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Viena e Budapeste: cidades luminosas no caminho do Danúbio

Um dos rios mais importantes do mundo, o Danúbio, foi cenário de alguns momentos históricos que determinaram a geografia política do Ocidente. Importante via de transporte entre os países da Europa Central e do Leste, o Danúbio, mistura epopéias românticas com guerras sanguinárias. Duas grandes capitais européias se destacam às suas margens pela importância histórica que tiveram ao longo dos séculos, Viena e Budapeste. Cidades repletas de monumentos que refletem o desenvolvimento através dos séculos da civilização Ocidental. Por coincidência tanto na Áustria quanto na Hungria haverá eleições ainda este ano para as escolhas dos novos primeiros-ministros, num novo tempo de democratização da Europa.
A eterna Valsa do Danúbio – Viena, uma das mais antigas cidades do mundo, fundada antes do Império Romano, ficou conhecida por ser um importante centro cultural que gerou compositores importantes como Mozart e Strauss. Quando se pensa em Viena logo se associa à valsa, a opera e o balé. Mas pela sua localização estratégica na Europa, Viena, sempre teve uma importância política muito grande. Foi invadida e tomada por Napoleão Bonaparte por duas vezes. Durante o período do Império Austro-Húngaro, na passagem entre os séculos XIX e XX, viveu o seu apogeu como importante centro de decisões políticas que determinaram, até o final da Primeira Guerra Mundial, as fronteiras da Europa. Foi anexada por Adolf Hitler, com a aquiescência da maioria dos austríacos e se tornou a segunda cidade mais importante do Terceiro Reich Alemão durante a Segunda Guerra Mundial. 

Atualmente Viena é um dos principais centros turísticos da Europa pela sua majestosa arquitetura e pluralidade cultural. Mais de uma dezena de importantes museus guardam um grande acerco das artes plásticas do Planeta. Cafés e restaurantes com o toque de elegância vienense atraem viajantes do mundo inteiro. O clássico e o contemporâneo moderno de vanguarda se misturam em manifestações artísticas que vão desde as exibições das óperas mais famosas até o que há de mais underground da dança, do teatro e das artes plásticas.

A surpreendente magia visual de Budapeste – A pouco mais de três horas de Viena de trem, cerca de 200 Km por rodovia, está Budapeste. Uma pérola de beleza arquitetônica plantada às margens do Rio Danúbio. Certamente uma das cidades mais bonitas do Planeta.  Logo na chegada à capital da Hungria já se percebe que se trata de outro universo em relação aos países mais conhecidos da Europa Ocidental. Primeiro as ofertas para a troca de euros por florim, a moeda nacional. Tem que se estar atento porque cambistas espertos querem pagar valores bem menores aos praticados no centro da cidade.

A estação de trem mistura personagens de todos os recantos do mundo numa sinfonia de cores e idiomas incompreensíveis. Ciganos, alemães, japoneses, norte-americanos, franceses e refugiados dos países da antiga Iugoslávia, entre outros. Uma balbúrdia muito diferente das civilizadíssimas estações da Europa Ocidental.  O táxi parte em alta velocidade fazendo um retorno esquisito no meio de uma avenida de alto tráfego entre xingamentos e gritos incompreensíveis. O trânsito de Budapeste é um caos.

Às margens do Danúbio estão as suas maiores atrações. Durante a primavera de clima agradável e muito sol embarcações multicoloridas de todos os tipos e tamanhos mostram porque o rio é a alma da cidade. Caminhando calmamente pelo parque que ladeia o Danúbio, de repente, uma surpresa. Descortina-se o prédio do Parlamento húngaro. Uma obra-prima da arquitetura do século XIX, num estilo gótico contemporâneo. Visualmente o Palácio da Democracia parece flutuar sobre o Danúbio numa harmonia perfeita entre a natureza e a criatividade arquitetônica humana.

Logo depois a Praça da Liberdade um dos poucos recantos que ainda guarda resquí-cios do comunismo na Hungria. Ao centro um monumento aos soldados soviéticos mortos durante a libertação do país dos nazistas durante a Segunda Guerra. Paradoxalmente caminhando poucos metros está a majestosa Basílica de Santo Estevão. Um grande acervo de quadros barrocos, clássicos e modernos decoram o templo numa espécie de museu litúrgico. O interessante é que na galeria de arte da igreja está uma obra que mostra o sacrifício de um padre perseguido pelos stalinistas, nos anos 60. Pela cidade ainda se encontra bandeiras da Hungria com o símbolo do Estado Comunista recortados no meio.  

O centro de Budapeste é repleto de prédios monumentais de vários estilos distintos de arquitetura. Cortado por numerosas pontes e viadutos a luz do sol refletida no Danúbio dá uma coloração muito especial ao cenário urbano. Nas praças jovens descansam refestelados pela luz solar depois de um inverno intenso. Os húngaros têm uma grande paixão pela música. É comum ver pessoas transitando com instrumentos variados pelas ruas e jovens tocando e cantando nas praças da cidade a qualquer hora do dia ou da noite. Nos bares e restaurantes música nacional e norte-americana para todos os gostos. Em algumas igrejas católicas concertos de música clássica de compositores como Bach e Mozart grátis. Além disso, clubes de jazz, rock e discotecas animam as noites de Budapeste.

Termas da saúde – Uma das marcas de Budapeste são as numerosas termas com piscinas de águas naturais com diversas temperaturas e composições químicas. Uma sinfonia de águas das terras banhadas pelo Danúbio. A melhor e mais famosa é a de Szechenyi. Numerosas piscinas compõem um cenário majestoso com prédios exuberantes de arquitetura clássica. Saunas secas e banhos turcos com piscinas de diferentes dimensões e temperaturas se misturam as colunas internas dos edifícios. Szechenyi  é considerado um dos balneários mais completos da Europa e, por isso, atraí pessoas de toda Europa atrás de tratamentos de saúde nas suas águas termais.     

Gafes de um jornalista acreano na Hungria  – Certamente Budapeste não é um destino muito comum para os viajantes brasileiros na Europa. O idioma húngaro é de certa forma uma barreira. É quase impossível entender o que se fala e não são muitas pessoas que entendem o inglês. Outros idiomas latinos então nem pensar. As placas e as informações nos lugares não turísticos estão estritamente em húngaro. Vale lembrar que o som não lembra nada conhecido por nós latinos.

Ainda em Viena já tinha vivido uma experiência estranha com o idioma alemão. Uma amiga austríaca sabendo que tenho uma ligação profissional com política resolveu me levar para assistir uma peça de teatro underground. O espetáculo fazia críticas ao nacionalismo austríaco. Depois de duas horas de diálogos altamente filosóficos sobre política, em alemão, minha amiga quis saber o que eu tinha achado. Me limitei a responder: “mas se era uma crítica irônica ao sistema austríaco porque ninguém riu?” Ela me contestou: “não tinha nada para rir. O assunto é muito sério”. Fiquei quieto.  

 
Nos cinco dias que fiquei em Budapeste o fato de não entender nada do húngaro me fez cometer outras gafes. Primeiro peguei vários ônibus urbanos e não paguei nada. Não por desonestidade, mas por não saber como pagar a passagem. Entra-se pela porta do motorista que está trancada e com um desenho que se entende ser proibido incomodá-lo. Fiquei segurando as moedas de florim sem saber a quem entregá-las até chegar ao ponto onde queria. Isso aconteceu todas às vezes e até agora ainda ninguém me pediu para pagar nada. 

Na Terma Szechenyi, paguei o ticket e fui entrando. Os corredores são como labirintos. Tentei seguir as orientações da recepcionista que me explicou num péssimo inglês. As placas estão todas em húngaro. Precisava chegar num vestiário para colocar um short e ir para as saunas e as piscinas. Perdido sem saber para onde ir pedi nova informação para outra funcionária do balneário. Acho que ela confundiu left (esquerda) com write (direita). Fui entrando na direção que pensei que ela havia me indicado. Abro uma porta pesada de alumínio e ouço um grito e um monte de vozes desconexas. Várias mulheres nuas me xingavam e bradavam comigo. Fiquei paralisado por alguns segundos, pedi desculpas em inglês e fui saindo de fininho. Mas as vozes pare-ciam continuar a me perseguir pelos corredores labirínticos. Como não entendo húngaro ficou por isso mesmo. 

    
Depois fui a um restaurante próximo ao hotel onde fiquei hospedado na Victor Hugo Utca (rua). Pelo menos o nome da minha rua todo mundo entendia. Já tinha estado lá e a simpática garçonete húngara parecia entender bem o inglês. Eu falava e ela sorria. Disse que estava com muita fome porque tinha passado o dia nas termas e não tinha almoçado. Ela não falou nada. Apenas fez uns sinais com as mãos que traduzi como: “não se preocupe”. E foi embora sem anotar o meu pedido. Dentro de uns 15 minutos volta a garçonete com um enorme sorriso de simpatia e literalmente com um pato inteiro assado nas mãos acompanhado de uma montanha de batatas. Comida suficiente para umas cinco pessoas. A sorte é que Budapeste é uma cidade barata e a farta refeição me custou em torno R$ 25.

Aliás, Budapeste tem um custo de vida mais barato do que qualquer grande cidade do Brasil. A conversão de euros para o florim favorece aos visitantes. Tanto a hospedagem quanto a alimentação sai muito mais em conta do que em São Paulo, Brasília ou Rio de Janeiro. Definitivamente comunista ou capitalista Budapeste é uma orgia visual para qualquer viajante. 

Política atrás da Cortina – As ruas de Budapeste estão cheias de galhardetes, outdoors e retratos de candidatos ao parlamento. Tentei fazer algumas entrevistas sobre a atual situação política da Hungria, mas o idioma mais uma vez foi um obstáculo quase instransponível. Dentro de 20 dias irão renovar o parlamento e eleger o novo primeiro ministro. Pelo que entendi as pesquisas mostram a vitória do partido de centro-direita (social democracia) sobre os socialistas que governam atualmente o país. Segundo as informações a extrema direita terá cerca de 15% dos votos, os socialistas 25% e os comunistas terão em torno de 20%. Mais ou menos a mesma tendência da Áustria.  

 

 

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