X

Acre será o único Estado com apenas um turno para governador

A retirada da candidatura majoritária ao Governo do PMDB significa a consolidação de um quadro eleitoral acreano completamente diferente do resto do Brasil. No Acre, há uma espécie de retorno aos tempos pós-ditadura, quando a Arena e o MDB disputavam as cadeiras parlamentares no Congresso Nacional para indicar o presidente da República. O bipartidarismo voltou ao Acre, não mais através de dois únicos partidos, mas de duas grandes frentes partidárias que podem ser traduzidas em governistas, comandados pelo PT, a Frente Popular, composta por 14 partidos, e oposicionistas capitaneados pelo PSDB, numa coligação de oito partidos.  A pluralidade política partidária prevista na Constituição de 88 condensou-se no Acre nessas duas frentes. Qualquer possibilidade do surgimento de uma terceira via no pleito de 2010 foi sepultada junto com a candidatura ao Governo de Rodrigo Pinto (PMDB).

O Acre será o único estado brasileiro onde a eleição para governador será em apenas um turno. Quando se instituiu as eleições em dois turnos era para que as pluralidades de correntes partidárias e ideológicas pudessem fazer um debate amplo e democrático num primeiro turno. No segundo turno, as alianças seriam constituídas de acordo com as identificações das maiorias. Aqui essa possibilidade foi simplesmente abortada. As frentes partidárias da situação e da oposição terão necessariamente apenas um embate definitivo no primeiro turno. Algo parecido com as eleições norte-americanas, entre os Democratas e os Republicanos. O eleitor votará no projeto de continuidade ou de oposição. Não haverá alternativa.

No futebol, uma partida só termina quando o juiz apita o final do tempo regulamentar. Enquanto a bola estiver rolando qualquer um dos times poderá vencer, mesmo que haja um grande favoritismo para um deles. Numa eleição, é a mesma coisa. Enquanto os eleitores não depositarem os seus votos e o TRE não fizer a contagem ninguém está eleito. Mas é difícil não imaginar um largo favoritismo para o candidato Tião Viana (PT) na disputa contra o seu adversário Tião Bocalom (PSDB). Se nenhum fato ultra-novo e surpreendente surgir durante a campanha, dificilmente teremos uma surpresa. Mas, como no futebol, é melhor esperar o apito do juiz ou o julgamento final dos eleitores. Não existe vitória antecipada. 

Alternativas na disputa ao Senado
No entanto, as duas cadeiras acreanas ao Senado serão bastante disputadas. Nessa eleição polarizada entre as duas frentes políticas tudo indica que uma das vagas está consolidada. Dificilmente o ex-governador Jorge Viana (PT) deverá deixar de ser eleito. Por outro lado, os deputados Edvaldo Magalhães (PCdoB) e Sérgio Petecão (PMN) deverão ser os protagonistas de uma disputa acirrada e emocionante pela segunda cadeira. É nesse quadro que me parece que o debate ideológico deverá ser mais intenso. Corre por fora o ex-deputado João Correia (PMDB). Mas é difícil analisar as suas reais chances depois de tantos lances antagônicos e contraditórios produzidos pelo seu próprio partido.  

Os dois candidatos favoritos à segunda cadeira terão que mostrar à população do Acre as suas qualidades e razões para representá-la no Senado. Será o discurso da defesa de um projeto de continuação política e administrativa contra o discurso afiado da oposição. O interessante é que os dois políticos têm trajetórias similares. Fizeram seus nomes dentro do início do processo de formação da FPA. Se uniram à coligação quando ninguém ainda imaginava que ela poderia se manter no poder por tanto tempo. Presidiram a Assembléia Legislativa do Estado e procuraram novos caminhos para a expansão das suas carreiras políticas. Um negando radicalmente o projeto do qual fez parte e o outro afirmando e mostrando a sua lealdade à gestão da FPA. O interessante é que a origem das informações que Edvaldo e Petecão apresentarão aos eleitores vem da mesma FPA. Um negando e o outro afirmando. Sem dúvidas, uma disputa que reserva grandes lances de criatividade política.

