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Duas novas cachoeiras são descobertas no Parque Nacional da Serra do Divisor

O arú, formação típica da floresta úmida, de longe pode ser visto elevando-se como véu de neblina na Serra do Moa, no Parque Nacional da Serra do Divisor, quando o grito do guariba gera suspeita de que o dia será de alguma chuva. Sem sol, não será possível presenciar o arco-íris que o espectro da água fina da cachoeira conhecida como Chuveirinho cria todos os dias exatamente às 13 horas, na metade do caminho que separa as duas mais recentes – e importantes – descobertas do guia de turistas Ragemiro Oliveira Guimarães, o Miro, que do alto de sua experiência de 23 anos percorrendo a serra e seus mistérios, deixou para anunciar o achado em novembro de 2009 somente quatro anos depois do primeiro contato.

As cachoeiras do Amor e da Estátua somam para seis o número de quedas d´água até agora identificadas no Divisor e as duas foram encontradas por Miro. A cascata do Amor é praticamente uma reta de cerca de vinte metros, composta por uma piscina protegida por um anteparo de pedra que mais lembra um cânion. Desde a base do Ibama até a Cachoeira do Amor são trinta minutos de uma caminhada que passa por uma área de mata recuperada – uma capoeira de mais de 25 anos, dos tempos do primeiro morador do escritório montado pelo extinto Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal, IBDF – e segue por uma pequena corredeira de água cristalina cheia de pedras. 

Para se chegar à Cachoeira da Estátua a caminhada deve prosseguir no mesmo sentido por uma pequena trilha por mais alguns minutos até que se depare com uma parede de pedra, numa entrada que lembra uma caverna – e, ao mesmo tempo, a imagem de uma face humana, conforme a descrição do mateiro Miro. Dentro, dois lances de escadas de pau levam ao fascínio de uma das mais belas quedas d´água do Divisor. As duas novas fazem parte de um complexo composto até então pelas cachoeiras Pirapora, Ar Condicionado, Buraco Central e Formosa. A Cachoeira do Buraco é uma formação artificial, resultado das escavações que a Petrobras realizou na região em busca de petróleo nos idos de 1950. O projeto não localizou o óleo, mas deixou restos de equipamentos que acabam atraindo a curiosidade dos visitantes.

A realidade se alia mística: o Parque Nacional da Serra do Divisor (PNSD) foi criado em 16 de junho de 1989, através do Decreto 97.839, sendo composto por uma área de cerca de 843.000 hectares em cinco municípios do Alto Juruá, abrigando o ponto mais a Oeste do Brasil. Trata-se do quarto maior parque nacional no Brasil.
A área norte, mais especificamente no trecho do Rio Moa, e em particular no trecho do Moa que corta a Serra da Jaquirana, concentra atrativos que apresentam as belezas cênicas conhecidas mais exuberantes do parque, como a visão de paisagens extensas no mirante das montanhas, únicas no Estado, banhos em cachoeiras e fontes, que por serem vizinhos, oportunizam uma dinâmica de visitação rápida. Além do grande número de famílias que poderá colaborar com as visitações recepcionando e oportunizando experiências turísticas únicas nesta parte da Amazônia. 

O turismo como instrumento de inclusão social e preservação ambiental
O Acre está  no centro da Panamazônia, região integrada pelo Brasil, Bolívia e Peru, onde vivem num raio de 1.000 quilômetros, cerca 42 milhões de pessoas de diferentes culturas.

Os investimentos na promoção e infra-estrutura turística se justificam com o aumento do fluxo de turistas no Estado, demonstrado através da movimentação de passageiros pelos aeroportos, rodoviárias e fronteiras do Acre com o Peru e a Bolívia – e é uma política defendida pelos que têm contato com o parque. “O turismo vai ajudar na preservação e na melhoria de vida da comunidade que vive aqui”, afirma Miro, que está implantando uma estrutura de mini-pousada para receber visitantes.

“Isso é do nosso interesse também”, disse Benita Roktaeshel, coordenadora nacional de Visitação de Parques do Instituto Chico Mendes, o órgão responsável pela fiscalização dos parques nacionais. No fluxo internacional, de acordo com a Secretaria de Esporte, Turismo e Lazer (Setul) se observa que turistas param ou passam depois de estarem na Bolívia (o acesso aos Andes também se dá por La Paz, a partir da fronteira com Cobija, capital do Departamento do Pando, com vôos diários) ou Peru (via Puerto Maldonado). Nacionalmente, ganha cada vez mais destaque o turismo de negócios, o religioso e o sócioambiental-vivencial, ou seja, o das pessoas que viajam ao Acre com interesse de fazer negó-cios e/ou montar suas empresas por aqui, àqueles que vêem para as experiências místicas especialmente relacionados ao Santo Daime, e outros para conhecerem as experiências de sustentabilidade dos Povos da Floresta.

Nesse sentido, o Governo do Estado defende o pleno desenvolvimento também da rota Caminhos das Aldeias e da Biodiversidade, sendo que é indis-pensável que seja implantado o Plano de Uso Público (PUP), do Parque Nacional da Serra do Divisor, cuja estimativa preliminar de custo para a elaboração dos projetos, implantação e operação das atividades foi estipulado em R$ 3,2 milhões. O recurso, anunciou Benita, está assegurado no orçamento do Instituto Chico Mendes para este ano. “Ali o visitante irá encontrar uma natureza exuberante, um ambiente rico e único”, disse o secretário de Esportes, Turismo e Lazer do Acre, Cassiano Marques. A rota está se consolidando e há uma agência, a Manaaim Turismo, se creden-ciando para levar turistas ao Divisor. “Não tenho dúvida que se converterá em um grande destino de ecoturismo na região”, disse João Bosco Nunes, dono da Manaaim. 

 

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