O adolescente Fabrício Augusto Souza da Costa, 16 anos, desaparecido desde o dia 16 de março, foi seqüestrado e morto, porque se negou a ligar para a família comunicando o seqüestro e o pedido de resgate, R$ 20 mil no total.
As informações foram repassadas pelo ex-presidiário Leonardo Leite de Oliveira, 22 anos, que tem passagem pelo presídio por crimes de homicídio. Ele está preso sob acusação de ter participado do seqüestro e morte do adolescente.
Família acusa Estado “de co-autoria pelo crime”
O estudante Fabrício Costa, 16 anos, desapareceu no dia 16 de março, após sair de casa no Conjunto Esperança para um curso de informática no Centro da cidade.
Segundo informações do funcionário público, Sérgio Costa, 54 anos, tio de Fabrício, o curso iniciava às 18h e terminaria às 20h. Todos os dias, Fabrício chegava à sua casa no máximo as 20h45, o que não aconteceu naquela noite.
“Eu posso dizer com todas as letras que o Estado é co-autor desse crime, porque foi omisso. Porque só tentou fazer alguma coisa, depois que o caso foi para a imprensa”, acusa Costa.
Aos 15 minutos do dia 17, Sérgio Costa foi ao Núcleo de Atendimento à Criança e Adolescente Vítima, o Nucria, que funciona na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher- Deam e registrou queixa de desaparecimento.
“Mas eles não fizeram nada. É como a própria sigla diz Nucria. Nós não vamos poder criar o Fabrício”, desabafou.
Segundo Sérgio Costa, mesmo registrando a ocorrência na polícia, a família do adolescente passou a procurá-lo, distribuindo cartazes com a foto do jovem e telefones para informações.
Fabrício Costa era também sobrinho do policial civil Júlio Costa, que com ajuda de amigos e policiais voluntários passaram a procurar pelo garoto por todos os municípios do estado e até mesmo na Bolívia.
Sérgio Costa informou que por seis vezes procurou a delegada responsável pelo Nucria, e que somente foi atendido no dia 29 de março, após a imprensa ter divulgado o desaparecimento do estudante, dando ênfase ao fato de que a família estava sozinha à procura do jovem desaparecido.
“O encontro com a delegada só aconteceu devido a nossa insistência, mesmo assim percebi não haver muito interesse em ajudar a família,” disse Sérgio.
No dia 30 de março, com ajuda de amigos, a família conseguiu rastrear as ligações telefônicas do celular do adolescente e através do rastreamento foi possível identificar Leonardo Leite, o ex-presidiário que estava de posse do chip do celular da vítima.
“Para você ter idéia, o rastreamento das ligações telefônicas do celular de Fabrício foram feitas pela família e não pela polícia,” afirma Sérgio.
Prisão de ex-presidiário revela seqüestro seguido de morte em um crime macabro
No dia 31 de março, Leonardo Leite, é preso pela polícia levado para a sede do Grupo Antiassalto – GAPC, o suspeito passa a dar diversas versões para o crime e aponta vários participantes.
As informações repassadas pelo suspeito são checadas pela polícia, pessoas são detidas para averiguação, mas nenhuma versão se confirma.
Enquanto Leonardo é ouvido pela polícia, a família do garoto vai atrás de outras informações.
Um grupo se deslocou até o Projeto Caquetá, onde uma mulher apontada por Leonardo foi detida e levada à delegacia.
Somente no período da noite Leonardo diz uma versão que é confirmada pela polícia.
Ele conta que Fabrício Costa foi seqüestrado e levado para uma casa abandonada no bairro Seis de Agosto que serviu como cativeiro.
Seqüestrador diz que Fabrício foi espancado até a morte por se negar a telefonar para a família
Após diversos depoimentos falsos o ex-presidiário Leonardo resolveu falar algo que finalmente foi confirmado como verdade.
Ele revelou que Fabrício foi seqüestrado e levado para um cativeiro na Travessa Edém, bairro Seis de Agosto, onde permaneceu vivo até o dia 21 ou 23 de março.
O acusado contou que os seqüestradores mandaram o adolescente telefonar para casa informando que havia sido seqüestrado e que a família teria que pagar o valor de R$ 20 mil para o resgate.
O adolescente se negou a telefonar para a mãe alegando que ela estava muito doente e que essa informação poderia matá-la.
Diante da negativa da vítima, os seqüestradores passaram a espancá-lo e torturá-lo. “Teve uma vez que ele apanhou tanto por se negar a telefonar para a família que sangrou muito e desmaiou. Ele foi levado para um banheiro onde deram banho nele e depois subiu novamente. Mandaram ele ligar para a mãe e mesmo muito machucando ele continuou negando e tentou fugir. Foi espancado a ripada e morreu,” contou friamente o acusado.
Leonardo levou a polícia até a casa onde, segundo ele, serviu de cativeiro para Fabrício. No local, os policiais detectaram manchas de sangue em vários cômodos da casa e acionaram a Polícia Técnica que utilizando produto químico constatou ser mesmo manchas sangue.
Um policial revelou que em um quarto pequeno quando os peritos passaram o produto deu pra ver a marca do corpo do adolescente, e em outro cômodo a marca da mão da vítima. As manchas de sangue estavam espalhadas desde o segundo piso da casa até o banheiro.
Acusado afirma em tom de ironia “que família não vai velar o corpo do adolescente”
Após confirmar o local do cativeiro. através de uma pericia técnica a polícia quis saber em que local o corpo foi abandonado.
A partir desse momento Leonardo aponta mais três participantes do crime. Os ex- presidiários, Dorimar da Silva, “o balseiro” ou “Madibu”, Wellington Rodrigues de Castro e Djair de Oliveira Souza, 22 anos, o “Maluquinho”, todos moradores do bairro Seis de Agosto.
Presos os suspeitos negaram o crime e acusaram Leonardo de ter cometido o crime sozinho.
Em depoimento Leonardo Leite, conta que o corpo do adolescente foi enterrado no quintal da casa onde serviu de cativeiro.
A partir dessa informação policiais civis de várias delegacias, como DRE, Gapc,Gecapc comandados pelo delegado Cleitlon Videira, passam a escavar os locais indicados pelo acusado.
Dentro da casa a polícia encontrou um cão já em elevado estado de decomposição.
Segundo informações, o animal foi morto e deixado dentro da casa para disfarçar o mau cheiro do corpo do adolescente.
Após escavarem todo o quintal, procurar dentro de esgotos, a polícia retorna a conversa com o Leonardo que dá outra versão. Ele contou que o corpo foi envolvido em um edredom e jogado dentro do Igarapé Judia.
O corpo de Bombeiros Militar e familiares realizam buscas e não encontram nada. Novamente Leonardo conta outra versão, afirma que o corpo foi jogado em um determinado local do Rio Acre, e outra vez as buscas são realizadas sem sucesso.
Sem conseguir extrair mais nenhuma informação dos acusados a polícia concentra as buscas escavando o quintal da residência onde foi o cativeiro.
Na delegacia, em tom de ironia e de muita frieza, Leonardo afirmou que “a família não iria velar o corpo do adolescente” e se negou falar sobre o assunto, optando pelo silêncio.
Existem suspeitas de que a vítima tenha sido esquartejada
Existe uma suspeita por parte de membros da polícia que os seqüestradores tenham esquartejado o corpo do adolescente e depois jogado os restos mortais no Igarapé Judia.
Por ser considerado um crime hediondo e macabro esteja provocando essa reação dos acusados, pois acreditam que sem o corpo não exista crime.
Essa hipótese também é baseada pela quantidade de vestígios de sangue encontrado dentro dos cômodos da casa e terreno da casa no bairro Seis de Agosto, onde o adolescente vítima foi mantido em cativeiro.