Depois de três anos de espera e decepção, o torcedor alvinegro pode soltar com toda a força o grito: o Botafogo é o campeão do Campeonato Carioca de 2010. Um título incontestável e, o melhor, em cima do grande rival: o Flamengo. Com a vitória por 2 a 1, neste domingo, no Maracanã, o Alvinegro conquistou a Taça Rio. E como também já havia ganhado a Taça Guanabara levanta o troféu sem a necessidade de uma final. A última vez que um clube venceu os dois turnos do Estadual foi em 1998, com o Vasco (assista aos melhores momentos no vídeo ao lado).
A vitória veio com dois gols de pênaltis. E dos dois artilheiros. Herrera e El Loco Abreu cobraram muito bem, sem chance para o goleiro Bruno, conhecido por ser um grande pegador de penalidades. Vagner Love, que termina como artilheiro do Campeonato Carioca com 15 gols, descontou. Foi uma partida nervosa, com 15 cartões amarelos e duas expulsões.
Os últimos minutos foram emocionantes, com o goleiro Jefferson defendendo um pênalti cobrado por Adriano, o maior ídolo rubro-negro. Após o apito final, os alvinegros caíram emocionados no gramado, se abraçaram como nunca. O presidente Maurício Assumpção desceu para o campo chorando de emoção.
O título vem com gosto de vingança. O Botafogo havia perdido as últimas oito decisões para o Flamengo: a Taça Rio de 1991 e 2009, o Campeonato Brasileiro de 1992, a Taça Guanabara de 1995 e 2008, e o Campeonato Carioca de 2007, 2008 e 2009. Mas o trauma acabou.
É o 19º título carioca do Botafogo. Dos atuais jogadores, apenas Lúcio Flávio participou da última conquista alvinegra em 2006. E pensar que tudo começou após o time sofrer uma desastrosa goleada de 6 a 0 para o Vasco na terceira rodada. Após aquela partida, o elenco deu a volta por cima com a chegada do técnico Joel Santana, o “Rei do Rio”. O título também tem um sabor especial para o treinador, que saiu pela porta dos fundos da seleção da África do Sul e perdeu a chance de comandar o país na Copa do Mundo de 2010.
Joel Santana conquistou o sétimo título carioca como treinador (1992 e 1993 pelo Vasco; 1995 pelo Fluminense; 1996 e 2008 pelo Flamengo; 1997 e 2010 pelo Botafogo). Ele agora fica a um de Flávio Costa, que é o maior vencedor do Campeonato Carioca com oito taças (cinco pelo Flamengo e três pelo Vasco). Vale registrar que Joel acrescenta à sua conta pessoal o caneco de 1987, quando dirigiu o Vasco em 26 jogos do Carioca, mas desligou-se da equipe para trabalhar no Al Hilal, da Arábia Saudita. Com isso, não comandou o Time da Colina nos últimos cinco jogos. Sebatião Lazaroni ficou com a missão.
– Ninguém conquista oito títulos por acaso! – desabafou o técnico Joel Santana durante a comemoração.
Agora, o Botafogo vai ter muito tempo para comemorar o título. Vão ser 20 dias até a próxima partida. E logo um clássico contra o Santos, que vem encantando o Brasil com um futebol alegre e ofensivo, no dia 8 de maio, às 18h30m, no estádio João Havelange, no Rio de Janeiro.
Já o Flamengo precisa se recompor porque tem um duelo decisivo pela Taça Libertadores na próxima quarta-feira, no Maracanã, contra o Caracas, da Venezuela. O Rubro-Negro precisa vencer para tentar a classificação para as oitavas-de-final da competição.
Pela quinta vez em sua história, o Flamengo perdeu a oportunidades de ser tetra-campeão estadual. Em 1945 e 56, o Vasco impediu a façanha. Já em 1980 e 2002 foi o Fluminense. Agora, chegou a vez de o Botafogo ser o algoz rubro-negro.
Herrera abre o placar; Vagner Love empata no fim do primeiro tempo
Os dois times entraram juntos em campo. Os alvinegros estavam de mãos dadas. El Loco Abreu veio acompanhado dos quatro filhos e fez questão de registrar o momento histórico tirando fotos. Leandro Guerreiro ganhou o primeiro duelo. Na moeda. Escolheu o campo esquerdo das cabines de rádio, onde o Flamengo normalmente gosta de começar a partida.
Adriano deu o primeiro toque na bola. E a decisão começou. Com 30 segundos, Fahel já fez a primeira falta. Vagner Love ficou caído no chão. Mas o Botafogo começou melhor. E insistia na velha e conhecida tática de cruzar bolas para a área rubro-negra. Logo aos dois minutos foi a primeira. Adriano, que estava ajudando a defesa, cortou de cabeça.
Com sete minutos de jogo, o Alvinegro já havia tentado quatro cruzamentos contra o gol de Bruno. Um deles com muito perigo. Falta em Herrera. Renato Cajá bateu para o meio da área. El Loco passou pela bola, que foi direto para o gol. Bruno, atento, defendeu.
Aos 12 minutos, Gutemberg de Paula não marcou uma falta escandalosa de Ronaldo Angelim em Herrera, que entrava na área rubro-negra. Lance para cartão amarelo, mas o árbitro preferiu dar apenas o tiro de meta para o Flamengo.
Logo depois, Herrera foi derrubado novamente, agora na entrada da área. Falta muito perigosa. Renato Cajá cobrou por cima da barreira, mas Bruno espalmou para escanteio. Antes da cobrança, Gutemberg de Paula avisou que não iria permitir o agarra-agarra na área. Mas parece que Ronaldo Angelim ignorou. E quando a bola viajou para a área, o zagueiro rubro-negro puxou com o braço direito o alvinegro Fábio Ferreira.
