X

Juruá recebe avião com legumes e frutas do Peru

Foi uma verdadeira novela, mas ontem chegou à Cruzeiro do Sul um avião cargueiro de Pucallpa carregado com 22 toneladas de frutas e legumes. A falta de um equipamento, APU, que aciona as turbinas dos aviões frustrou a tentativa da operação em dezembro passado. Na ocasião, o avião depois de carregado não conseguiu ligar os motores por não haver o APU no Aeroporto de Pucallpa, no Peru. Desta vez, tudo deu certo. Os entraves burocráticos entre os dois países foram resolvidos com celeridade e o Boeing 737-200, da empresa Rio, de Curitiba, que fica baseado em Porto Velho, e fez o transporte, não apresentou nenhum problema técnico.
As mercadorias não poderiam ter chegado ao Juruá em melhor hora. Com a BR-364 ainda fechada e as balsas que transitam pelo Rio Juruá com dificuldade para chegar ao porto de Cruzeiro do Sul, devido a vazante das águas, o custo de vida na região extrapolou. Alguns comerciantes, como Assem Cameli, dono de um dos maiores supermercados da cidade, confessaram que nem estavam vendendo legumes como tomates e batatas. “Como o preço estava muito alto os clientes acabam reclamando com a gente. Preferi deixar faltar esses itens”, justificou. A mesma postura teve um dos proprietários do Supermercado Big Bran, Nicolau Cândido.  “Com esses preços a gente acaba espantando os compradores. Não tem lógica um quilo de carne de primeira custar entre R$ 8 e R$ 10 e o tomate e a batata ter o mesmo preço”, afirmou.

O presidente da Associação Comercial do Alto Juruá, Marco Venício, comemorou a chegada do cargueiro. “Depois de todos os transtornos é um prazer ver chegar a Cruzeiro do Sul o primeiro carregamento vindo do Peru. Isso só foi possível graças ao esforço das pessoas envolvidas no processo, principalmente, do presidente da Aleac, deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB). Produtos como o tomate que estavam sendo vendidos a R$ 8 e R$ 10, serão comercializados a R$ 3,99, disse ele. Quanto a continuidade das importações peruanas para abastecer a região, Marco Venício, analisou: “o processo é longo porque o vôo tem que ser viabilizado desde Porto Velho para seguir para Pucallpa. Mas  estamos fazendo o maior esforço para que venham aviões todas as segundas-feiras até julho”, garantiu. Quanto as exportações de produtos do Juruá para os peruanos, o presidente da Associação Comercial, explicou que só falta algum frigorífico da cidade conseguir o SIF para começar a venda de carne.

Presente ao aeroporto o prefeito de Cruzeiro do Sul, Wagner Sales (PMDB), também ressaltou a importância da nova via de abastecimento alimentar do Juruá.  “Há que se registrar a importância da luta para que chegássemos a esse momento”, salientou. Perguntado do por que não haver um maior incentivo no município para a produção dos legumes, o prefeito, justificou: “quem não produz verdura é o Acre. Tudo vem de fora porque não temos essa tradição. Somos um Estado onde sempre o extrativismo predominou. Aqui se sabe cortar a seringa e se fazer a melhor farinha do Brasil. Para se plantar verduras e legumes tem que haver tecnologia. É preciso que os órgãos governamentais invistam em tecnologia para se conseguir plantar tudo. O exemplo foi os tomates produzidos em Mâncio Lima com o apoio do Sebrae. Mas foi uma produção em pequena escala”, afirmou.

Nascida na região de Pucallpa, a deputada Antonia Sales (PMDB), comemorava mais um passo na integração entre as duas regiões. “Vejo esse momento como um sonho realizado. É um marco histórico de um comércio que poderá ser intenso. Pelo menos já sabemos que até julho uma vez por semana continuarão esses vôos. Fiquei feliz de ver essa empresa aérea de Curitiba, a Rio, que teve a sensibilidade de investir no Acre. Esse empreendimento está ajudando os povos de Cruzeiro e de Pucallpa. A gente sente a falta desses produtos hortifrutigranjeiros porque ainda não temos a nossa estrada asfaltada. Com isso, a população deixa de consumir porque se tornam muito caros os produtos que vem da Capital. Agora, o preço está igual ao de Rio Branco. Com isso as pessoas poderão ter uma alimentação de melhor qualidade. Temos que agradecer ao deputado Edvaldo Magalhães que empunhou essa bandeira”, ressaltou.

“Integração não é só isso”, diz Edvaldo
Mas quem estava mais feliz com a chegada do avião era o deputado Edvaldo Magalhães. “O momento é de alegria e de celebração. Quando se tem uma boa causa e se trabalha com a alma a gente consegue sobrepor às dificuldades. Estamos vendo a realização dos órgãos responsáveis pelo alfandegamento do aeroporto de Cruzeiro do Sul num esforço colegiado da Receita Federal, da Polícia Federal, do Ministério da Agricultura, da Anvisa e da Infraero. Além do esforço político que envolve a Aleac, o Governo do Estado, que isentou de impostos esses produtos e, do Gabinete do senador Tião Viana (PT-AC), que fez uma relação diplomática com os órgãos federais. Mas sobretudo quero ressaltar o papel dos empreendedores. Porque se os comerciantes não participarem os negócios não se viabilizam.

Mas tudo isso tem um motivo que é melhorar as condições da segurança alimentar da população do Juruá que está exposta a custos altíssimos dos produtos por causa do isolamento.  Isso viabiliza e dá melhores condições ao nosso povo. O tal do tomate que virou um símbolo da carestia vai ter uma queda de mais de 50% no comércio de Cruzeiro do Sul com a chegada do avião. O aeroporto depois de uma batalha hercúlea já tem o decreto que estará alfandegado até o final de julho podendo ser renovado. Portanto, se houver negócios não haverá entraves. As condições que órgãos federais precisavam criar para operarem foram atendidas. Agora é a iniciativa privada que tem que agir. Inclusive, o Banco da Amazônia, quer ajudar finan-ciando essas operações para que tenham regularidade. Certamente teremos um segundo vôo, na próxima segunda-feira”, comemorou.

Outro aspecto ressaltado pelo parlamentar é a pluralidade do processo de aproximação das regiões do Juruá e Ucayalli. “A integração não é só isso. A parte comercial realça porque é simbólica. Nós queremos juntar os nossos povos e que as comunidades se relacionem. Estamos preparando para breve uma nova missão de integração envolvendo os universitários do Juruá e de Ucayalli. Acreditamos que esse é o caminho do desenvolvimento da região. Começaremos também a ter vôos de passageiros porque o aeroporto também está alfandegado para isso. As empresas Aerobran e a Tucano já estão autorizadas. Tem também uma empresa de Pucallpa que quer fazer o vôo com um avião Caravan”, lembrou.

Categories: Geral
A Gazeta do Acre: