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Tarauacá X Fazenda “São José”

A fazenda “São José”, no município de Tarauacá, sempre foi considerada exemplo em termos de organização, além de muito visitada, tanto pelas pessoas da cidade, como por aquelas vindas de fora, podendo dizer-se que, mesmo entre as mais importantes personalidades que passaram, na época, pelo município, poucas foram aquelas que não estiveram por lá. A sua proximidade com a cidade (pouco mais de um quilômetro), favorecia essa visitação. Ademais, a propriedade se situava à margem de um grande lago, conhecido, em toda região, como lago da “Intendência”, o qual, pela sua beleza, tornava o local aprazível e um verdadeiro ponto turístico.

Sua fundação data do ano de 1926, quando o piauiense José Higino de Sousa, chegado a Ta-rauacá em 1917, e que, depois de experimentar várias formas de ganhar a vida, decidiu-se pela atividade pecuária, valendo-se, para tanto, da expe-riência trazida de sua terra, contrariando, desta forma, a atividade então predominante ou mesmo exclusiva da região, que era a extração gumífera.

Durante mais de quarenta anos, grande foi a sua importância para a população da cidade e o desenvolvimento do município, no que se refere ao fornecimento de produtos de origem animal, como o leite, a carne e o queijo, sem falar que de lá saía também a madeira para construção, palha para cobertura de casas, lenha para uso doméstico e o funcionamento das velhas caldeiras, tanto da Usina de Luz, como da Estação Telegráfica. O lago, por sua vez, não sendo embora de grande piscosidade, dele muitas pessoas conseguiam, diariamente, tirar o suficiente para  alimentarem-se e às suas famílias.

Casado com D. Bárbara Ribeiro de Sousa ( D. Mocinha ), com ela o proprietário teve nove filhos (cinco homens e quatro mulheres ), sete dos quais nascidos naquele lugar, onde todos cresceram ajudando os pais nas lides da fazenda, sem se descurarem dos estudos, iniciados na própria fazenda, na Escola Virgulino de Alencar, da municipalidade, passando depois para o Grupo Escolar “João Ribeiro e colé-gios particulares daquela cidade. Por falta de ensino além do primário no município, com exceção deste articulista, que é produto final da nossa querida Ufac, todos os outros  completaram os estudos, inclusive em nível superior, em centros como Manaus e Rio de Janeiro.

Além dos transtornos causados, periodicamente, pelas grandes alagações, por duas vezes a fazenda enfrentou escassez de mão-de-obra para a sua conservação, a primeira quando ocorreu, no município, um grande interesse pela exploração madeireira por parte das serrarias de Manaus, ocupando essa atividade um grande contingente de mão-de-obra. A outra, por ocasião da Segunda Guerra Mundial, com a súbita valorização da borracha e a conseqüente corrida para os seringais.

A fazenda perdurou até os anos setenta, quando o seu fundador, que lá já vivia sem a família, passou a outro a propriedade, indo morar com um dos filhos em Manaus, onde faleceu três anos depois, aos 80 anos de idade, 53 dos quais vividos no Acre e destes, 44 dedicados àquela fazenda.

Em 1994, tive oportunidade de rever o local, depois de 17 anos que me  havia ausentado de lá. Tanto da fazenda, como do lago, nada mais encontrei, confirmando-se, desta forma, o que, num elementar exercício de futurismo, costumava dizer o proprietário, ao se referir ao desinteresse da família pela continuidade do empreendimento, quando ele já não mais existisse: “Isso aqui ainda vai voltar a ser morada de onça”.

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