Pênalti claro. Os rubro-negros ainda tentaram reclamar. Em vão. Herrera foi para a cobrança. Não pegou muita distância. Chute seco e forte no meio do gol. Bruno caiu no canto direito. Botafogo 1 a 0. Foi o 12º gol do atacante argentino pelo Botafogo, o nono no Carioca.
Logo após o gol alvinegro, Andrade surpreendeu e chamou Vinícius Pacheco. O meia entrou no lugar de Toró logo aos 24 minutos do primeiro tempo. O Flamengo ficou mais ofensivo e passou a pressionar. Principalmente com Léo Moura pela direita. Aos 27, Adriano aproveitou o cruzamento e cabeceou por cima do gol de Jefferson. Foi a primeira chegada com perigo do Rubro-Negro na partida.
Já Vinícius Pacheco caia pela esquerda. Fazia boas jogadas, mas errava no último passe. O Botafogo, com muita raça, defendia-se e buscava encaixar um contra-ataque. Mas tinha dificuldade de sair tocando a bola. Nervoso, Joel Santana agarrava a prancheta contra o corpo e não parava de olhar para o relógio na área técnica. Queria logo o fim do primeiro tempo. Enquanto isso, Adriano tentou outras duas conclusões. As duas para fora, sem muito perigo.
Aos 43 minutos, o Botafogo foi prejudicado. Somália recebeu em ótimas condições para marcar o segundo gol. Mas a arbitragem marcou impedimento. Para piorar, em seguida, o Flamengo empatou. Michael fez ótima jogada pela direita em cima de Fahel e cruzou. Adriano, que foi seguro por Fábio Ferreira, ainda conseguiu desviar de cabeça. David apareceu na segunda trave e se abaixou todo para cabecear. Jefferson ainda conseguiu defender. Mas a bola ficou limpa na pequena área e Vagner Love, o artilheiro do Campeonato Carioca, só empurrou para o fundo da rede. Tudo igual. E o atacante correu para comemorar com a torcida. Foi o 15º gol do rubro-negro na competição. O intervalo veio com a torcida rubro-negra avisando que “vai começar a festa”.
El Loco bate pênalti com muita categoria e dá o título ao alvinegro
Os dois times voltaram para o segundo tempo sem alterações. Mas o jogo caiu de qualidade. Eram muitos passes errados. Joel Santana resolveu colocar o talismã Caio em campo aos 15 minutos. Logo depois, Herrera girou na área e a bola saiu com perigo pela esquerda de Bruno.
O Flamengo respondeu com Vinícius Pacheco. Ele fez boa jogada pela esquerda e cruzou rasteiro. Vagner Love chegou desviando para o gol, mas Fábio Ferreira conseguiu tocar na bola, que saiu para escanteio.
O Botafogo voltou a insistir nos cruzamentos para a área. Mas sem tanto perigo.
Só que aos 25 minutos, o árbitro marcou uma falta inexistente de Willians em Edno. Na cobrança, após o cruzamento para a área, Maldonado puxou Herrera. Pênalti. E o rubro-negro, que já tinha cartão amarelo, acabou expulso.
E aí Loco Abreu fez jus ao apelido. Como Herrera já havia cobrado o primeiro, o uruguaio pegou a bola. Correu como se fosse soltar a bomba. Mas deu um toquinho de leve, com categoria, no meio do gol. A bola ainda beijou carinhosamente o travessão antes de entrar. Bruno caiu no canto esquerdo e só observou o uruguaio sair correndo para comemorar. Botafogo 2 a 1. O título estava próximo.
O jogo voltou a ganhar emoção. O Flamengo, mesmo com um jogador a menos, passou a tentar pressionar. E após um cruzamento para a área, Fahel segurou Ronaldo Angelim. Outro pênalti bem marcado. Herrera perdeu a cabeça e peitou o árbitro. Acabou expulso. O filme parecia se repetir. Os alvinegros lembravam das últimas decisões contra o Flamengo.
Adriano, que voltava ao time após quatro partidas, pegou a bola. Foi bater. Mas do outro lado estava Jefferson. Bola rasteira no canto esquerdo. E o goleiro alvinegro se esticou para espalmar. Explosão de alegria na torcida alvinegra. Jefferson foi logo abraçado pelos companheiros.
– Nunca perdi um pênalti e isso foi acontecer logo agora – lamentou Adriano, que foi consolado com a lembrança de que até Zico, maior ídolo da história do Flamengo, perdeu um pênalti na Copa do Mundo de 1986.
Aos 38 minutos, o Botafogo teve a chance de garantir o título. A bola sobrou limpa para o garoto Caio. Mas o talismã alvinegro chutou por cima do gol. Bruno já estava batido no lance.
Petkovic só entrou em campo aos 40 minutos do segundo tempo. O Flamengo melhorou, ganhou um pouco mais de qualidade. Mas já era tarde. Faltava pouco tempo para a partida terminar. Até o goleiro Bruno tentou ir duas vezes para a área alvinegra cabecear. Em uma derradeira chance aos 43, Rodrigo Alvim pegou um rebote e chutou, mas Somália tirou quase em cima da linha. Depois, Vagner Love ainda aproveitou sobra na área e chutou rasteiro. Jefferson, de novo, defendeu. Sem direito a rebote. Mas o Fla não teve sucesso em sua pressão final. O Botafogo é campeão!
Leandro Guerreiro levantou a taça. O palco montado no gramado parecia pequeno. Lucio Flavio, que acompanhou a partida da tribuna, também correu para participar da festa. Veio a volta olímpica. E, no fim, todos os alvinegros se ajoelharam no centro do gramado. Com a taça no centro deles. O choro, agora, era de alegria. (Globo esporte.com)