante. Assim, cada ser humano deve melhorar, aperfeiçoar e educar a sua linguagem, no sentido de contribuir para a melhoria da qualidade da vida. Não será com xingamentos, palavrões, gritos de ordem que se irão ajustando os des-vios de conduta. Será com a palavra de boa educação, companheirismo, amor, compreensão que o mundo e a vida poderão se alterar em prol do bem-estar de uma comunidade.
E, dessa forma, o convívio coletivo garante a saúde do grupo e enriquece, sobremaneira, o indivíduo que se dispõe a dedicar-se na arte da conversa. Seja ela técnica, acadêmica, social, não importa, é a conversa que cria o elo que ativa a “liga” da sociedade. Sem a boa e frutífera linguagem a sociedade decresce e o ser humano se fragiliza, se amesquinha diante da vida.
Por isso, quando pensamos em comunicação interpessoal, podemos pensar em pontes. Criar pontes entre os corações. Isso me parece uma maneira bem simples de compreender a questão das regras de bom convívio social. E quanto mais pontes criamos, uns com os outros, mais opções teremos por onde transitar. Lembrando sempre que cada qual passeia pelas pontes sem aprisionar ninguém em seu “território” e nem abandonar o seu em detrimento do outro. Este ir e vir entre o coração das pessoas é, em verdade, a base do movimento social autêntico. Quando as pessoas convivem dentro desse trânsito parece haver, naturalmente, harmonia e entendimento. A conversa é, então, o meio do qual dispomos a nos fazer entender. A boa conversa possui regras que asseguram um bom desempenho, de modo a facilitar as relações interpessoais, em todos os níveis.
DICAS DE GRAMÁTICA
MAL CHEIRO OU MAU CHEIRO?
– Em “mal cheiro”, o mal opõe-se a bem e mau, a bom. Assim: mau cheiro (bom cheiro), mal-humorado (bem-humorado). Igualmente: mau humor, mal-intencionado, mau jeito, mal-estar.
FAZEM CINCO ANOS OU FAZ CINCO ANOS?
– Fazem” cinco anos. Fazer, quando exprime tempo, é impessoal: Faz cinco anos. / Fazia dois séculos. / Fez 15 dias.
HÁ DEZ ANOS OU HÁ DEZ ANOS ATRÁS?
– Há dez anos! Há e atrás indicam passado na frase. Use apenas há dez anos ou dez anos atrás.
Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Mestra em Letras pela Universidade Federal Fluminense; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras.