Maria Ambrósio Rego, 45, mãe da estudante morta durante uma blitz de trânsito em Rio Branco, revelou ontem à imprensa que recebeu um aceno intimidador do policial militar Francisco Moreira, no momento em que se dirigia à sala da Vara do Tribunal do Júri Popular de Rio Branco, para prestar depoimento ao juiz Leandro Leri Gross, na última quinta-feira, 17.
“Ele fez um aceno para eu calar a boca e não culpar ele. Foi no momento em que eu ia entrando na sala do juiz, ninguém viu, só não contei para o juiz na hora porque me disseram que era só para responder o que fosse perguntado, agora recebo a notícia de que ele está solto. Meu Deus! Porque estão fazendo isso comigo”, desabafou.
Moreira tem um filho com a irmã da mãe de Edna Ambrósio e responde pela morte da estudante, na modalidade de homicídio qualificado, junto com o também policial militar Moisés da Costa Silva. Presos desde o dia 25 de fevereiro deste ano – data da ocorrência – ambos foram colocados em liberdades, na última quinta-feira, em virtude da fragilidade dos indícios de autoria apontados até agora nos autos.
Notícia essa que também foi recebida com tristeza pela mãe de Edna. “Tudo isso é muito doloroso para mim, minha filha sim está presa, ela morreu e nunca mais vai voltar”, diz abalada. Em relação à possibilidade de exumação do cadáver da filha, ela responde em lágrimas: “peço a Deus força e sabedoria para suportar tudo isso”.
Maria Ambrósio não acompanhou a audiência de instrução até o final e tomou conhecimento das novas medidas adotadas pelo juiz Leri Gross através da imprensa. Bastante abalada, ela voltou a clamar por justiça e pediu mais uma vez que não deixem à morte da filha impune. “A Justiça do homem pode ser cega, mas a de Deus está de olhos bem abertos”, observa.
MP pediu retificação do laudo pericial
A pedido do Ministério Público Estadual (MPE) o laudo pericial do Instituto Médico Legal (IML) foi retificado. A medida, segundo o promotor Rodrigo Curti, foi para corrigir o número de perfurações encontradas no corpo da estudante. “Foram detectados ferimentos no dorso de uma das mãos da vítima que não apareciam no laudo inicial”, diz.
De acordo com o promotor, também existe a possibilidade dos disparos terem partido de outros tipos de armas além dos fuzis já analisados pela perícia. Algumas perfurações, por exemplo, só poderias ter sido feitas mediante disparos de revólver.
Para suprir as dúvidas novas diligências foram determinadas. Caberá ao MP indicar os centros técnicos do país para a realização das novas perícias. O prazo é de 15 dias, só a partir de então o juiz Leri Gross poderá dar seqüência ao interrogatório das testemunhas.
Uma das dúvidas que a nova perícia vai esclarecer é se existe ou não fragmento de asfalto nos projeteis. “Nós queremos saber se a ação foi legítima ou criminosa”, argumenta Curti, se referindo ao fato dos PM alegarem que atiraram em direção ao asfalto e que as balas teriam ricocheteado e acertado a jovem.
A realização da exumação do cadáver da estudante para a retirada de pedaços de projetéis é quase certa. O dia e o horário ainda serão determinados pelo juiz, que previamente deve conversa com a mãe da vítima. Para o MP tudo que ajudar a mostrar a verdade dos fatos é válido.
Uma cópia dos depoimentos prestados ao juiz Leri Gross foram encaminhadas à Promotoria Especializada de Controle Externo da Atividade Poli-cial, para que sejam averiguadas as precárias condições técnicas e de instrumentos de atuação nas atividades militares, especialmente nas atividades do trânsito, demonstradas nos autos. O último curso de especialização nesse sentido teria ocorrido no ano de 2000, há exatos dez anos. (D.A.)