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De autoridades e enchentes

Durante a campanha de lançamento do primeiro satélite brasileira, SCD-1, fomos a Los Angeles visitar um de nossos colegas que trabalhavam na montagem de um dos BrasilSat, lá ouvi do meu atual chefe em quais situações se conhece uma pessoa. Com essas chuvas no Estado do Rio de Janeiro conhecemos algumas.

Com cerca de 200 mortos, muitas crianças inclusive, nossas autoridades falam das autoridades como se autoridades não fossem. Vimos na imprensa que o presidente Lula criticou as autoridades que permitiram a construção de casas em áreas de alto risco e ainda declarações culpando Deus pelas chuvas e que os moradores deveriam rezar para que a chuva pare, negou que afetarão as Olimpíadas de 2016 e, ainda, que ele próprio pedira a Deus que mandasse um pouco de chuva para o sertão do Nordeste e um pouco de sol para o Rio. Já o governador Sérgio Cabral Filho atribuiu as mortes à ocupação irregular de encostas.

O Rio tem 10 mil moradias em áreas de risco. A prefeitura planeja reassentar 15 mil famílias até 2012, mas só retirou 750 famílias. E a oposição ainda afirma que a prefeitura reduziu os gastos com drenagem. Por sua vez, o presidente prometeu usar o PAC 2 para investir em drenagem, porém o TCU constatou que o Ministério da Integração Regional usou 90% dos recursos para combater desastres na Bahia, onde o ex-ministro pretende ser candidato a governador, e o Rio não teve nenhum centavo liberado. E apesar de que, em 2004, o Instituto de Geociência da Universidade Federal Fluminense, a pedido do Ministério das Cidades, constatou perigo e exigia monitoramento constante.

Embora as “autoridades” reclamem das chuvas que caíram e dos mortos que não evitaram as áreas de risco, esses desastres já ocorreram no passado e não são novidades. Em 1966, as chuvas ocasionaram a morte de 250 pessoas nessa região. Em 1967, foram 300 em um único dia. Em 1987, 292 mortos. Em 1988, mais algumas centenas. E, para agravar, o governo gasta mais com os estragos do que com prevenção, o que, no ano passado, chegou aos R$ 2 bilhões.

Embora as “autoridades” reclamem das chuvas que caíram e dos mortos que não evitaram as áreas de risco, é preciso resolver o problema. A começar com o correto uso do Erário. Depois, investir em previsão, pois o CPTEC/INPE deu o alerta de chuvas no Rio com dias de antecedência, mas não se sabia a intensidade nem a localização exata, já que a precisão da previsão é de 20 km. E o Brasil também não possui um satélite meteorológico próprio. Para se ter uma idéia, os Estados Unidos gastam quase US$ 1 bilhão nisso. Outra solução seria incentivar e financiar cisternas para a reserva de água da chuva em casas e prédios, incluindo as prefeituras que poderiam utilizar o subsolo das calçadas para reserva e infiltração no subsolo.

*Mario Eugenio Saturno, de Bariloche – Argentina, é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), professor universitário e congregado mariano. 

 

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