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O Cientista Altruístico

É inegável o desenvolvimento e progresso da Terra e do Homem por meio da ciência e da inteligência. Todavia, no atual patamar tecnológico, será que apenas a inteligência é caminho seguro para continuar o avanço da Humanidade? Esta é uma pergunta importante, pois nos remete a uma reflexão mais profunda sobre a condição humana, sua história e também as próprias possibilidades de desfechos daqui para frente, haja vista que os impactos negativos podem ser muito mais destrutivos do que em tempos anteriores. A palavra fracasso pode significar a perda de muitas vidas e também, quem sabe, do próprio fim da civilização. A responsabilidade é tremenda e a discussão da ética e da moral não pode ficar apenas no papel, pois este, tudo aceita. “A letra mata, o Espírito é que dá a vida” (Paulo de Tarso – 2 Coríntios 3, 6).

Assim, na minha humilde opinião, apenas a inteligência não é suficiente para garantir um caminho seguro para a Humanidade. Entretanto, não é para se desprezar a inteligência, mas complementá-la com a ética e a moral. É necessário que os cientistas atuais comecem a perceber que apenas assim a Humanidade terá melhores condições de progresso. Inteligência e moralidade.

É preciso desenvolver não apenas novas e mais sofisticadas teorias, mas também cientistas preocupados com a aplicação social. Não é a busca restrita por novos conhecimentos, mas novos e melhores conhecedores. Além disso, a ética e a moral não são atividades especulativas, mas práticas vivenciadas de respeito e de bom relacionamento com o próximo e consigo mesmo. De nada adianta a hipocrisia de ser ético e moral no papel, mas sem comportamentos práticos que corroborem e reforcem a reforma íntima do ser. Desta forma, os próprios professores terão que refletir e repensar seus papéis em sala de aula, haja vista que os mesmos são elementos-chaves na difusão e fomento da ciência. Não haverá mais espaços para professores hipócritas ou egoístas, pois é o egoísmo e o orgulho que mais ameaçam o desenvolvimento e a própria sobrevivência do Homem.

Quantas invenções e descobertas já não foram usadas de maneira inadequada apenas para satisfazer o egoísmo e o orgulho de poucos?! Quanto desgosto não sentiu Santos Dummont ao ver seu invento, o avião, usado como arma de guerra em pleno século XX?! Ou então o arrependimento de Oppenheimer, o cientista-chefe do projeto Manhattan, ao explodir o cogumelo atômico que matou mais de 200 mil pessoas na 2º Grande Guerra?

Em 1996 foi aberta uma nova avenida de possibilidades (positivas ou negativas) para a Humanidade com a clonagem da ovelha Dolly e creio que esta data seja um marco inicial, mas não final, para a relação inteligência-ética-moral na ciência moderna. Na verdade, tal tripé sempre foi ponto de reflexão e disciplina dos Antigos pensadores e humanistas. É preciso novamente perceber e reconhecer que o egoísmo e o orgulho não são combustíveis para o desenvolvimento da ciência, mas seus espinhos. Como bem representou o poeta persa Omar Khayyam em seu famoso Rubayat:

 
“Eu minha alma enviei pelo espaço sem fim
Para um traço aprender do misterioso Além.
Minha alma devagar foi retornando a mim
E disse: “Eu sou o Céu como o Inferno também”.

 

*Paulo Hayashi Jr.
Doutorando em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

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