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O padre no presídio

Cada sociedade precisa de leis para se governar, garantir o respeito e penalizar os transgressores. Atualmente na Unidade de Recuperação Social Francisco D’Oliveira Conde, a prioridade número 1 é a de reabilitar os mais de 2,4 mil reeducandos. Até os velhos cárceres de menores ou “Pousadas”, se chamam hoje de Centros Socio-educativos. Tudo isso se fundamenta na idéia que o culpado possa ser ajudado  a  transformar sua própria personalidade através de uma pedagogia de reeducação.

A educação é o caminho para aprender novos princípios e novos estilos de vida. Precisa então acreditar na mudança que de um comportamento criminal se possa passar a um comportamento respeitoso das normas da sociedade. Este é o grande desafio da Direção do Iapen e de todos os Organismos que direta ou indiretamente se preocupam com o Sistema Penitenciário, pois todos ainda se angustiam com os trágicos resultados de 70% de reincidência, com a superpopulação nas celas, a inércia e o ócio de milhares de jovens em plena energia, para não falar das drogas que misteriosamente chegam dentro das celas.

A Pastoral Carcerária visita o presídio toda sexta-feira e dá para perceber quando o detento está no caminho de sua recuperação e quando está caindo nos abismos da revolta de um criminoso assumido: neste caso se considera a vítima e não exatamente   o réu daquele delito pelo qual  foi condenado. A visita ao presídio, longe de penalizar Satanás, quer testemunhar o amor de Deus que valoriza qualquer pessoa e a torna capaz de acreditar inclusive em seus próprios talentos para reagir, reconstruir o seu futuro e ser protagonista de seu próprio destino.

Felizmente há muitos presidiários que trilham o caminho de uma verdadeira recuperação,  chegando  a  expressar sua nova consciência com gestos, com poesias ou com orações como esta:

“Na hora da tribulação diga com fé:  Deus me trouxe aqui. É pela vontade Dele que eu estou aqui neste lugar certo, em que me renovarei.  Ele me manterá no seu amor e me dará a graça neste desafio de me comportar como uma criança. Então Ele fará deste meu desafio uma bênção me ensinando as lições que Ele acha que devo aprender, trabalhando em mim a graça que Ele pretende para mim. Finalmente na sua boa hora Ele me tirará daqui novamente, renovado na mente e no espírito, como e quando Ele sabe. Amém”. (Pavilhão H Cela 17)

As “pessoas de bem”
Na conversa com as “pes-soas de bem”, percebe-se uma mentalidade de completo desinteresse para com a problemática carcerária:  “que se virem, assim aprendem que o crime não compensa, podem ficar mesmo enterrados vivos naquele presídio, tem que judiar mesmo para eles aprender alguma coisa na vida”. É a típica mentalidade que, no lugar de resolver os problemas, os acrescenta.

Aqueles homens e mulheres de todas as idades que se encontram no presídio, às vezes abandonados por familiares envergonhados e medrosos, precisam ser escutados e acompanhados para continuarem a pertencer aos seres humanos e parar de se considerar uma desgraça. É neste cenário que a presença  da Pastoral Carcerária se torna muito importante.

Jesus pediu  visitar os presos como condição para entrar no Reino de Deus, pois o detento tem necessidade de esperar, de se agarrar a um futuro, de recuperar sua auto estima e de reconstruir a sua própria imagem. A Pastoral Carcerária, por decreto governamental faz parte da “Comissão de Prevenção e Enfrentamento da Tortura” uma Missão ao lado de outras 10 Instituições que sonham transformar aquele pedaço de inferno numa Escola de Reabilitação moral e social.

O presídio é uma experiência que sacode, que perturba, que clama por socorro urgente, pois seu projeto de reeducação poderá ser bem sucedido se muitas forças colaborarem,  inclusive a Pastoral Carcerária.

* Padre Mássimo Lombardi é reitor da Catedral Nossa Senhora de Nazaré, de Rio Branco.

 

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