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Precisa-se de novos ícones culturais

É sério! Nada contra o Mapinguari, a Caipora ou a Mãe d’Água, mas já chega de ver sempre só estes três personagens nas festas folclóricas/culturais do Acre. Num Estado cheio de histórias, diversidade e lendas, por que é tão difícil apostar na construção de novas figuras para enriquecer a cultura popular? Tá certo que os clássicos não devem ser esquecidos, mas não há nada de errado em fazer com que o povo tenha novidades.

Nesta semana que marca estudos, obra literária e até um simpósio internacional sobre os geóglifos acreanos, é impossível não reacender este debate (infelizmente ignorado por muitos). É inaceitável saber que aqui há riquezas tão grandes que despertam o interesse de cientistas do mundo todo, mas que não são reconhecidos por nem 10% da população. 

Honestamente, o que você sabe sobre os geóglifos? Ou sobre os animais pré-históricos que habitaram esta terras há milhares/milhões de anos? Que tal aqueles jacarés gigantes (Purus-saurus brasiliensis, mais de 15m) que botariam qualquer dinozinho do Jurassic Park no chinelo? Quase na-da. Não se culpe, afinal, em quantos carnavais você já viu caracterizações, bonecos ou carros alegóricos (mesmo uma pinturinha) sobre eles?

Já ficou tão convencional apostar nas mesmices de ícones, que pouco (ou nada) se faz para a construção de novas figuras folclóricas/culturais. Só pode ser essa a explicação para este ‘descaso’ com as demais riquezas acreanas, porque certamente não é porque elas não são interessantes o suficiente para agradar o povo (qual criança não gostaria de ver a réplica de um jacaré colossal no Carnaval para perguntar sobre ele ao seu pai?)

Além disso, não dá pra engolir aquela de que não são ‘populares ou históricos’ bastante pra virar famosos. É impossível algo cair no gosto popular se não tiver exposição ampla, assim como é impossível transformá-los em história (o que os geóglifos e os bichos pré-históricos já são) se ninguém começar a inseri-los no cotidiano atual do povo.

Portanto, fica aqui um apelo para que se comece, quanto antes, a construir novos ícones culturais e folclóricos para o crescimento intelectual/popular dos acreanos, a fim de que não se desgastem mais sempre as mesmas figuras. É hora de valorizar também o que os outros mais valorizam e deixar o povo conhecer para defender o que é imaterialmente único das nossas terras. Chega de perder o que vale a pena pelo desconhecimento!

* Tiago Martinello é jornalista.
E-mail: sdmartinello@gmail.com.

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