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Acre passa por situações climáticas históricas nos meses de julho e agosto

Fumaça cobrindo o céu, tempo seco e intensas ‘friagens’. A conjuntura climática dos últimos 2 meses pode ter surpreendido muitos acreanos, mas certamente não chega a ser surpresa para pesquisadores meteorológicos.
Rio-Seco23
Acometido de várias ações climatológicas, o Estado não passava por determinadas situações há anos, décadas, da sua história. Uma prova real da ‘força’ da natureza, com a sua capacidade única de modificar as condições atmosféricas e causar fenômenos que devem ser sentidos por todos até final d setembro.

Segundo o meteorologista Davi Friale, o dia 19 de julho marcou 9ºC na Capital, com sensação de 3ºC: recorde de frio dos últimos 20 anos. Outro tabu quebrado mês passado foi na temperatura mensal, com mínimas de 17ºC e máximas de 29ºC, isto é, -1,5º C abaixo da média histórica de julho.

A razão de tantas quedas na temperatura de julho (seguidas em agosto) foi a constância de frentes frias que chegaram aqui. E o pior é que o Acre ainda está propenso a receber ‘friagens’ até o próximo mês Com isso, mais fumaça (oriundas das queimadas de fora e das locais) deve ter condições favoráveis para reinar sobre a região.

Com a fumaça, adia-se a incidência de chuvas, isto é, o clima continuará seco e a Capital seguirá rumo à sua pior seca desde 2005. Assim, forma-se uma verdadeira cadeia de reações atmosféricas.    

“Desde o final de 2009, havíamos anunciado que 2010 seria um ano de seca severa e de frio recorde. Analisando as condições do clima à época, através da observação detalhada e prolongada da circulação global da atmosfera em altos, médios e baixos níveis, bem como da variação da temperatura dos oceanos Pacífico e Atlântico, foi possível chegar a essas conclusões. Não se trata de nenhuma anormalidade, já que a natureza climática é cíclica, ou seja, tem períodos quentes e períodos frios”, destaca o professor de Física.

Para ter idéia do clima saturado de seca, agosto começou com umidade relativa do ar em 41% (1) e 53% (2), mas esta semana chegou à marca histórica de 27% (18). A média de UR no mês é de 39,45% (até 20).

Quanto ao volume de chuvas, Rio Branco teve apenas 165 mm desde abril até julho. No mesmo período de 2005, ano da ‘Grande Seca’, foram 310 mm de precipitação (+ 87%, quase o dobro). Em agosto, tal volume é só de 3,5 mm na cidade, o que fez com que o nível do Rio Acre ficasse abaixo de 2 m nos últimos dias.

Em síntese, a Capital acreana, assim como outras cidades de toda  região Norte, continua como um verdadeiro ‘barril de pólvora’, pronto para explodir a qualquer faísca.

Boletim dos focos de calor: 1.846 até 21/08/2010
Conforme o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Acre já registrou 1.846 focos de calor (queimadas relevantes, maioria no campo) neste ano, desde 1º de janeiro até ontem, 21/08.

O número é o maior desde 2005, quando o Estado tinha 6.695 focos na mesma data (362% a mais, situação quase 4 vezes pior) e fechou ano com 28.784 focos. As cidades que mais contribuem com queimadas locais são: Rio Branco (85), Quinari (173), Feijó (185), Sena (146), Tarauacá (158), Rodrigues Alves (138) e Plácido (115).

Em contrapartida, o Governo estadual tem adotado uma série de medidas para combater queimadas e a grande concentração local de fumaça. Desde meados de junho, os órgãos ambientais do poder público passaram  intensificar ações de prevenção e repressão, com monitoramento diário dos focos (sala de situação), fiscalização do Imac/Ibama em zonas rurais e de prefeituras em perímetro urbano, alternativas para o uso do fogo e suspensão de licenças para queimas legais. Nesta semana, o governo ainda fechou parcerias com o MPE/MPF, com a Polícia Federal e com as prefeituras dos 22 municípios acreanos.

Mas o combate não estaria completo caso não se estendesse à fumaça que vem de fora e que, aliás, é a maior causadora do domínio de cinza que toma conta do céu acreano.

De acordo com o secretário Eufran Amaral (Meio Ambiente), o Estado recebe fumaça de 5 mil focos de calor do sul do Amazonas, de 9 mil focos de Rondônia e dos mais de 25 mil focos da Bolívia (que contribui com cerca de 60% da fumaça local).

“Por isso, já fizemos contato com os governos vizinhos. Os rondonienses já decretaram Estado de Alerta Ambiental desde esta semana e os amazoninos prometeram ampliar as fiscalizações nas suas regiões ao sul.

Já com bolivianos a situação é mais delicada, pois se trata de um país com cultura, política e legislação bem diferentes das nossas, mas eles também devem sensibilizar mais a sua população sobre as queimadas”, finaliza Eufran.

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