A corrida para a Câmara Federal
Este será outro espaço eleitoral onde as disputas e os debates ideológicos deverão ocorrer com maior intensidade. É fato que para um Estado que só tem 8 cadeiras na Câmara uma eleição a deputado federal é quase uma disputa majoritária. Na minha opinião, só tem mesmo chance nessa disputa nomes conhecidos pela opinião pública acreana. Acho muito difícil que haja zebras ou surpresas. É preciso ter forte estrutura para fazer uma campanha a deputado federal no Acre. Só propostas, boas intenções e dinheiro não são suficientes. A corrida é mais complexa.

Antes de qualquer coisa é necessário ter uma boa articulação política nos 22 municípios. Apoios nos diversos setores da sociedade que garantam uma votação expressiva. Só o movimento necessário para essa articulação já pressupõe o fator de estrutura econômica para suportar uma campanha em movimento por todo o Estado. Achar que apenas um segmento social seja religioso, sindical ou comunitário irá eleger um candidato é um erro. É talvez a eleição mais difícil no Acre.

Deveremos ter em torno de 40 ou 50 candidatos a federal. Desses acredito que apenas 10 ou 12 tenham reais chances de saírem vitoriosos. Os outros servirão apenas para reforçar as legendas no intuito de conseguir coeficiente eleitoral. A FPA que atualmente tem 5 das 8 cadeiras irá lutar para ampliar a sua bancada. A oposição dispensou a candidatura majoritária do PMDB justamente para ter chances de eleger pelo menos mais um deputado federal. Mas a façanha me parece complicada com a saída do deputado Ilderlei Cordeiro (PPS) e de Sérgio Barros (PSDB).

Os candidatos da FPA dominam essa premissa de personagens políticos mais conhecidos da população. Perpétua Almeida (PCdoB), Gladson Cameli (PP), Fernando Melo (PT), Thaumaturgo Lima (PT), Sibá Machado (PT), Henrique Afonso (PV), Leonardo Brito (PT) e Jessé Santiago (PSB) protagonizaram fatos importantes na recente história política acreana. Por outro lado, a oposição tem dois nomes muito conhecidos: Flaviano Melo (PMDB) e Márcio Bittar (PSDB). Correm por fora Antonia Lúcia (PSC), Major Deodato (PMDB), Aldemir Lopes (PMDB) e Thelma Pascoal (PMN). Como as convenções oposicionistas ainda não foram realizadas poderão surgir ainda outros nomes importantes.

Mas a questão da eleição para governador e presidente da República irá interferir diretamente na formação da bancada federal acreana. A lógica é que o candidato ao governo que crescer mais durante a campanha deverá arrastar o maior número de candidatos a deputado federal. Também o desempenho dos presidenciáveis no Acre poderá alavancar candidaturas à Câmara. Portanto, é uma série de fatores combinados que vai abrir o caminho da vitória aos postulantes ao Congresso Nacional.

Enxurrada de candidatos
Agora, outra eleição complicada será para as 24 cadeiras da Aleac. Como é possível fazer prognósticos com quase 500 candidatos? Fica difícil. Falar em debate de idéias nem pensar porque no pleito estadual temos muito mais os votos familiares do que ideológicos. Num Estado com pouco mais de 400 mil eleitores quase todo acreano terá um parente, um amigo ou um vizinho candidato à Aleac. Isso significa uma pulverização grande da massa eleitoral. Acredito que o candidato mais votado do pleito não deverá ter mais do que seis mil votos. Mas nesse quadro aqueles que irão à reeleição levam enorme vantagem. Afinal são 4 anos de exposição na mídia e favores prestados.

É nessa eleição também que acontece o maior número de irregularidades como a compra de votos. O TRE deve fazer uma fiscalização rigorosa. Ainda que eu ache difícil o controle de tantos candidatos espalhados pelos 22 municípios. Zebras e surpresas poderão acontecer. Nomes desconhecidos da mídia deverão aparecer para assumir vagas na Aleac. O problema é saber o nível desses novos deputados que formarão a nova Casa Legislativa acreana. Mas isso já é um novo capítulo pós-eleitoral.

 

Categories: POLÍTICA
A Gazeta do Acre: