Um verdadeiro orgulho para a rede pública de Ensino acreana. Assim deve ser homenagea-da a Escola Clínio Brandão, que integra tanto os estudantes ditos regulares, como os portadores de necessidades espe-ciais do 1º ao 9º ano letivo. Primeiro colégio edificado em Rio Branco, o lugar está totalmente adaptado a receber alunos cadeirantes, com distúrbios mentais (DM) e com síndrome de Down. E, muito mais do que ‘adaptada’, a instituição está pronta para educar e desenvolver as suas habilidades.
De acordo com Ismênia Marques, coordenadora de Ensino da Clínio Brandão, a escola recebeu todas as reformas de adequação para os especiais desde o início de 2009. Os corredores foram aperfeiçoados para dar acessibilidade às instalações, a entrada ganhou rampas, as portas foram ampliadas para 75 cm e as salas ganharam novas dimensões de espaço, móveis e objetos didáticos. “A Secretaria de Saúde montou uma estrutura suficiente para atendermos a todo tipo de aluno, de fato e de direito”, relatou.
E foi justamente esse investimento que permitiu à CB educar os seus ‘tesouros’ de modo prático e disciplinar, porém, descontraído. Segundo a coordenadora de Ensino, o colégio busca trabalhar ao máximo com atividades educativas e diferenciadas. Assim, são realizadas constantemente peças de teatro, oficinas de arte, apresentações de dança e música, gincanas, concursos de xadrez, aulas de reciclagem, etc. “E para nós o mais extraordinário é que os estudantes participam de tudo”, completou, orgulhosa, Ismênia.
No entanto, para se tornar esse modelo eclético de escola e promover tantas atividades didáticas apostar apenas na parte física não seria o bastante. Era preciso, acima de tudo, investir nos educadores que acolheriam os estudantes especiais. Por tal razão, os 29 professores e a equipe pedagógica/administrativa do colégio passaram por uma capacitação completa em 2007, os Saberes e Práticas da Inclusão.
“É como eu sempre digo: não é o aluno que deve se adaptar à escola, e sim a escola que deve se adaptar ao aluno. Por isso, a nossa preocupação é lidar com os nossos estudantes com os mínimos detalhes desde o momento em que ele passa pelo portão até a hora de ir embora. Seja ele portador de necessidades especiais ou não. E, para isso, só ter o espaço físico não é o bastante. Precisamos estar prontos para saber como tratar e desenvolver métodos de aprendizado a todos”, declarou a coordenadora.
Atualmente, a escola possui 493 estudantes, dentre os quais 19 requerem cuidados diferenciados. Para atender a tal demanda, são 9 salas de aula arrumadas sob os mínimos cuidados, corredores com superfície plana, sala de recursos, pátio, sala de informática com 10 computadores, coordenação, sala de professores, além da biblioteca ecológica e de uma área verde para recreações e educação ambiental.
A prova da qualidade de ensino
Se não tivesse sido nomeada de Clínio Brandão, com certeza a escola deveria ter se chamado ‘Inclusão Social’. Contudo, não é só na integração que o colégio mostra que é completo. Como toda grande instituição educacional, a CB também comprova a sua força em todos os aspectos através da qualidade de Ensino. Característica de gestão que pode ser vista no boletim do Sistema Estadual de Avaliação da Aprendizagem Escolar (Seape) do 5º Ano do Ensino Fundamental, emitido na última quarta-feira, 17.
Conforme o relatório do Sea-pe/SEE, a Clínio Brandão obteve uma média de proficiência (desempenho de qualidade de ensino) de 193,68 em portu-guês e 196,52 em matemática, com 84,09% de Percentual de Participação na primeira disciplina e 86,36% na segunda. As notas deixam a escola encostada no padrão de Ensino Adequado, o penúltimo na escala de excelência (atrás somente do padrão Avançado).
Outro mérito foi o de ter subido, nos últimos anos, na média geral de notas de 5,9 para 7,5 em outubro do ano passado, mantendo-se acima da média do Ideb 2009.
“Estes números são motivos de muito orgulho para nós, porque servem como as provas irrefutáveis de que o nosso trabalho com os alunos está sendo bem desenvolvido e que eles estão realmente apreendendo melhor os conteúdos. É o fruto de muito esforço de toda nossa equipe para expandir o poten-cial das crianças”, destacou Ismênia Marques
‘Nesta escola, eu aprendi a escrever’
Um dos maiores sonhos do pai de Valdemar Honorato da Costa Junior era de que o filho, portador de DM, aprendesse a escrever. Na escola Clínio Brandão, o jovem de 19 anos aprendeu não só a escrever, mas também a ler, a se relacionar melhor com as pessoas e escutar muita, muita música para se divertir. “Eu gosto muito daqui. Os professores são bem legais, especialmente a tia Cleonice. Ela dá aulas muito legais e interessantes. Eu gosto de aprender com ela”, contou o rapaz.
Uma história de 63 anos
Assim como o ensino inclusivo e qualitativo, a Escola Clínio Tavares Brandão tem uma história de 63 anos repleta de riquezas. Criado em 1947, a partir da doação das terras de Francisco Gama, o colégio foi tocado por 2 professoras, para atender fora de domicílios as crianças da zona rural da Capital acreana. Recebendo o nome de um ex-combatente da Revolução, o lugar tinha 4 salas de aula que deram os primeiros moldes a Rio Branco de como uma verdadeira escola, com estrutura própria, deveria funcionar.
“O colégio foi criado a partir desta doação de terreno, tendo como objetivo inicial educar os filhos de produtores rurais e operários de empresas próximas. As duas professoras do começo é que faziam tudo, desde dar aulas, até preparar as merendas, fazer a limpeza, cuidar dos meninos doentes, dar broncas nos mau-comportados e até administrar o lugar”, detalhou Ismênia.
Daí para frente, a escola foi crescendo, sempre com este caráter próprio de agregar os excluídos, até se tornar este exemplo de instituição que é hoje.