Na reflexão de hoje, sobre con-fiança e traição, trago interessante e antiga história dos deuses. Eles estavam reunidos para dar destino à perfeição humana. Temiam que a tal perfeição afastasse as criaturas dos deuses. Foi então que o mais sábio deles disse: “vamos dar-lhes tudo, menos o segredo da felicidade”. “Mas se os humanos são tão inteligentes, vão acabar descobrindo esse segredo também!”, disseram os outros deuses em coro. “Não”, responde o sábio – “vamos esconder num lugar onde eles nunca vão achar – dentro deles mesmos”.
E desde sempre o ser humano corre em busca da felicidade e tropeça em duas “figuras” antagônicas: confiança e traição. A confiança, o norte de todas as relações afetivas e comerciais, é uma necessidade internalizada nas pessoas. Desde cedo se aprende o significado da confiança no contexto social e, principalmente, familiar. Os laços de sangue diretos, entre os membros de uma família, têm na confiança um dos seus dogmas de sobrevivência, afeto, consideração e prestígio.
Porém, a face mais importante do significado da confiança é quando ela se estabelece entre as pessoas e permite que escrevam a história, em todos os seus aspectos, da evolução e desenvolvimento da espécie. E é justamente no correr do tempo que as pessoas perdem a confiança nas outras. Mas o que aconteceu com a confiança entre as pessoas, no curso do tempo? Porque hoje é tão difícil se confiar em alguém?
Existem muitas respostas para estas perguntas. É certo, também, que elas não se esgotam nesta reflexão, mas podem ser mensuradas pela educação liberal, menos opressiva, que deixa as pessoas mais livres das amarras que norteavam a geração antecessora. Ainda, os padrões sociais se “afrouxaram” para que as pessoas pudessem usufruir uma série de vivências e experiências e, a partir de então, apurar o discernimento entre o certo e errado, o bom e o ruim para cada uma. Todavia, o bom e o ruim para uma pessoa nunca invalidou o bom ou ruim para a outra, ou para a sociedade, modo geral.
Dessa forma, na ausência desse discernimento, chega a traição, rompendo o trato com a confiança e fragilizando os vínculos então existentes. Por isso amizades se quebram, casamentos terminam, vêm às guerras, injustiças, desamor. São situações e sentimentos que amesquinham o ser humano, aniquilam os sonhos, dificultam a felicidade. E a fonte de toda a tragédia humana é a traição.
No campo das relações afetivas, homens e mulheres, ao serem traídos, sentem a mesma dor. O que muda é a forma como resolvem para si esta vivência. A história de opressão e discriminação fortaleceu as mulheres, por isso, talvez, elas se recuperem da traição em um tempo menor. Enquanto os homens, por sua vez, se ressentem duplamente com a traição, tanto por terem sido traídos, como por não terem percebido. Reside, aí, talvez, o peso que carregam, desde a Idade Média, com a palavra latina “curnus”, que faz maior a dor na cabeça e por isso eles “hibernam” por maior tempo.
Ao final, seja como for o tamanho da dor, não se pode perder de vista que maus-tratos (psicológicos ou físicos), desconsideração e desamor são atitudes que ajudam a construir uma traição e devem ser considerados na hora de se julgar alguém. Embora o tempo mude alguns valores e com eles as pessoas também, confiança é confiança, traição será sempre traição. A solução final, mirando-se na historinha inicial dos deuses, é não trair, nem ao outro nem a si, buscar a felicidade que habita dentro de cada coração.
DICAS DE GRAMÁTICA E AS SIGLAS, PROFESSORA?
– A sigla é um tipo de abreviatura. Ela tem o gênero da primeira palavra que a compõe. DAEA, por exemplo, é o DAEA porque o “D” quer dizer departamento (palavra masculina).
Quando a primeira palavra da sigla estiver no plural (CEASA – Centrais de Abastecimento S.A.), prevalece à concordância com ela. Exemplo: As CEASA colaborarão com o consumidor.
Confesso não ser o uso corrente. Fala-se até “O CEASA…”
QUANDO DEVO USAR PONTO EM SIGLA?
– Se a sigla formar sílabas, como se fosse uma palavra, não se usa o ponto: CEASA, FUVEST, DAEA. Do contrário, o ponto é usado, como: C.E.E. (Conselho Estadual de Educação), D.S.T. (doenças sexualmente transmissíveis), E.E.P.G. (escola estadual de primeiro grau)
SOBRESSAIR OU SOBRESSAIR-SE?
– “Sobressair” não é um verbo pronominal, portanto não tem o “se”. Exemplos: Ele sobressai (e não “sobressai-se”) entre os colegas. Foi o governo do Acre que mais sobressaiu (e não “sobressaiu-se”) no desenvolvimento regional. Verbos que também não são pronominais: simpatizar (e derivados), confraternizar e deparar.
Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; Mestra em Letras pela Universidade Federal Fluminense; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras.