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Tarauacá e a violação das urnas na eleição de 1934

Na eleição de 1934, quando, no Acre, disputavam as duas únicas vagas de deputado federal os partidos da Autonomia e Chapa Popular, tendo como candidatos os doutores Hugo Ribeiro Carneiro e Mário Donato de Oliveira, pelo primeiro, e José Tomás da Cunha Vasconcelos e Alberto Augusto Diniz, pelo segundo, Tarauacá viveu a campanha eleitoral mais agitada de toda sua História Política, na qual as principais famílias do lugar ficaram intrigadas entre si, pondo fim, assim, ao clima de perfeita harmonia ali existente, a par de efetivas atividades artístico-culturais , que, por sua vez, a partir daí, jamais foram reatadas no município.

Dentre  as muitas atribulações havidas em prejuízo da ordem e tranqüilidade da campanha, um fato superou todos os demais, sendo suficientemente grave para anular a eleição, na qual havia saído vitoriosa a Chapa Popular.

Na época, as urnas eram enviadas através dos correios, via fluvial, para Manaus, onde se dava a apuração.

Desta forma, concluída a votação, as mesmas foram remetidas, em um batelão, sob a guarda de um funcionário dos Correios, devendo, em Eirunepé – Amazonas, serem transbordadas para uma embarcação de maior porte, que as conduziria até o destino.

Convencidos, desde logo, de que haviam perdido a eleição e não conformados com a situação, os autonomistas vislumbraram, nessa circunstância, a possibilidade de fraudar os resultados por meio de violação das urnas durante a viagem, tarefa a que fora incumbido o próprio postalista, que, sendo adepto da mesma sigla partidária, não foi difícil convencê-lo a aceitar a missão.

Vale  mencionar, por oportuno, que nessa época as urnas eram de madeira e, como tal, facilmente violáveis.

A verdade é que, ao chegarem à Manaus, e, uma vez constatada a violação, a eleição do município de Tarauacá foi anulada e outra marcada para o ano seguinte, na qual o eleitorado, para contrariedade dos autonomistas, mais uma vez deram a vitória aos populistas.

Estes, os populista, não tiveram, no entanto, muito o que comemorar porque, com a vinda do Dr. Martiniano Prado para o governo, este nomeou interventor para o município, um tal professor Urbano que, segundo diziam, foi trazido dos cafezais de São Paulo, onde era feitor e, ao assumir o cargo, de pronto chamou a si a tarefa de vingar os derrotados, praticando, contra os populistas, uma série de estripulias, dentre as quais, a de açoitar, de rebenque de chifre – apetrecho do qual nunca se separava – um comerciante sírio que, a pedido dos populista, havia caído na asneira de assinar, contra ele interventor, uma denúncia ao governador, que, por sua vez, não hesitou em retransmitir a denúncia ao seu preposto, para que dela bom uso fosse feito.

Consta que, ao usar a chibata contra o comerciante, o truculento interventor comunicou o fato ao governador nos seguintes termos: “Comunico a Vossa Excelência que, nesta data, apliquei a lei Chico de Brito contra o fulano de tal, por estar subvertendo a ordem no município”. O governador, por sua vez, agradeceu a gentileza da comunicação. Denunciado, no entanto, pelo promotor, o atrabiliário interventor deixou às pressas o município. ( O fato em referência é citado no livro “A Luta Contra os Astros “, de autoria do articulista ).

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