O assassinato do agente penitenciário Roney Barbosa Vidal, 31 anos, no domingo (18), serviu como um verdadeiro estopim para a revolta da categoria. Apesar de bastante abalados com a perda, colegas de trabalho recuperaram a determinação e endureceram as vozes para entoar os gritos de ‘vingança’ e ‘justiça’ pelo amigo, durante o seu enterro, às 10h da manhã de ontem, no Cemitério Morada da Paz.
Suscitados pelo seu sindicato, os mais de 250 agentes presentes no ato assumiram o compromisso de não descansar enquanto o responsável pela morte de Roney estiver impune e se vangloriando pela ‘execução’, tachada pela classe como um ato ‘covarde’ e ‘indecente’. Isso porque a vítima não teve sequer uma chance de se defender.
Da classe chegou até a partir a ameaça de que “é melhor os culpados se entregarem logo porque senão será bem pior pra eles”. Contudo, a revolta dos agentes não se restringe apenas aos criminosos. De acordo com Adriano Marques, presidente do Sindap/AC (Sindicato dos Agepens do Acre), a morte de Roney foi uma fatalidade que poderia ter sido evitada se o Governo do Acre tivesse um serviço de inteligência mais eficaz.
Além disso, Adriano condenou o Estado por tratar seus agentes penitenciários com ‘descaso’, em especial, no tocante à segurança pessoal. “Para nós, não resta dúvida de que o Roney foi um bode ex-piatório, executado por um presidiário de regime semi-aberto ou sob licença, por motivo de vingança e retaliação contra a classe em geral, o que foi facilitado pela omissão do Governo para com a nossa segurança”, desabafou.
Após o enterro de Roney, os agentes promoveram um ‘buzinaço’ pelas ruas, desde o cemitério até a Direção Geral da Polícia Civil. Lá, eles fizeram protesto para cobrar uma resposta efetiva da PC quanto às investigações do caso.
O crime – Roney Barbosa Vidal, 31, foi morto com três tiros, em um semáforo da Avenida Ceará, logo depois que ele saiu de serviço no Centro de Recuperação Social Dr. Francisco de Oliveira Conde. O crime aconteceu por volta das 6h de domingo, 18. Os tiros foram efetuados por um motociclista desconhecido.
Roney foi alvejado no braço direito, onde as balas transfixaram e se alojaram no peito do agente penitenciário. Ele ainda chegou a ser atendido por uma equipe de paramédicos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, mas não resistiu à gravidade dos ferimentos e morreu dentro da viatura do Samu.
Segundo testemunhas do crime, o agente seguia em sua moto na Avenida Ceará, quando parou em um semáforo e foi surpreendido por dois homens. Eles trafegavam em duas motos, sendo que uma delas vinha na contramão da avenida, enquanto outra estacionou ao lado do agente. Daí, um dos suspeitos sacou a arma e efetuou três disparos.
Os criminosos fugiram, cada um em sentido oposto. Uma das motos usada no crime, segundo testemunhas, seria uma Twister de cor amarela.
A polícia suspeita que o agente estava sendo seguido desde quando saiu do presídio. O fato de um dos criminosos ter entrado na contramão supostamente seria para chamar a atenção de Roney, que ao olhar para a esquerda foi alvejado pelo piloto da moto ao seu lado.
Agentes protocolam comunicado para greve na próxima sexta-feira
Como primeiro reflexo do misto de raiva e consternação dos agentes, o sindicato protocolou ontem um comunicado de greve da categoria junto ao Governo do Estado. A greve já foi decidida pela classe e deverá ser deflagrada ainda nesta sexta-feira (23). Ao todo, são 880 agepens em todo o Estado, dos quais 70% deles cruzarão os braços.
Segundo Adriano Marques, presidente do Sindap/AC, a paralisação servirá para trazer quatro novas reivindicações, além de resgatar algumas bandeiras de lutas antigas. Todas as exigências a ser cobradas pelos agentes são restritas a problemas com a gestão do Iapen e melhores condições de trabalho. “Não há nenhuma pauta tratando de avanços salariais. Portanto, não há motivo para o instituto se negar a conceder o que estamos pedindo. Só se for por má vontade mesmo contra a segurança pessoal do agente”, declarou ele.
As novas reivindicações são: proibição da entrada de visitantes nos presídios com dinheiro (R$ 50,00); reduzir o número de visitantes para 2 adultos e 1 criança (hoje não há controle); acabar com o repasse de alimentos para os presos (ou pelo menos fiscalizar essas ‘comidas’); e aumentar o número de agepens efetivos (há 420 concursados na lista de espera). Já as antigas pautas são: a fiscalização maior dos presos em regime semi-aberto, fim da escala de serviço 12/36h e a revogação do novo código de conduta do agente.
Iapen, Sejudh e PC prestam solidariedade e prometem resolver o caso
Apesar da indiganação do Sindap pela falta da diretoria do Iapen e da Sejudh no velório e enterro de Roney, os gerenciadores das duas entidades reuniram uma coletiva de imprensa na manhã de ontem para prestar a sua solidariedade ao agente falecido. Juntamente com a Polícia Civil, eles prometeram não medir esforços para solucionar o caso e capturar o(s) responsável(is) pelos três tiros contra Roney Barbosa Vidal.
Conforme o secretario da PC, Emylson Farias, desde que o assassinato foi comunicado, a Polícia Civil promoveu todas as diligências legais para elucidá-lo. “Nas primeiras 24 horas, isolamos a área do crime e recolhemos provas para a investigação. Agora, é preciso analisá-las de forma racional. Para isso, as pessoas precisam ter calma. Não podemos cometer deslizes e criar versões que atrapalhem tal processo”, ressaltou.
Por sua vez, o diretor-presidente do Iapen, Leonardo Carvalho, garantiu que o instituto não recebeu nenhuma ameaça específica contra Roney. Por isso, o homicídio deve ser investigado a fundo para que seja descoberto tudo o que realmente aconteceu.
Sobre a greve, ele respondeu que o Iapen dialogará abertamente com os agentes sobre as condições de trabalho, mas que não aceita imposições, e sim sugestões, para a forma como o instituto é gerido. “Embora ache que este seja um momento muito triste para negociação de pautas sindicais, eu quero deixar claro que nós sentaremos com os agentes para negociar este indicativo de greve da melhor forma possível”, enfatizou.