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Corrupção e omissão travam resgate de carros roubados na Bolívia

País mais pobre da América do Sul, a Bolívia contínua a sofrer com uma das piores seqüelas da pobreza: a corrupção nas entranhas do poder estatal. Este problema é vivenciado quase que diariamente por quem atua paralelamente à ação oficial brasileira de tentar recuperar os carros roubados no país, e vendidos ou trocados por drogas com traficantes bolivianos.


Criada em 2006, a CDS Investigações é especializada em identificar veículos furtados em todos os estados do país e que tiveram o Acre como porta de saída. A sede da empresa é em Brasiléia e tem a frente o detetive Cleomar Dirceu, que vê muitos de seus trabalhos investigativos serem travados pela corrupção e omissão das autoridades bolivianas.

Os casos mais recentes chamam a atenção. No final de 2009, a CDS identificou um Fiat Idea roubado em Curitiba (PR), atravessando o país até chegar a Cobija. Dirceu entrou em contato com os verdadeiros donos, que imediatamente enviaram os documentos para o processo de recuperação do carro ser agilizado. Com toda a documentação em mãos, as instituições da Bolívia determinaram a apreensão e repatriação do veículo.

Passados quatro meses, o Idea continua estacionado no pátio da Fiscalía General Del Estado, equivalente ao Ministério Público no Brasil. “Toda a papelada burocrática está pronta. O carro não é liberado porque um fiscal não dá o despacho”, reclama Dirceu. De acordo com ele, há especulações de que o próprio funcionário do governo teria interesse em ficar com o veículo.

Outro carro que está à espera da boa vontade das autoridades do país vizinho é um Ford Ecosport roubado em Goiânia. Seu novo “dono” em Cobija era um militar. Assim como o Idea de Curitiba, toda a documentação de liberação está pronta, no aguardo somente do aval do fiscal.

Segundo o investigador, alguns membros do governo boliviano desrespeitam acordo (5.856/06) bilateral assinado com o Brasil, que estipula em até 15 dias o prazo para a entrega dos carros.
“O decreto diz que não é necessário esperar até o final do processo para o carro ser repatriado. Comprovado o direito de propriedade, o veículo pode ser devolvido ao Brasil”, explica o investigador. 
Para ele, o Brasil tem uma parcela de culpa no problema ao deixar de cobrar que o vizinho cumpra o acordo. Ele promete que vai procurar as autoridades para que o Governo Federal seja mais enérgico diante da situação. “Se for preciso ir ao Ministério da Justiça em Brasília”.

Dirceu faz um alerta: o Acre é uma das rotas mais usadas pelas quadrilhas especializadas em roubos de veículos. Mesmo na fronteira com o Paraguai, muitos dos roubados no Paraná têm o Acre como destino. “O Paraguai já é uma rota conhecida pela polícia e os traficantes sabem que os riscos de serem pegos são bem maiores”, afirma.

A CDS identifica automóveis circulando em Cobija que saíram de todas as re-giões do pais. Paraná, São Paulo, Goiás e Rondônia lideram o número da frota ilegal em Cobija.  “O Acre é uma rota desprotegida”. Dirceu afirma ter documentos que comprovam que carros apreendidos e que estavam aos cuidados das instituições desapareceram dos pátios.

 

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