Sob as atenções especiais de prefeituras do Brasil inteiro, a empresa Callil & Valle Ltda realizou ontem, às 17h, a solenidade de inauguração da primeira fábrica de sua maior invenção: a Luz Espelhada. A cerimônia detalhou o crescimento do projeto diante de parceiros, arquitetos, empresários, técnicos do Governo e da Prefeitura de Rio Branco, além de vários outros interessados na idéia (produzir mais luz com menos energia).
Construída numa área de 3.300 m2, a fábrica está sendo estruturada há quase 40 dias, já tendo gerado mais de 350 luminárias em 6 modelos. Nesta fase inicial, a usina consegue produzir apenas de 80 a 110 peças por dia, com 12 máquinas e 8 operários (empregos).
Contudo, é questão de dias até que o pedido das novas máquinas (como a estampadeira) chegue e eleve a capacidade de produção para 1.000 luminá-rias/dia. No fim, a meta é fazer até 2.000 peças/dia, com mais de 25 operários (triplo de empregos). O prédio está localizado na Rua Boulevard Augusto Monteiro, ao lado de uma garagem de ônibus.
Segundo o idealizador do projeto, Alceste Arlindo de Castro, a partir da inauguração da fábrica será possível estender a produção da Luz Espelhada, receber os pedidos para as luminárias e avaliar as sugestões da comunidade. Ou seja, trata-se do 1º passo para que a idéia se espalhe por todo o Acre, pelo país e, quem sabe, até pelo mundo. Inclusive, em julho e agosto o produto será mostrado na Expo-acre e até na Expo Peru.
“Estamos com as melhores expectativas de que o projeto consiga atingir a escala global. Isso seria um grande reconhecimento para o Acre e um benefício maior ainda para o planeta, já que a Luz Espelhada usa lâmpadas frias e gera uma economia de energia até 66% menor do que as demais fontes de luz quente”, comenta um empolgado Alceste Castro.
E a sua animação não é para menos. Conforme o seu filho, Alessandro, sócio da Callil e Valle, várias empresas públicas e privadas estão de olho nos avanços do projeto. Muitas delas (Acreplast, Saerb, Deracre, Atacadão RB, prefeituras locais e de São Paulo) até já começaram a fazer suas primeiras encomendas e testes junto à nova fábrica.
“A procura é grande devido à praticidade, baixo custo, resistência, inovação e, acima de tudo, compromisso sócio-ambiental da luminária. Para se ter uma idéia, ao se comparar a Luz Espelhada com as de vapor de sódio é possível ver que a sua eficiência é 238,6% maior. Isto é, se trocássemos os postes de Rio Branco, a quantidade de energia que a cidade gasta em 1 ano duraria quase 2 anos e 5 meses com a nossa luz”, diz Alessandro.
Alceste Castro e seu filho também contam que outro impulsionador do projeto pode ser o estudo que está sendo realizado pelo maior centro de pesquisas da Eletrobras, o Cepel. De acordo com eles, o centro está testando os modelos da Luz Espelhada e deve emitir um relatório completo para todo o Brasil. O documento deve sair daqui a um mês. Se for positivo, certamente ele deve atrair ainda mais interessados à luminária acreana.
O funcionamento da luz espelhada
De acordo com o gerente comercial da Callil & Valle, Hélio Campelo, a Luz Espelhada (ou ‘luz ecologica’), parte do princípio de que é possível gerar mais luminosidade com menos energia e calor. A grosso modo, consiste numa luminária feita de aço e revestida internamente com um jogo de espelhos. Neste conjunto, acrescenta-se uma lâmpada fluorescente sem reator (item comum em postes públicos e maior causador do calor).
Ao ligar a lâmpada, os espelhos irão refletir a luz, multiplicando a sua intensidade, mas sem alterar a quantidade de energia que ela gasta normalmente. Em síntese, os espelhos da luminária potencia-lizam a claridade gerada pela lâmpada, num processo frio.
Usando tal tecnologia, a Callil & Valle produziu 6 modelos: a Luminária Espelhada Interna (LEI: indústrias, condomínios e galpões); Tripla (LET: praça e estacionamento); Grande (LER: ruas, rodovias, praças, etc); Pequena (LEP: mesma utilidade); e mais dois modelos diferentes da LEI e da LER. Segundo Hélio, até as hastes de aço são feitas aqui.
Da idealização bruta até a produção em larga escala
A luz ecológica foi idealizada por Alceste de Castro em 2005, após ler um artigo de um cientista russo que tentava lançar um satélite de espelhos para aumentar a luminosidade sobre a Sibéria. Alceste montou o projeto com um investimento de R$ 800,00 e o levou ao prêmio regional do Finep de 2006, ficando em 3º lugar. A partir daí, a Luz Espelhada recebeu o apoio da Funtac (através de César Doto) e do Sebrae para evoluir.
Após 5 anos de aprimoramentos técnicos e práticos, a iniciativa superou a confecção e outras deficiências obsoletas. Agora, a tecnologia está mais do que pronta para a produção em larga escala, fase de desenvolvimento marcada pela nova fábrica. Segundo Alessandro Castro, a maior parte do investimento foi de iniciativa particular e, ao longo destes quase 5 anos, tais recursos já giram em torno de R$ 600 mil (um preço pequeno para os benefícios sócio-ambientais e o retorno comercial que a luz pode trazer).
Restrição: iluminação pública e ambientes grandes
Apesar de todas as vantagens, é importante ressaltar que a Luz Espelhada ainda é um projeto específico à iluminação pública (ruas, rodovias e praças) e ambientes amplos (prédios, condomí-nios, galpões, etc). Por enquanto, a luminária ainda está sendo feita sob 6 modelos que geram alta luminosidade desproporcional aos ambientes internos.
Mas isso não quer dizer que futuramente a idéia não possa ser adaptada. Conforme Alceste Castro, o maior objetivo agora é fazer com que a Luz Espelhada consiga suprir a demanda do mercado de iluminação pública. Quando esta parte estiver consolidada, aí sim os maiores esforços serão os de levar a tecnologia para os cômodos das casas, apartamentos, lojas e outros ambientes menores. Para tanto, ele conta que até a metade do próximo ano já deva sair algumas novidades nesse sentido.