A Prefeitura de Rio Branco, através da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), manterá suas ações de prevenção e combate à dengue intensificadas até dezembro. Será a primeira vez em que o trabalho ampliado durante o ‘inverno’ será estendido aos meses de ‘verão’. O objetivo da administração municipal é reduzir o atual quadro de epidemia em que a Capital se encontra e prevenir novos surtos tão fortes da doença no final do ano, quando recomeçam as chuvas e a infestação do vírus volta a crescer.
Com a chegada da estiagem, a epidemia perde força e a preocupação com este mal é deixada de lado. Por conta de tal esquecimento, um novo ciclo de transmissão começa a se formar. As pessoas se descuidam, jardins e quintais voltam a juntar lixos, locações públicas acumulam entulhos, caixas d’água ficam destampadas, vasos expostos a céu aberto, enfim, todas as condições para a proliferação do vetor, o famoso Aedes aegypti, ficam preparadas de novo. Apenas esperando por um ‘inverno’ de muita chuva para gerar uma nova catástrofe à Saúde Pública de Rio Branco.
É aí que entra o poder público. Segundo a secretária municipal de Saúde interina, Adriana Evangelista, a tarefa da Semsa até outubro será acabar com estas condições que facilitam a reprodução do mosquito. Só que, antes disso (mas não paralelo), ela ressalta que o atual panorama da dengue ainda é muito preocupante. Assim, primeiro é preciso reverter esta situação, que já contabiliza 19.517 notificações (pessoas com os sintomas da doença) entre 3 de janeiro até o dia 3 de abril.
“Desde fevereiro até o início deste mês, a freqüência de advertências caiu pela metade. E a tendência é que tal queda continue. Contudo, estamos vivendo hoje um cenário ainda preocupante, com o vírus e o vetor circulando livres por toda a cidade. Por isso, nossa meta é seguir com ações intensas para vencer esta epidemia e depois mantê-las até dezembro para evitar novos surtos”, declarou a gestora.
Tais ‘ações intensificadas’ compreendem: o aumento da limpeza urbana, palestras e mutirões de conscientização junto à sociedade (em especial nas escolas), campanhas publicitárias, mobilização política, ampliação geral da assistência médica, capacitação dos profissionais de Saúde, análise da situação, avanços jurídicos, uso do novo larvicida e as visitas mensais de prevenção dos 200 agentes de Endemias (antes eram 87 efetivos que tinham freqüência bimestral), dos quais 60 são para o combate com o fumacê.
Três mortes, três suspeitas e mais agravamentos
Um fato que pesa para a decisão da Semsa de manter suas ações ampliadas é a gravidade que os casos de dengue estão demonstrando. Segundo Adriana Evangelista, a cada nova epidemia ‘invernista’ da dengue há chances maiores de agravamento da contaminação, principalmente para os reincidentes. A prova disso está nas 3 mortes já causadas pelo vírus neste ano (2 de dengue com complicações e 1 hemorrágica), sendo que outros 3 óbitos ainda estão sob investigação.
“Esse agravamento ocorre porque há 3 tipos sorológicos na cidade. Quem pega um deles fica imunizado, mas tem tendência de correr riscos maiores com a infestação dos outros dois (também há casos graves desde a 1ª infestação). Notamos que houveram muitas incidências do tipo 1 no surto de 2009. Nesta nova epidemia, já percebemos mais casos do tipo 1 e 2. Logo, na próxima é provável que a disseminação do tipo 2 passe a ser maior, com aparições do tipo 3. Portanto, é muito importante que uma nova crise no final deste ano seja evitada”, explicou a secretária.
Outros dois pontos preocupantes que a secretária informa é que grande parte dos infectados pela dengue neste ano foram pessoas entre 15 a 49 anos (força produtiva de trabalho) e as vítimas mais graves foram crianças e bebês (menor resistência). Além disso, grande parte da população da Capital ainda não foi acometida pela dengue (ou seja, tais pessoas ainda estão sujeitas à doença porque não têm imunidade ao vírus).
Por que a intensificação permanente não foi feita antes?
Diante desta estratégia da prefeitura, surge a dúvida: por que a intensificação não foi feita desde os anos anteriores? Segundo a secretária interina, não havia necessidade de manter as ações redobradas antes porque a dengue, apesar de assustar, sempre foi um tipo de doença controlada com a metodologia de combate da Semsa (aumentar ações no inverno). Isto é, a contenção do vetor até então era suficiente.
Além disso, foi só nos últimos 2 anos que a doença conseguiu driblar o poder público e provocar duas grandes epidemias consecutivas. Assim, como todo combate à dengue exige preparação, cabe agora a prefeitura encontrar novas estratégias para o vírus.
Outro empecilho para que as ações fossem mantidas de 2009 para este ano foi a incidência da nova Gripe. Conforme Adriana, o avanço da Influenza A teve início após a superação da epidemia de dengue, em abril. Assim, a Semsa teve que focar o combate à Gripe Suína, ao mesmo tempo que mantinha sob controle outros danos à Saúde Pública, como a leptospirose, hepatite A, etc. “Hoje, certos problemas estão mais estáveis, o que nos permite ter um trabalho mais sólido contra a dengue”, acrescentou ela.