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Rio Acre transborda e afeta mais de 1,8 mil famílias

O Rio Acre ultrapassou ontem a cota de transbordamento da Capital (14 m) por 36 cm e já começou a invadir mais de 1.800 casas das áreas de risco da cidade. Com a nova alta de 67 cm registrada de segunda (1º) para ontem (2), cerca de 80 a 90 famílias que moram nos bairros Airton Sena, Seis de Agosto, Triângulo Novo e Baixada do Habitasa já começaram a se mudar de seus lares inundados para locais mais seguros (casas de parentes ou amigos). Outras 7 famílias ficaram desabrigadas. Para acolhê-las, a Defesa Civil construiu 80 boxes provisórios no Parque de Exposições.
A subida do rio é resultado das chuvas volumosas que estão castigando todo o Estado (incluindo as cabeceiras) desde o final da semana passada. Somente nestes dois primeiros dias de março, o Inpe registrou um volume acumulado de 42 milímetros de chuva no Acre, dos quais 15,60 mm foram na segunda-feira (1º) e 32,40 mm foram ontem (2). Já que este volume é previsto em 259,6 mm durante todo o mês, significa que já choveu 16,18% do total em apenas dois dias.

Como o Rio Acre mais uma vez surpreendeu e rechaçou qualquer estimativa de que não haveria alagações, é difícil prever com exatidão o que acontecerá com o seu nível dentro dos próximos dias. As duas únicas coisas que estão certas é que as chuvas não pararão até o final do próximo mês e que o rio continuará oscilando muito (com subidas e descidas) até lá. Em outras palavras, mais famílias rio-branquenses deverão se preocupar com as cheias do rio enquanto durar o ‘inverno amazônico’.

Um exemplo desta conclusão pôde ser observado ontem. Na 1ª medição do dia, às 6h da manhã, o rio registrava 14,23m. Às 9h, ele estava com 14,26m. Às 14h da tarde, o volume subiu para 14,30m. Às 16h, nova alta para 14,36m. Na última medida de ontem, às 18h, a régua apontou os mesmos 14,36m. As elevações podem continuar a acontecer hoje, ou não. Depende do volume das novas chuvas previstas pelo Inpe.

Para lidar com a situação, as Defesas Civis estadual e municipal estão pondo em prática o plano de contingência para enchentes e alagações desde a tarde de anteontem, quando rio superou a cota de alerta (13,50m). Além de abrigos temporários, os ‘agentes da vida’ estão fazendo visitas constantes aos bairros afetados e de risco, transportando famílias e seus pertences das moradias já bem afetadas, prestando socorro e atendimento emergenciais, além de levar alimentos às casas ‘ilhadas’. Em trabalho conjunto, as duas instituições estão atuando com cerca de 40 bombeiros para executar o plano.
Além dos quatro bairros já citados no 1º parágrafo, Rio Branco ainda possui mais áreas de riscos que podem ser afetadas com a subida do rio. Elas são: Cidade Nova, Taquari, Cadeia Velha e Adalberto Aragão.

* As informações foram obtidas com o ten-cel José Ivo, da Defesa Civil estadual, e o ten-cel. Gilvan Vasconcelos, da Defesa Civil municipal. Os dados de famílias atingidas correspondem a estimativas das duas instituições.

Seis de Agosto
No bairro Seis de Agosto, os moradores contam que o rio atingiu de vez as casas desde a chuva que caiu na noite de segunda-feira. Desde então, como o nível subiu mais ainda, algumas mudanças começaram a ser efetuadas. Já na manhã e tarde de ontem, os habitantes do local passaram o dia todo arrumando os seus pertences e transportando-os para lugares onde a água não alcança. Segundo um dos homens que estava ajudando a fazer as mudanças, cerca de 12 a 13 famílias haviam se mudado até a tarde de ontem.

Alguns residentes ainda se recusam a sair e dizem que vão esperar até que o rio invada de vez a sua moradia. “Agora está só no quintal. Acho que não vai passar daí não, mesmo que suba”, disse um deles. Outros (a maioria) falam que estão com muito medo e já estão com tudo pronto para se mudar quando for preciso. 

Por sua vez, a moradora Francisca Pessoa, que mora com um filho, está numa situação bem mais complicada. Segundo ela, a sua casa foi tomada pela água na madrugada de segunda para ontem, enquanto trabalhava. Na manhã de ontem, ela estava implorando para que a Defesa Civil a retirasse, pois ela teria de trabalhar de novo e não sabia o que poderia acontecer com as suas coisas enquanto estivesse fora.

Baixada do Habitasa
A situação das famílias da Baixada do Habitasa são bem diferentes. Alguns não querem sair ainda, outros estão pedindo que a Defesa Civil dê logo o aval para elas se mudarem. Alguns estão com água entrando em quase todos os cômodos de casa, outros estão apenas com o quintal invadido. Alguns abandonaram seu lar e estão acomodados na casa de parentes, outros ainda nem fazem idéia de onde se abrigar se o rio subir mais. Alguns estão preocupados, outros estão se divertindo tomando banho no rio.

De acordo com a moradora Liane da Silva Guimarães, que vive com mais 5 pessoas (3 crianças), a água já cobriu todo seu quintal e o banheiro da casa. “Estamos com muito medo de que o rio suba mais e nos expulse. Além disso, já vimos uma cobra nas redondezas. Queremos sair daqui, mas não sabemos para aonde ir e os bombeiros dizem que só vão nos ajudar quando a água encobrir a casa toda”, relatou a moça.

Já Ismael Souza, outro residente no bairro, já fez a sua mudança. Ele, a mulher e o filho estão na casa da sua irmã desde a manhã de ontem e conta que teve trabalho para tirar todas as suas coisas, mas conseguiu fazê-lo a tempo. “Deu para tirar tudo porque eu já tinha deixado arrumado para quando o rio subisse”, explicou ele.

 

 

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