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As queimadas e o país do verde

Enquanto o mundo manifesta uma grande preocupação com o aquecimento global, o Brasil continua sendo o país do contraste ecológico: combustíveis verdes de um lado e queimadas e desmatamento de outro. E para agravar, ainda é um país de muitos cidadãos e suficientes políticos silentes e coniventes. Está na hora de mudar e fazer a diferença.

O sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (DETER), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), apontou um desmatamento por corte raso ou degradação progressiva de 103.5 km2 na Amazônia Legal em março e abril. Como a detecção depende da visibilidade do solo, a observação por satélites no período das chuvas é prejudicada por causa do excesso de nuvens, a divulgação dos resultados do DETER é feita a cada bimestre. Por causa disso e da resolução dos satélites, esses dados não apresentam o desmatamento real da floresta amazônica e não servem para se fazer comparações entre meses e anos. Isso reforça ainda mais a necessidade do Brasil investir em um satélite com radar. Mais detalhes do desmatamento podem ser conferidos no site do DETER.

Em maio último, o INPE e a Fundação SOS Mata Atlântica divulgaram os dados parciais do “Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica” para o período de 2008-2010 em que apontam que, nestes anos, foram desmatados mais de 20 mil hectares da floresta. Apesar da Mata Atlântica estar presente em 17 Estados, em somente nove foram analisados o desmatamento, ou 72% da área total do Bioma Mata Atlântica. Os Estados do Nordeste não puderam ser incluídos nesta atualização devido à grande quantidade de nuvens. Que falta faz um satélite com radar. Porém, espera-se que todo o trabalho possa encerrar até o final deste ano. Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina foram os que mais desmataram no período, sendo que os cinco municípios que mais perderam cobertura florestal nativa são de Minas Gerais. Espera-se para o final deste ano o fim do trabalho..

Embora a Amazônia e a Mata Atlântica mereçam nossa atenção, não podemos nos esquecer do cerrado, do pantanal e da caatinga, habitat de muitas plantas e animais. E o alerta final vem de outra pesquisa do INPE realizada conjuntamente com cientistas da Universidade de Exeter, no Reino Unido. O trabalho analisa o aumento de queimadas em áreas da Amazônia onde diminuiu o desmatamento. Os pesquisadores alertam que também os incêndios devem ser observados para a Redução de Emissões pelo Desmatamento e Degradação Florestal (REDD).

Analisando as imagens de satélite de 1998 a 2007 e os registros de incêndios florestais, os autores constataram que a ocorrência de queimadas cresceu quase 60% na região onde foram detectadas as menores taxas de desmatamento. O INPE vem demonstrando grande capacidade em suas atividades, e espera melhorar ainda mais seus serviços, esperando do governo, dos políticos e do povo o devido reconhecimento e investimento.

  *Mario Eugenio Saturno, de Bariloche – Argentina, é Tecnologista Sênior do Instituto 
  Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), professor universitário e congregado mariano.
(
mariosaturno@uol.com.br)

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