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Cheia do Rio Acre já atinge mais de 3 mil famílias

O nível do Rio Acre atingiu ontem, logo pela manhã, às 6h, a marca de 15,09 m em Rio Branco, registrando uma cheia de 27 cm entre a madrugada de quinta (4) para ontem (5). Por conta das chuvas que continuam a cair nas cabeceiras, o volume de água da Capital continuou a subir durante toda a sexta-feira. Na última medida do dia, às 18h, o rio fechou com 15,30 metros (+ 21 cm em relação ao apresentado de manhã).
Com as novas cheias, a estimativa da Defesa Civil Estadual é de que os lares de mais de 3.200 famílias (ou 12.800 pessoas) já tenham sido atingidos pelo rio desde o começo da semana. Deste total, mais de 390 famílias (ou 1.560 pessoas) já tiveram suas casas encobertas pela água e foram transportadas, das quais 130 se mudaram por conta própria e 265 tiveram o suporte dos bombeiros: 149 desabrigados (que foram para o abrigo)  e 116 desalojados (que foram para as moradias de parentes).

Segundo o coronel Gilvan Vasconcelos, coordenador da Defesa Civil Municipal (Comdec/RB), é provável que o rio mantenha o seu nível elevado durante os próximos dias, já que as chuvas continuam enchendo as cabeceiras.

“Esperávamos que o rio não subisse tanto, pois a nossa estimativa de chuvas era de que fossem de baixos volumes. Porém, aconteceu o contrário. As chuvas continuam enchendo as cabeceiras. No Riozinho do Rola (principal afluente do Rio Acre e que manda água direto para cá) houve uma alta de 60 cm que o deixou acima dos 15,40 m. Em Xapuri, subiu mais de 1,1 metro. Assim, provavelmente o rio manterá esse grande volume altivo na Capital, sofrendo oscilações crescentes, até que as precipitações comecem a diminuir um pouco por estes lugares que desaguam aqui”, explicou o coronel.

A cheia de ontem também começou a trazer maiores danos aos 7 bairros que estão alagados. Eles são: Airton Sena, Seis de Agosto, Baixada do Habitasa, Adalberto Aragão, Taquari, Triângulo Novo e Cadeia Velha.

Abrigo do Parque de Exposições começa a lotar
Outra conseqüência dos 15,30 metros foi a maior ocupação no abrigo montado pela Defesa Civil e parceiros no Parque de Exposições Marechal Castelo Branco. Até às 18h de ontem, o espaço já acolhia 149 famílias (mais de 600 pessoas) em quase 200 boxes já construídos com área de 3x3m cada. Mais 50 stands estavam sendo feitos.

Baseado no crescimento diário destes desabrigados, é provável que o número de famílias encoste nos 200 ainda hoje. Contudo, vale ressaltar que o local comporta mais 131 famílias (além das 149), já que a sua capacidade total é de até 280 boxes. Ainda assim, se esta capacidade for atingida, a Defesa Civil já tem planos de montar um novo abrigo no Ginásio do Sesi. “Só sairemos daqui quando todo o espaço disponível for ocupado. Daí, pensaremos em outros lugares”, afirmou o coronel Gilvan Vasconcelos.

Voluntários e pessoas de má vontade
Apesar de já atingir um número grande de pessoas, o Parque de Exposições está sendo preenchido de forma organizada e segura. Conforme o coordenador da Defesa Civil Municipal, não há espaço para aqueles ‘filões’ que chegam ao local querendo se aproveitar da situação para gozar dos cuidados oferecidos aos desabrigados.

Quanto ao trabalho voluntário, o coronel explica que é bem vindo, porém, que seja feito um cadastro no Corpo de Bombeiros antes para regularizar como será esse ato voluntário. Assim, a Comdec evita que estes ‘sujeitos solidários’ aproveitem para pegar gasolina de graça, que furtem os pertences de desabrigados, entre outras práticas ilegais.

 Semsa amplia ações de alerta aos perigos da enchente
Diante do transbordamento do Rio Acre, a Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) já começou a intensificar as suas ações de prevenção e assistência aos perigos iminentes à população das áreas de risco da Capital. Não é para menos a preocupação da secretaria, tendo em vista que mais de 3,2 mil famílias (ou 12,8 mil pessoas) já estão sendo diretamente atingidas pela cheia do rio, igarapés ou lagos da cidade.

Entre os males que a Semsa, juntamente com parceiros como a Defesa Civil, ajudarão a prevenir destacam-se as chamadas doenças de veiculação hídrica (micoses, verminoses, dermatoses, cóleras, diarréias agudas, hepatite A, febre tifóide e, em especial, a leptospirose), além das ocorrências de afogamentos, choques elétricos e as envolvendo picadas de animais peçonhentos (cobras).

De acordo Jeosafá Cesar, diretor da Vigilância Epidemiológica da Semsa, os perigos da alagação possuem 2 momentos distintos: um na subida e outro na descida do rio. A primeira fase (atual) registra mais incidências de leptospiroses, verminoses, eletrocutamentos, picadas de cobras e de afogamentos. “Recomendamos que as pessoas permaneçam o menor tempo possível em contanto com a água. Além disso, fazemos um apelo especial aos pais para que não deixem seus filhos brincarem no rio”, ressaltou. 

No segundo momento, Jeosafá contou que são mais são comuns ocorrências de hepatite A, febre tifóide, dermatoses, além de se manterem altas as de picadas de cobras e de leptospiroses. “Nesta fase, recomendamos que a população redobre os seus esforços para a limpeza da casa inteira, recolha o lixo do quintal e só utiliza a água de poços quando tratadas/trocada (não jogar produto de limpeza nela)”, aconselhou ele.

Em suma, cada instante possui as suas especificidades de riscos.

Contudo, independente de qual seja a fase, um dos perigos mencionados é mais preocupante do que todos os outros devido à sua gravidade e quantidade. Trata-se da leptospirose, doença transmitida pela urina de roedores (principalmente ratos) e que, se não for devidamente tratada, pode causar morte hemorrágica no contaminado.

Até ontem, a leptospirose já havia fechado uma estatística prévia (já que a semana não acabou) de 28 notificações junto à Secretaria Municipal de Saúde, das quais 2 já foram confirmadas. “Essa é uma doença que nos preo-cupa bastante. Por isso, estamos com os agentes de Saúde prevenindo as pessoas no abrigo e nas áreas de risco. Todas as unidades de Saúde estão prontas para atender a esta e outras doenças, com as emergências sendo encaminhadas para as UPAs”, comentou.

Os sintomas da leptospirose são: febre, dor de cabeça, vômito e sensação de náusea, dores musculares, olhos amarelados e a famosa dor na ‘batata da perna’ (panturrilha). Urina escura pode representar um quadro mais avançado da doença. (T.M.)

 

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