Jorge Carlos Amaral de Oliveira, o Mané do Café para os portugueses ou o Jorge Carlos (ou João Maiara) dos acreanos, traz mais uma produção artística ao público. Desta vez, o já lançado, em Portugal, romance intitulado Café. A nova obra tem na capa uma releitura de Cândido Portinari da safra de Mané pintor. Além de pintor, Jorge é ator, poeta, compositor, cantor… são várias e diversas facetas que estão presentes nesse seu mais recente trabalho escrito.
Café tem como eixo narrativo a história de Júlio, um carioca que herda uma fazenda da família e lá resolve plantar café. Ao redor desse personagem e de todas as dificuldades para manter sua produção de café em períodos difíceis da política brasileira, há outras personagens que vivem o Brasil do período Vargas ao golpe militar de 64. É nesse período que Jorge Carlos centraliza a trama de sua mais recente obra.
O que pode ser encontrado no interior do texto revela, de fato, a versatilidade de Jorge Carlos, em suas multifacetas artísticas. O narrador do enredo auxilia Júlio na sua trajetória em vivenciar as diversas possibilidades de se conhecer, vender e usar o produto café. Nele, podemos conhecer a origem do produto, sobre como caiu no gosto de reis e plebeus pelo mundo a fora, sem deixar de reverenciar, através de seus personagens, a importância do produto para as relações de camaradagem e amizade que é peculiar do brasileiro ao servir sempre a uma visita o precioso licor.
No início da narrativa, Jorge Carlos presenteia o leitor com um soneto sobre o tema do livro, e convida a participar de sua trama o histórico ator brasileiro Procópio Ferreira que recita o poema. Paralelo aos anônimos Ademir José, Edite, Cesarina vamos encontrar Roberto Lyra Filho (jurista brasileiro crítico do direito), Millôr Fernandes (escritor brasileiro renomado), João Goulart (ex presidente do Brasil) e, em alguns momentos, o então presidente da Republica, Getúlio Vargas, com quem o personagem dialoga.
Seguindo aos relatos sobre o produto café, nos deparamos com um longo poema: O Inventor do Café “Depois de tomar gostosa caneca/ De café, interrogava Maneca: Quem é quem inventou bebida tão boa/Que, de manhãzinha, mãezinha côa?”… Por esses meios, Jorge vai apresentando ao leitor uma verdadeira enciclopédia sobre café: causos, canções, pautas musicais, receita de bolo e de licores, as mandingas e as superstições sobre o produto, sempre mostrando sua importância para a economia do Brasil especialmente no período da era Vargas.
Deparamos-nos, ao longo da obra, com uma escrita que carrega fortes traços lingüísticos de um brasileiro que convive com a língua portuguesa falada em Portugal. Jorge vive a mais de vinte anos em Lisboa. Há também um forte traço do homem de teatro, que é característica marcantemente presente na forma dialogal das personagens. Essa história de vida entremeada com tramas amorosas e história do café por certo que despertará curiosidades aos seus futuros leitores que ainda não conhecem a escrita desse versátil artista não apenas do Acre, do Rio de Janeiro e de Lisboa, mas do mundo.