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Wo soll ich hin?

Wo soll ich hin? O que será feito de mim? Esta é uma frase curta, mas de grande impacto e profundidade que Martim Lutero usou nas suas angustiosas e reflexivas horas de pensamento da condição do ser frente à liberdade do infinito e o peso das condições estruturantes e estruturadas de sua sociedade e tempo. Tal qual gigante que emerge renovado de suas íntimas aflições, Lutero não apenas percebe “o justo juízo de Deus que retribuirá a cada um segundo as suas obras” (Romanos 2, 5-6), mas também a importância e responsabilidade dos fortes para com os fracos.

Com isso, a pequena frase se torna fonte fecunda e revigorante, valiosa e consoladora da vontade e perseverança para melhorar a sociedade de sua época, mesmo indo contra grandes interesses como o poder da igreja e a nobreza alemã.

Há de certo modo um pouco de Lutero em cada um de nós e ao nosso jeito. Sabemos da injustiça e da desigualdade do mundo. Na sociedade atual não nos é negado as informações a respeito de crimes, violências e até mesmo barbáries contra o ser, como o aborto e as drogas, por exemplo. Todavia, quantos de nós tem a fé e a coragem de mudar aquilo que está errado? Quantos têm a consciência de que é preciso se sacrificar para mudar o mundo que teima em não querer mudar? Não adianta apenas criticar externamente sem mudar internamente.

Tal qual Lutero, precisamos assumir a nossa responsabilidade e o nosso papel frente as mudanças do mundo e em benefício da sociedade. Todavia, precisamos, em primeiro lugar, assumir a postura de que não somos perfeitos, mas plenamente perfectíveis. Assim sendo, é preciso que mudemos primeiro a nós mesmos. Corrigir os nossos vícios, ampliar nossas virtudes, habilitar com esmero nossas mãos no amparo e socorro ao próximo, treinar nossa língua para confortar sem humilhar ou sem afetação de superioridade. Estas são apenas algumas competências que precisamos desenvolver em nós mesmos para então estarmos prontos para a batalha. 

E quando findarmos a preparação, perceberemos que o mundo já não está mais tão cinza. Que a injustiça invariavelmente ganha ares de justiça e reeducação. Que a pobreza material é apenas fase de preparo para um novo ser.

Depois de nos graduarmos na faculdade da vida e do amor o mundo já não mais será o mesmo. E o “Wo soll ich hin?” (o que será feito de mim?) será percebido agora como “sou eu que faço o que sou de mim”.

O destino é minha responsabilidade, assim como a minha felicidade. Não existe loteria espiritual, mas apenas colheita conforme a semeadura. Plantemos a boa semente da caridade e das virtudes da alma para que possamos ser senhores de providência abundante, pois apenas aquele que tem em abundância pode ajudar os outros com mais propriedade. Nada mais lógico, nada mais justo.

 


*Paulo Hayashi Jr.
Doutorando em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

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